sábado, 30 de abril de 2011

Amor sem tempo... amor sem fronteiras

AMOR SEM FRONTEIRAS AMOR SEM TEMPOS
Antes de ler o que aqui deixo relatado quero que me façam uma promessa:
Quem por ventura ler todo este texto terá consigo uma jura a cumprir, a jura de acreditar no amor acima de tudo e além da própria vida e do próprio tempo como se nada fosse impossível. Como se a realidade se transformasse em sonho e o sonho em realidade e então amar fosse mesmo romper fronteiras de vida, tempo e mundos. Jure isso e então continue.
 Tudo permaneceu escondido por muitos e muitos anos, mas agora minha consciência começa a pesar, não que eu tenha feito algo de errado, não é isso, mas é o segredo que guardo que me faz sofrer algo que nem ao menos posso explicar.
Na verdade tudo começou no ano de 1979 quando meu irmão, um arqueólogo iniciante, estava juntamente com um grupo de arqueólogos no Egito, uma bela tarde ele sentou-se próximo à Grande Pirâmide, estava meditando sobre algo que ele jamais me contou, porém um pedaço de madeira lhe chamou atenção, ele então cavou um pouco com as mãos e encontrou uma espécie de urna, dentro dela estaria a maior surpresa de sua vida e o motivo pelo qual ele nunca mais quis voltar ao Brasil.
Havia ali alguns papéis, mas isso não era a sua maior surpresa: eles deveriam ter aproximadamente quatro mil e quinhentos anos.
Meu irmão leu minuciosamente cada letra daqueles papéis, algo impossível de existir na época em que Queóps reinava, mas existia...
Hoje meu irmão está morto, neste ano de 2005 eu me sinto obrigada a revelar este segredo que tenho guardado por tanto tempo, preciso me livrar da culpa de ocultar algo tão maravilhoso e ao mesmo tempo me sinto obrigada a mostrar ao mundo o que uma paixão avassaladora é capaz de fazer com um simples ser humano, mortal e indefeso.


A verdade é que eu sei que ninguém acreditará nas palavras que aqui narro, porém basta-me saber que continuo com elas a vida e a história de pessoas que fizeram do amor e da paixão um meio de vida com pureza e sentimento.
Meu irmão não quis que nada disso viesse à tona enquanto ele foi vivo, passou a vida buscando outras provas, porém agora eu encontrei uma prova muito maior do que as que ele poderia ter encontrado nas escavações. O que estava escrito naqueles papéis está fielmente relatado a seguir.

As noites pareciam infindas, uma agonia, um aperto no peito me impedia de dormir, quando podia conciliar o sono os pesadelos vinham, terrível, acordava então sufocada, parecia-me que alguém tentava me apertar o pescoço.
As coisas estavam cada vez mais insuportáveis para mim, eu não podia mais viver naquele pesadelo, minha vida estava ficando cada vez mais complicada, não tinha mais ânimo para sair de casa, havia brigado com todas as minhas amigas e a minha família parecia tão arredia.
Talvez eu tenha me enganado nisto, mas agora é tarde para lamuriar-me, tudo já aconteceu e mesmo que eu quisesse voltar atrás seria impossível.
Muitas noites acordei com a sensação de estar sendo abraçada, cheguei a sentir o carinho daqueles braços invisíveis, era a única coisa que me aliviava a dor e o medo das agonias dos pesadelos. Porém numa noite eu acordei, levantei-me e caminhei até a sala de minha casa... Deus, porque fui fazer isto?!!! Talvez não devesse ter ido até lá, mas fui isso é o que importa agora, e lá no sofá, cabeça baixa entre as mãos, estava ele, suas roupas eram de um egípcio antigo, sua pele era morena. Eu quis fugir gritar talvez, mas não pude, não consegui nem ao menos mover-me, ele levantou-se e pude ver seu rosto, caminhou até onde eu estava e de leve tocou meu rosto... Acordei na manhã seguinte com o corpo dolorido, muita febre. Foi um pesadelo como os outros, pensei. Mas não...
Por muitas noites sonhei... Mas uma noite eu resolvi caminhar sozinha e ouvi passos me seguindo, porém não havia ninguém.


Estava quase certa de minha loucura, mas precisava procurar alguém, tentar encontrar uma explicação justa para tudo aquilo, foi então que encontrei minha amiga Eluanna, a Eluanna, conversei longamente com ela sobre o assunto que resumia a minha loucura, foi então que ouvi dela a proposta mais louca que imaginei: invocar o espírito que estava me seguindo.
Era loucura, eu sabia, mas o que fazer? Precisava encontrar um meio de livrar-me do tormento e da angústia que me cercava, então, naquela mesma tarde fomos para minha casa, preparamos tudo, incenso, velas, pirâmide, cristais e tudo o mais, começamos a recitar palavras soltas, até que eu me ergui e falei em alto e bom tom:
_ Sabe Eluanna, eu não acredito nestas besteiras!
_ Tavianna, olhe atrás de ti, a fumaça... Eluanna estava pálida, voltei-me rápido, o que vi foi realmente assustador.
_ Eluanna, vamos sair daqui!
Porém já era tarde, a fumaça havia se materializado e bem na minha frente estava ele, frio, os olhos negros fumegavam, não poderia cruzar-lhe o caminho, afastei-me alguns passos, Eluanna estava paralisada poucos passos atrás de mim.
Meu susto maior foi ao vê-lo caminhar em minha direção, senti meu corpo esfriar, mil facas pareciam querer me cortar a alma.
_ Quem é você e o que quer de mim? Falei gaga, tinha medo da resposta.
_ Eu vivo em ti...
Ao ouvir aquilo algo em mim estalou, aproximei-me dele, porém recuei, uma frase me veio em mente: “Nunca deixe um espírito te tocar ou tu serás dele.”.
_ Como podes viver em mim, és na verdade meu maior tormento...
_ Eu te escolhi porque és igual a mim.
_ Eluanna, vamos sair daqui, nem mesmo um espírito pode me desafiar desta forma, sou viva, tenho sangue nas minhas veias, não sou igual a um espírito morto há provavelmente quatro mil anos.
_ Cuidado Tavianna, tu és tão parecida comigo no mal que posso viver em ti.


_ Então me diga no que posso ser tão parecida...
_ A ambição me fez transformar nesta alma que vaga...
_ Mas eu não sou uma alma que vaga!
_ Eu sei, mas és ambiciosa...
_ Tavianna, vamos fugir daqui... Eluanna havia recobrado a voz.
_ Não! Deixem que eu conte minha história.
_ Fale logo então.
_ Eu fui um dos construtores de Queóps, mas era tão ambicioso que não percebi que me perdia, um dia, porém eu morri esmagado por uma pedra da própria construção, enterrado como um miserável pelo peso dela.
_ E o que te fez vagar então? Tua morte bastaria para pagar tua ambição! Eluanna parecia ter realmente acordado.
_ Eu ao ver a morte pedi ao bom Senhor que me permitisse continuar livre no mundo até que um dia pudesse recuperar o que deixei de lado, morri por uma causa, e por essa causa irei descansar.
_ Que causa foi essa? Perguntei.
_ Um dia te direi...
Quando ele se desmaterializou eu tinha somente uma certeza: não estava louca.
Como era bom não estar louca! Como era maravilhoso, porém logo descobri que era melhor estar louca, agora era prisioneira de um segredo que levaria para a eternidade. Ah, se naquele dia eu soubesse o que ainda viveria, mas não, eu tive de viver cada segundo para entender o que era a maldição que tomava conta dele... Mas quem era ele? Não me disse seu nome.
Alguns dias depois recebi um estranho convite e mais estranhamente ainda aceitei: fui para o Egito com Eluanna e com seu namorado Jonas, nos hospedamos em um hotel e ali tudo seria diferente, ao menos para mim.
 Conheci cada um dos monumentos, templos, estátuas daquele país.


Uma noite estava no meu quarto, exausta, sem entender direito ainda o que estava fazendo ali, ele voltou, surgiu no ar como todo bom fantasma:
_ Minha rainha...
_ Não sou rainha de ninguém...
_ Creio que é hora de te contar a verdade.
_ Creio o mesmo.
_ Meu nome é Pyramon, como já te falei, fui um construtor.
_ Eu sei disto, quero saber de mais...
_ Basta que tu lembre!
_ O que!!!
_ Deixe-me te lembrar...
Naquele momento senti um sono muito forte, só me recordo de imagens, quando acordei estava mais confusa ainda.
_ O que tu viu?
_ Estava em um lugar, mas não era eu, era algum templo, mas nenhum dos que ainda existem, era madeira, restos de madeira talvez, alguém estava comigo.
_ O que mais tu viu?
_ Uma mulher se aproximou e disse: vocês serão como Isis e Osíris, acabarão um juntando os pedaços do outro.
_ Entendeu agora Tavianna?
_ Não...
_ Um dia tu entenderá, eu te escolhi por este motivo.
Depois daquela noite fiquei mais confusa, estava completamente perdida. Não sabia quem estava me mantendo no Egito, quem pagava minhas despesas ou qual finalidade de minha estadia naquele país de mistérios, somente uma coisa era certa: eu já não era tão pertencente ao mundo dos vivos como semanas antes.


Um dia estava com minha amiga em um museu, haviam alguns objetos que nos interessavam um senhor aproximou-se de nós e parando bem ao nosso lado falou observando uma antiga múmia:
_ Se procuram pistas sobre o amaldiçoado não será aqui que encontrarão.
Naquele momento uma questão me veio em mente, mas calei, deixei que Eluanna falasse, tinha certeza que perguntaria o mesmo:
_ Quem é o amaldiçoado?
_ Soube que estão hospedadas em um hotel aqui perto, meu filho trabalha lá e foi ele quem me contou que ouviu vocês perguntando sobre um tal Pyramon, sobre uma história.
_ E o que o senhor sabe sobre isso? Desta vez eu perguntei.
_ Posso lhes contar a história, venham até minha casa hoje à tarde.
Aceitamos o convite, Jonas não costumava sair conosco, estava mais encantado com as estradas do que com os templos.
A casa do senhor era simples, porém fomos recebidas com muita gentileza.
_ Bem, o que sei sobre o amaldiçoado é uma história antiga que meu avô contava.
_ Não importa o quão antigo ela seja, mas quero muito saber. Eu estava curiosa ao extremo, era minha chance de saber algo sobre Pyramon além do que ele me contava.
_ Meu avô contava que na época em que Queóps estava sendo construída muitas coisas estranhas aconteciam.
_ Mas por quem ele soube destas histórias? Eluanna ainda estava desconfiada.
_ Ele me disse que muitos e muitos anos atrás, cerca de noventa gerações antes da minha, a nossa família já existia e foi isso que nos permitiu conhecer a história, através de velhos Hieróglifos que permanecem ocultos até os dias de hoje.
_ Certo, mas então conte o que sabe. Eu estava ansiosa.


_ Eu creio que tudo seja apenas uma lenda, nunca vi nenhum dos hieróglifos, segundo meu avô eles estariam escondidos em um velho templo oculto, mas reza esta lenda que na época em que Queóps reinava soberano sobre o Egito a pirâmide estava sendo construída por escravos vindos de outros países, exceto por alguns egípcios que eram encarregados diretamente pelo faraó de coordenar os trabalhos, eram homens ambiciosos, maus ao extremo, porém um deles não era assim, velho, cansado, era um exímio arquiteto e por isso era obrigado a trabalhar para o faraó.
_ Quem era esse homem então? Eluanna também estava despertando para a curiosidade.
_ Seu nome eu já não sei, mas dizem que tinha uma filha, uma garota branca, filha dele e de uma escrava que havia comprado por amor, uma mulher que havia surgido no país depois de uma pequena luta contra um povo estranho. Porém o pobre homem perdeu sua amada e ficou só com sua filha. Criou a garota de um modo puro, era uma menina ingênua, um animalzinho que vivia escondendo-se entre as árvores dos oásis.
_ E o que tem esse velho homem a ver com o amaldiçoado? Eu não podia esperar por toda aquela narrativa.
_ Como já disse, creio ser uma lenda das tantas que meu avô contava, mas dizem que entre os egípcios que construíam a Grande Pirâmide havia um jovem muito mal, ambicioso ao extremo, o orgulho lhe corroia a mente, desejava somente o poder, estar próximo ao faraó para receber favores em troca de maldades contra os construtores escravos.
_ Era um demônio então? Eluanna interrompeu.
_ Sim, mas eis que um dia a garota branca caminhava perto da construção quando ele fiscalizava sozinho o trabalho do dia, era uma tarde, quando a viu ficou encantado por sua pele alva, seus cabelos de ouro, não sabia quem era a mulher estranha e a seguiu, viu então que era a filha do pobre velho.
_ E daí? Eu estava louca por ouvir.


_ Daquele dia em diante o maldoso caiu em uma estranha depressão, até que dizem, encontrou um grupo de rebeldes religiosos que lutavam contra os deuses falsos que Queóps obrigava o povo a adorar, uns dizem que por amor, outros que por arrependimento, mas o que se sabe é que Pyramon virou um rebelde, um espião destinado a acabar com Queóps e libertar os escravos e também o pobre velho da tortura da construção. Aproximou-se da jovem, começaram a encontrar-se, logo o pai da garota terminou sacrificado por alguns sacerdotes de Seth, ela sozinha acabou integrando o grupo dos rebeldes, era um dançarina do templo de Seth, uma espiã, porém uma tarde acabou morta, ninguém sabe como ou por quem... Pyramon desesperado jurou vingar-se do mal espalhado pelos sacerdotes, mas morreu esmagado por uma pedra que caiu misteriosamente da Pirâmide. Aí surge a lenda de que até hoje ele vaga, amaldiçoado pelo mal que fez e na divida de sua vingança.
_ É uma bela lenda, obrigada por me contar. Eu estiquei uma nota de dinheiro, porém o senhor sorriu e me pediu que a guardasse segundo ele sua família descendia dos rebeldes e ainda tinham a dívida de mudar a realidade do mal de Seth.
Ouvir a lenda não me auxiliou muito, podia até entender que Pyramon estivesse vagando por uma maldição, mas não podia entender o que eu tinha com isso.
Tanto eu quanto Eluanna estávamos preocupadas com nosso destino no Egito, não podíamos continuar ali por muito tempo.
Minhas dúvidas acabariam complicando-se mais numa bela noite de lua cheia quando ele ressurgiu em meu quarto.
Como sempre surgiu de uma fumaça, um espírito perfeitamente chamado de fantasma, mas ao materializar-se tudo parecia mudar, era um belo homem, porém um homem que me colocava medo ainda.
_ Então Tavianna, estás pronta para saber mais?
_ Já soube! Contaram-me tua história.
_ É, eu sei.
_ Me diga Pyramon, por que tu me escolheu para assombrar?
_ Não te assombro garota, o que faço é viver em ti.
_ Viver em mim... viver estando morto!
_ Um dia tu descobriras porque vivo em ti e não em outra mulher deste mundo, deverias desconfiar que algo em ti me fizesse te escolher, algo que não pode ser mudado.
_ Quem era a mulher por quem tu te apaixonou?


_ Uma mulher inocente, pura, às vezes eu penso que foi essa pureza que me fez morrer.
_ Foi por ela que tu quis vagar?
_ Não, foi para me vingar do homem que a matou: Semersher, um sacerdote de Seth... Pela primeira vez eu o vi entristecer.
_ Me conte a verdade Pyramon.
_ Eu vago neste mundo para impedir que ele conquiste novamente o mesmo, Semersher também está por aí, vagando...
_ E eu? O que significo nisto?
_ Minha ponte com a vida, na verdade minha vida é a tua, mas ele sabe disto e te procura também.
_ É ele quem tenta me sufocar nos sonhos?
_ Sim, assim como eu ele te precisa, mas ao passo que eu vivo de tua vida ele vive de te sugar as forças.
_ Me matar, é isso que ele precisa?
_ Sim, me desculpe por ter te envolvido nisso, como sempre eu errei!
_ Mas por que eu?
_ Eu vagava por este mundo sem fim, não podia me comunicar com os vivos, porém uma noite te encontrei num mundo além do teu, num sonho, eras exatamente o que eu queria encontrar naquela noite, naquele momento.
_ Mas o que te fez me escolher?
_ Querias muito viver algo além do que vivias, além disso, me lembraste dela por um vago momento e então te escolhi, escolhida uma vez não posso te deixar.
_ E o que te fará deixar de vagar? A minha pergunta causava um certo desconforto em mim, tinha medo da resposta, mas queria ouvi-la.
_ O impossível me salvará, não tenho esperanças...
_ Mas o que pode ser tão impossível se tu podes vir ao mundo dos vivos?


_ Preciso amar uma viva...
_ E julgas isso impossível?
_ Não, creio que poderia amar uma mulher deste mundo, mesmo tendo perdido meu grande amor.
_ Então, por que achas que isso é impossível?
_ Preciso que esta mesma mulher me ame!
_ Pyramon... isso sim é complicado, mas não impossível! Quem duvida que a mulher por quem tu te apaixone não te ame?
_ Uma viva não ama a um morto...
Era clara a dor que tomava conta dele, sua expressão me sensibilizou a tal ponto que perdi o medo dele como um morto e me aproximei, toquei seu rosto e tentei sorrir:
_ Não fique triste Pyramon, mesmo que tu não acredites isso pode acontecer, basta que tu procures e te aproximes da mulher certa.
_ Tenho medo de amar outra vez, já causei a morte de uma mulher, não quero causar a morte de outra.
Ao falar isso ele desapareceu. Na manhã seguinte encontrei Eluanna e Jonas no café:
_ Eu não sei o que fazer, encontrei Pyramon outra vez, me falou o que seria preciso para que sua alma tivesse paz.
_ E o que ele precisaria? Jonas era pouco curioso, mas desta vez havia sido o primeiro a questionar.
_ Ele precisaria amar e ser amado por uma mulher viva... Respondi.
_ Isso é loucura! Eluanna exclamou.
_ Eu sei, mas a tristeza dele me comoveu...
Os dias passavam sem que nada de novo acontecesse, porém comecei a sentir novamente a tristeza de antes, uma noite estava em meu quarto quando surgiu um homem estranho, um medo me paralisou:


_ Eu vim te encontrar garota, vim buscar o que é meu... Ao falar isso ele lançou raios de suas mãos, eu não pude reagir, caí, porém uma estranha sensação me fez falar:
_ Semersher, tu não irás me matar...
_ Tu és minha como fostes na outra vida...
Ao mesmo tempo em que a frase me fez perder de vez os sentidos Pyramon surgiu, não sei como, mas ao acordar estava somente com ele, Semersher havia sumido:
_ O que houve?
_ Ele queria te matar, não te preocupes, eu não vou deixar...
_ Ele me disse que eu seria dele como fui à outra vida, o que isso quer dizer?
_ Tavianna, eu não queria te recordar de nada, mas se queres mesmo saber eu te mostrarei, deixe-me te mostrar...
Ele me tocou o rosto e correu suas mãos sobre meus olhos, adormeci, ao menos creio que sim.
Quando despertei estava apavorada, em lágrimas, ele me perguntou o que havia visto e eu narrei:
Estava caminhando perto de Queóps, o céu era de um azul imenso, areia clara, a construção me encantava. Havia marcado com alguém, porém ele não havia chego. Estava distraída, não pensava em muito, só nele... então dor, areia tingida de sangue...
_ Não quero mais falar! Não! Comecei a gritar, queria fugir, estava desesperada, Pyramon me segurou, porém eu não queria sentir as mãos dele sobre mim, tinha medo...
Eluanna entrou no quarto apavorado, creio que não tenha entendido, ou se entendeu foi errado:
_ Larga a minha amiga seu morto maluco!
_ Não estou segurando ela por motivo algum, ela está muito nervosa, pode fazer alguma loucura...
Eu já havia me acalmado a esta altura:


_ Eluanna, pode ficar calma, já passou...
_ O que aconteceu aqui?
_ Não sei... Ainda haviam lágrimas em meus olhos.
_ E ele chegou e te encontrou morta, cavou e te enterrou com as próprias mãos ali mesmo, jurou então que te encontraria outra vez. Pyramon concluiu e sumiu.
_ Eluanna, ele quer me enlouquecer...
_ Ele quer na verdade é tua alma.
_ O que?!!!
_ Isso mesmo! Ele é um morto Tavianna, tente te afastar dele...
_ Não sei se posso...
_ Por quê?
_ Estou muito envolvida com essa história para poder voltar atrás.
_ Cuidado amiga, por favor, cuidado.
Não tomaria cuidado algum, pelo contrário, me envolveria muito mais. A cada dia que passava eu me envolvia mais e mais com a história de Pyramon, ele era como parte de minha vida, como se realmente vivesse em mim.
Aquela visão que ele me havia induzido a ter havia afetado muito meu humor, voltei a me trancafiar sozinha no quarto, parei mesmo de visitar os pontos turísticos do Egito. Meu comportamento começou a afetar também Eluanna, ainda mais quando Jonas teve de voltar ao Brasil e ela ficou só, não falávamos muito, eu estava cada dia mais isolada dentro de meus pensamentos, estava tomada por um completo desanimo e somente Pyramon me interessava. Uma bela manhã acordei com Eluanna invadindo meu quarto, sentei-me na cama e fiquei esperando uma explicação sobre aquela invasão:
_ Tavianna, tenho que te falar o que penso, não posso mais esconder minhas idéias...
_ O que está acontecendo? Por que tu invadiu meu quarto deste modo?
_ Tu estás te apaixonando por um morto! É isso Tavianna, tu estás cada dia mais apaixonada por Pyramon e nem te ligas que ele está morto!


_ Que absurdo Eluanna! Eu não estou apaixonada por Pyramon coisa nenhuma! O que eu quero é simplesmente ajudá-lo a encontrar uma mulher que o ame e que ele ame também...
_ A mulher que o ama será tu mesma se não parares de te envolver com ele desta forma. Tu estás trancada neste quarto fazem três dias, não notas nada do que passa ao teu redor. Jonas foi para o Brasil, eu estou aqui fazendo sei lá o que.
_ Não queres mais ficar aqui?
_ O Egito não me atraí, cheira a morte...
_ Não, o Egito é puro mistério...
_ Estás vendo? Já pensas como ele! Tavianna, ele te domina.
_ Não é isso...
_ É sim, só que estás cega, não percebes nada além do que ele quer.
_ E o que queres que eu faça? Pyramon me mantém viva, existe algo mais Eluanna, algo que tu não sabes.
_ E o que é esse algo?
_ Semersher, um sacerdote de Seth, deus mal do Egito, ele vive de sugar minhas forças, sem Pyramon para me defender ele me mataria.
_ E o que vai ser de tua vida Tavianna? Viverás sempre nas mãos deles? Não podes aceitar isso.
_ Eu sei, mas não posso fazer nada.
_ Tavianna, como posso te ajudar?
_ Não podes amiga, podes ficar aqui comigo, mas não sei se é justo contigo, não sei se é justo te privar do teu país para ficar aqui cm uma louca que vive em função de dois fantasmas.
_ Por enquanto ficarei aqui, mas restam poucos dias para que eu tenha de voltar ao Brasil, não posso realmente ficar.
_ O que vou fazer Eluanna?


_ Tente falar com esse morto louco, tente convencer ele de que tu queres viver e não vegetar como um hotel para mortos.
_ Eu tentarei...
As palavras de Eluanna foram muito profundas para mim, eu era realmente um hotel para mortos. Será que era isso? O que eu poderia fazer?
Minha vida era um inferno, estava me revoltando com tudo, tanto que uma noite fui a um cemitério. Não tinha medo daquele lugar, e afinal, não faria sentido ter.
Lá me sentei sobre um túmulo e fiquei olhando as estrelas, queria descobrir uma forma de fugir.
Pyramon surgiu, surgiu do nada com sempre, porém eu não estava como sempre:
_ Por favor, suma daqui. Quero ficar sozinha!
_ O que aconteceu contigo Tavianna?
_ Nada, ao menos nada do que já não deveria ter acontecido! Saí daqui!
_ Não sem tu me contar o que há.
_ Há que eu estou cansada de ser um hotel para mortos!
_ É isso que tu achas que és? Achas que eu só te uso?
_ E não é a verdade?
_ Não!!! Não é!!!
_ Então me prove, me prove que não estás só me usando.
Senti ele se aproximar, segurou-me e puxou-me para perto dele, eu nunca me esquecerei de seus lábios tocando os meus, havia neles um frio mortuário. Afastei-me dele:
_ Tu não podes me beijar!
_ Eu já te beijei tantas vezes que nem podes sonhar...
_ O que?!!!


_ Quando dormias, sonhavas comigo, sonhavas com coisas que na verdade não eram tuas e sim memórias dela que semeei em ti, me aproximava no negrume da noite e tocava teus lábios... Era tudo o que eu podia fazer. Era minha forma de sentir que ela vivia em ti.
_ Eu não sou ela!
_ Agora eu sei, e se te beijei agora foi sabendo disto.
_ Não quero teus beijos! Não quero que tu me toques!
_ Por eu estar morto? É isso garota! E um dia tu me disse que uma viva poderia me amar.
_ Mas não eu... E nem tu me amas.
_ Mas te quero...
_ Um morto não pode querer uma viva, seria impossível isso. Seria impossível...
_ Não, não seria tão impossível assim, posso te levar daqui para um mundo onde os dois estarão vivos, aonde não irás te assustar com o gelo de meu corpo.
_ Não quero! Não podes pensar isso! Não podes estar falando sério...
_ Não, não estou, não posso te fazer agir como eu quero.
_ O que quer de mim?
_ Nada além do que puderes me dar no início me aproximei de ti por encontrar nisto um consolo por ter perdido a mulher que mais amei.
_ Eu estou enlouquecendo por tua causa...
_ Não me culpe por isso, não queria te fazer mal.
_ Mas me fez...
_ Venha comigo ao mundo que te falei...
_ Não, eu não irei contigo a lugar algum!
Eu fugi daquele cemitério, me recordo muito bem disso, cheguei ao hotel apavorada tanto com o que havia vivido como comigo. Não me reconhecia mais, estava agindo tão estranhamente que nem ao menos minha aparência externa era a mesma de quando havia saído do Brasil.


Eu havia perdido peso, o sol do deserto havia queimado a minha pele, naquela noite quando cheguei a frente ao espelho fiquei sem reação: nem ao menos eu me reconhecia.
Eu já não tinha coragem de contar meus problemas à Eluanna, não sabia mais se confiava ou não em minha amiga.
Havia pavor, medo em cada atitude que eu tomava, mas pensei por um momento e fui até o quarto de minha amiga:
_ Eluanna, quero que tu voltes para o Brasil amanhã mesmo, não é justo que fiques aqui se o problema é unicamente meu.
_ O que tu estás dizendo? Tavianna, não podes ficar aqui sozinha!
_ Não vou ficar, pretendo fugir, voltar para casa logo.
_ E Pyramon?
_ Enlouqueceu, um fantasma louco, eu tenho certeza que ele só está querendo me usar amiga, por isso estou te mandando voltar, voltarei logo depois.
_ Está bem, voltarei para nosso país em duas semanas, não menos, não vou te deixar sozinha.
_ Não! Não podes ficar!
 Algo me dizia que Eluanna seria vítima de alguma armadilha, mas não podia entender qual. Para mim era Pyramon o maior perigo. A verdade é que eu estava cega, cega por sentimentos que nunca pude realmente descobrir de onde vinham.
Durante aquela noite eu tive um sonho, um sonho que me deixou intrigada, afinal eu já não diferia entre sonho e realidade.


Podia jurar que alguém me acariciou durante muito tempo, uma carícia de quem quer acalmar, sentia um afago gostoso, uma paz tão profunda... Então me recordei de muitos sonhos e da constante sensação de perda que me acompanhava durante dias após os sonhos. Como um estalo eu descobri o que mais temia: eu havia sido apaixonada por um sonho durante anos de minha vida. Calei sobre minha descoberta, não queria e não podia aceitar que amava alguém que já houvesse morrido. Não era humanamente aceitável, não era possível amar um morto.
Mas eu estava tão envolvida com lendas que nem notei que havia largado tudo para seguir um ideal sem fundamentos, eu estava completamente entregue à sorte de um morto milenar.
Pyramon não deveria saber de nada, não poderia perder minha vida desta forma. Eu o esqueceria. Era isso, eu esqueceria Pyramon...
Como se adivinhasse tudo o que minha mente pensava ele sumiu, passou dias sem voltar, porém um dia ele surgiu bem no saguão do hotel, em plena luz do dia. Meu susto só não foi maior porque eu já sabia de sua condição de morto, sentamos ali mesmo e ficamos conversando, ele me explicando o que havia acontecido:
_ Uma energia muito forte me permitiu materializar meu corpo, continuo sendo um morto, mas agora meu corpo está materializado.
_ Que maravilhoso para ti!
_ Ainda sou frio, gélido como todos os mortos... Disse ele com muito pesar.
_ Pyramon, não é o calor de um corpo que importa, o calor de tua alma é que vale...
_ Sei que te importuno, estou sumindo para sempre... Hoje é a última vez que tu me vê.
_ Por que isso?
_ Não posso te assombrar tanto, percebi o quanto tu mudou não te pareces com a garota por quem me... Bem, que escolhi.
_ Já te cansaste de mim?
_ Nunca me cansarei de ti, mesmo não estando materializado eu estarei sempre contigo, sempre...
_ Não me deixe Pyramon...
_ Tens certeza?
_ Não quero que tu me deixes desta forma. Queria que tu ao menos conquistasse a paz que procuras.


_ Eu escolhi amar uma mulher que não me ama, mas não posso culpá-la por isso, ela está viva e eu morto.
_ E quem é esta mulher?
_ Tu sabes bem quem é ela... Sabes que te escolhi não só para te seguir desta forma fantasmagórica, mas para te amar sempre.
_ Pyramon, por favor...
_ Me ouve, eu nunca serei uma alma que descansa em paz, pensei que nunca mais iria amar, mas errei... Eu amei aquela mulher, a verdade é que ela era pura, ingênua, eu a modelei e ela morreu por culpa minha. Quando te encontrei não sei a verdade do que houve, não te pareces com ela mais do que por alguns traços, mas tu eras tão frágil e fingia ser forte, uma menina que queria que todos acreditassem ser mulher.
_ Por favor, não continue...
_ Eu não queria mais do que te assustar, mas aos poucos acabei me envolvendo, muitas vezes me disfarcei em teus sonhos para te abraçar, te beijar...
_ Eu sei que estás mentindo ainda Pyramon, que não foi por um simples acaso que viestes parar em meus sonhos.
_ Talvez seja verdade minha menina...
_ Então por tudo que mais amas, por tudo que um dia te fez desejar continuar vivendo em mim, me fale a verdade por inteiro, não me faça duvidar de ti.
_ Eu te encontrei por um apelo de sangue, um apelo muito maior do que possas imaginar. Na verdade as lembranças dela não foram simples sementes que lancei em ti ao acaso, na verdade a minha escolha não foi um simples acaso...
_ E o que foi então?
_ Te escolhi porque tu és o sangue dela vivo pulsando tão próximo de mim... foi teu sangue quem primeiro me chamou.


O meu susto só não foi maior porque a partir do momento em que se convive com um morto as coisas começam a não mais assustar.
_ Como tenho o sangue dela?
_ De alguma forma és descendente dos ascendentes dela, muito de longe, muito... Mas teu sangue ainda possui o que possuía o dela, tua vida ainda me faz recordar à dela.
Não sabia mais como agir, era impossível deixar que ele sumisse e fingir que nada havia acontecido comigo naquele último e longo mês, não era possível virar as costas e voltar para o Brasil sabendo que um espírito estava sempre vivo em mim, mesmo não o vendo eu o sentiria. Seria como viver num inferno maior ainda. Eu não tinha mais uma solução pra minha vida, estava completamente perdida. Jamais iria esquecer dele, não seria como quando se perde alguém para a morte, um alguém que se vai desta forma é uma incerteza que nos pontua calada, mas ele, ele mesmo sumindo me deixaria à certeza de estar me vigiando a cada segundo. Como eu poderia viver? Como poderia tomar as mais simples atitudes sabendo que ao meu lado havia uma alma, morta ou viva, mas havia.
Por instantes parei a divagar sobre o que fazer de minha pobre e infeliz existência, mantendo ainda um outro pesar: o de não mais ver o homem por quem me apaixonava a cada dia.
Foi como um choque em minha mente, por um relâmpago de tempo percebi que estava completamente apaixonada por um morto. Não tinha mais nada a perder, sorri, sorri de uma forma que nunca havia sorrido e o olhei nos olhos:
_ Pyramon, escute o que tenho para te dizer, escute com atenção: eu estou te amando de uma forma que nunca imaginei ser capaz de amar, de uma forma que me faz perder por completo toda a minha razão.
Ele me olhou com um ar de susto, parecia surpreso e incrédulo, caminhou e voltou-se:
_ Não podes me amar...
_ Por que não? Eu te amo, neguei por algum tempo para mim mesma, mas não posso, eu te amo Pyramon, para minha desgraça eu amo um morto, sou capaz de amar um morto!


_ Não faça isso, não faça isso contigo, não podes me amar, eu te proíbo de me amar. Irei sumir de tua vida, não me vendo irás me esquecer com o tempo e não te desgraçarás.
_ Se te amar é minha desgraça eu não tenho mais volta, não tenho...
_ Não... Por favor, não! Eu não queria teu sofrimento. Sou mesmo um desgraçado, só sei machucar as pessoas que amo...
_ Mas por que não podemos viver este amor se é que me amas?
_ Não seria certo, não pertencemos ao mesmo plano, estou morto... Nunca terias uma família, uma descendência...
_ Pyramon... Não me deixe!!!
_ De hoje em diante não mais irás me ver...
Ouvi a frase de uma forma vaga, um medo se apoderou de mim, não pensei, saí correndo do saguão do hotel e fui para a rua. Só me recordo de um carro negro vindo e mais nada.
Por dias fiquei em coma, estava desenganada pelos médicos, os ferimentos eram graves, porém nenhum, exceto um pequeno hematoma na testa, era externo, o pior estava dentro de mim e os médicos desconheciam por completo o que havia me tornado tão vulnerável.
Porém meu coma era estranho, sabia dele por ouvir os comentários dos médicos e enfermeiros, mas não estava morta, eu ouvia tudo, porém meu corpo parecia morto, não me obedecia, nem meus olhos se abriam.
Deviam fazer uns seis dias do acidente, lembro de ouvir a voz dele e sentir suas mãos frias segurando as minhas tão frias quanto:
_ Volta para mim minha doce princesa, preciso de ti, não quero perder outra vez a mulher que amo... Se tu me ouvisse, se soubesse o quanto te amo, Tavianna... Posso ter me enganado quando pedi para vagar no tempo, mas te amo te amo demais. Te amo como nuca imaginei que poderia amar alguém e diante do que sinto o amor que tive por aquela de meu tempo parece fraterno.
Eu tinha vontade de gritar, de falar que estava ali e o ouvia que amava ele também, mas não conseguia sequer olhar para ele.


_ Tavianna, me ouve, volta para mim e farei tudo o que quiseres, fico ao teu lado, sumo o que quiseres...
_ Ela está morta como a outra Pyramon, eu a matei novamente, matei novamente tua única chance de salvação. A primeira te salvou da maldade, mas te jogou na eternidade, esta te salvaria da morte, mas está morta. Que triste sina a de vocês! Nunca terminam juntos, outra vez a alma dela se desprende antes de ti.
_ Cale-se Semersher, cale-se, não são a mesma mulher e nem ela está morta como a outra. A primeira me devolveu os sentimentos e me ensinou que o mal não compensa, tu a matou! Mas esta não, ela não morrerá...
_ Veremos...
Semersher desmanchou-se no ar, ouvindo tudo aquilo eu me angustiava cada vez mais, aos poucos percebia que o amava cada vez mais, meu coração poderia explodir de tanto amor.
Era o limite de tudo, descobriríamos depois que tudo tinha um porquê de ser, mas não era o momento ainda, não era a hora de descobrir as verdades e as mentiras que envolvem os seres humanos.
Ouvi uma voz forte chamar por Pyramon, não sei quem era, mas ouvi claramente o que dizia:
_ Pyramon, filho amado, chegou ao fim teu suplício, não mais irás sofrer a dura pena de vagar para sempre pelo mundo, resta apenas acabar com Semersher e tua alma terá a paz que tanto almejas.
_ Quem é você? Ouvi-o perguntar.
_ Sou teu Guia, finalmente o amor te encontrou libertando tua alma do duro penar e libertando a alma desta da incredulidade nos sentimentos...
_ E agora o que será de mim? O que será dela?


_ Quando Semersher for destruído tudo estará terminado, mas quanto a vocês o que posso lhes dizer é que a escolha será dura, para que possuam a felicidade terão de acreditar no impossível e deixar muita coisa para trás. No momento exato haverão decisões a serem tomadas e duras, mas se deixarem que os sonhos invadam a realidade e a realidade se torne sonho tudo terminará bem.
Percebi que o Guia desapareceu, quando Pyramon voltou-se para mim novamente eu o olhava, havia recebido forças e não sentia mais nada.
Pyramon me levou do hospital, fomos para um templo estranho, um templo de que nunca o mundo teve notícias, era parte do templo dedicado a Amon, ou Aton, mas sua entrada era tão bem disfarçada que somente os que conhecem os segredos desta lenda que agora sabem ser real sabem como entrar, aos olhos dos incautos existe somente uma parede velha coberta de hieróglifos e mais nada.
Meus amigos devem ter se desesperado, soube depois, mas não quis avisar ninguém, precisava de Pyramon, ouvir e falar somente com ele.
_ Estou livre da maldição, resta apenas matar a alma de Semersher.
_ E nós? Que será de nós Pyramon?
_ Não sei... Não queria te perder...
_ Quero te pedir algo, não julgue absurdo, não julgue!!!
_ O que queres?
_ Quero um filho teu Pyramon, para que se acaso o destino nos afastar eu tenha uma parte e ti ao meu lado...
_ Isso é uma loucura!
_ Não, no teu tempo estamos os dois vivos, poderíamos voltar até lá, poderíamos ter esse filho...
_ E depois? Como explicarias para ele quem foi seu pai? Irias mentir?
_ Não, não seria mentira dizer que o pai dele está morto, mas que eu o amei e ele quis o filho mais do que tudo, não seria mentira ter um filho e não ter o pai no mundo dos vivos...
_ És capaz disso Tavianna? És capaz de engravidar e enfrentar o mundo desta forma?
_ Sou... Não quero ficar sem teu amor, mas se ficar quero ter ele materializado comigo.


Por um instante ele ficou pensativo, depois olhou para mim e estendeu as mãos, estávamos no Egito a tantos e tantos anos...
Era tudo o que eu nunca imaginara em minha vida, estava ali, num país estranho, num tempo não meu, com um homem que eu sabia perfeitamente que não passava de um fantasma, mas era exatamente a este homem que estava prestes a me entregar e era deste homem que desejava ter um filho.
_ Tens certeza disto Tavianna?
_ Nunca tive tanta certeza em minha vida Pyramon, nunca...
Outra vez ele me beijou, não haveria volta, eu havia tomado uma decisão que mudaria minha vida. Amamos-nos, amamos de uma forma que jamais sonharia, de uma forma que vence tempo e morte...
Talvez eu tenha perdido a noção do tempo, mas quando voltei ao meu tempo encontrei minha amiga Eluanna muito preocupada. Mas eu voltei ao hotel como se nada houvesse acontecido, como se nunca estivesse estado em coma.
_ O que houve contigo? Eluanna me cercou com perguntas.
_ Eluanna, preciso falar contigo, preciso de tua ajuda, mas não agora, não hoje e nem tão cedo... Mas antes de voltares ao Brasil.
Minha amiga seria uma peça importante no que eu desejava fazer, mas não era à hora certa de falar sobre o assunto.
Um mês se passou, Eluanna acabou voltando para o Brasil sem que eu lhe falasse qualquer coisa sobre meus planos, não havia chego à hora, eu tinha certeza disto, somente disto.
A verdade é que à hora estava próxima, não a hora das decisões, mas a hora em que eu teria certeza de que meus planos de ter um filho de Pyramon haviam dado certo. Estava confirmada a gravidez, eu seria certamente um alvo das pesquisas científicas se os cientistas soubessem, mas eles nunca souberam: eu estava esperando um filho que nasceria com quase seis mil anos...


Pyramon preferiu se afastar de mim durante algum tempo, tinha medo que Semersher me fizesse algum mal e assim ao nosso filho, porém logo que o bebê nasceu Pyramon voltou. Não podia descrever o que sentíamos, era algo tão mágico que não havia um modo de resumir, a verdade é que tínhamos um filho, uma eterna união de nosso sangue, vivo e morto.
Porém Semersher soube de tudo e nos roubou o bebê. Lembro como se fosse hoje, por um instante fui atender um telefonema e no instante seguinte meu filho não estava mais no berço. O desespero que senti foi enorme, sabia quem o havia levado e o quanto podia me fazer sofrer.
Não sabíamos exatamente como agir, tínhamos que recuperar nosso filho e o tempo estava cada vez menor...
Então Semersher ressurgiu, não trazia meu filho, havia levado o menino para o Egito antigo e deixado a pobre criança sozinha num templo de Seth, jogou o fato em nossa cara.
Não precisava nos destruir, não era mais necessário, bastava ter nosso filho em suas mãos e gloriando-se disso sumiu.
Era preciso impedir Semersher de dominar o mundo, era preciso fazer algo.
Meu desespero talvez tenha me dado forças:
_ Pyramon, temos que voltar ao teu tempo, matar Semesher e impedir que ele consiga vagar...
_ Precisas saber de algo...
_ O que?
_ Se voltares agora não poderás tornar a este tempo, serás para sempre prisioneira em meu tempo.
_ Nosso filho está lá...
_ Deves pensar bem, não haverá uma explicação lógica para teu sumisso aqui...
_ Eu já pensei em tudo...
Eu havia planejado tudo, liguei para Eluanna, havia escrito cerca de trinta cartas, pedi que ela enviasse uma a cada seis meses para minha família, lancei uma história sem qualquer firmamento e deixei meu tempo, era preciso...
A morte de Semersher foi adiantada, Pyramon o assassinou.


Como tudo aconteceu antes da morte de Pyramon sob a pedra a história foi alterada, mas não influenciou em nada o mundo, já que Pyramon permaneceu sempre oculto como um homem comum.
A verdade é que eu nunca fui verdadeiramente parte deste tempo antigo, tropecei sempre em palavras quando me perguntavam quem eu era ou de onde vinha, tropecei nas origens, mas nunca no amor que senti por Pyramon.
Nunca soube nada sobre meu filho, essa foi minha maior tristeza, tive outros, é verdade, mas aquele que significou meu amor personificado não me pertenceu. Mas uma certeza sempre me manteve viva: eu sei que Semersher não o sacrificou algo em mim me diz isso.
Senti saudades de minha terra, de meu tempo, mas não posso voltar.
Talvez a vida seja uma caixa de surpresas, um dia encontrei um menino vagando no deserto, era tão lindo, claro, meigo... Criei este garoto como se fosse meu e hoje ele é um rebelde, um alguém que não aceita as imposições de Queóps.
Queóps, o Grande faraó que no meu tempo representava riqueza e poder, queria que tivesse visto ele: um homenzinho esnobe, fraco, baixo, ventre deformado, mau...
Eu sei que o que aqui narro pode parecer muito pouco real, mas só eu posso saber o quanto é real.
Ah, quisera ter encontrado o amor antes, ter acreditado em sua força antes.
Hoje eu sei que amar é mais do que uma paixão, amar é uma força que vence a morte e o tempo.
Sou feliz, muito feliz por ter encontrado o amor...
Só não sou completamente feliz por não ter ao meu lado o filho que me roubaram...
Quando li este registro não quis acreditar, mas era verdade, era mesmo verdade e eu descobriria isto, meu irmão quis ocultar essa história por medo do que o mundo iria pensar, mas eu não queria saber o que o mundo pensaria.
Quando acabei de digitar esse texto fui ao Egito, queria encontrar o templo perdido de Aton.


Bem, a verdade é que não só encontrei o templo como o senhor que narrou o episódio da lenda para Tavianna.
A lenda era mais real do que eu podia imaginar e naquele templo encontrei um último papel:
Fui criado por uma mulher maravilhosa e por um homem justo, sabia de sua história incrível, de uma viagem no tempo, da vitória do amor sobre a morte e de seu filho roubado, mas não sabia da verdade. Eles não sabiam tanto quanto eu!
Um dia descobri ao acaso que eu, o menino do deserto era o garoto que um mau sacerdote havia trazido ao sacrifício e que uma dançarina piedosa havia roubado e soltado no deserto para que alguém encontrasse... Eu era o filho daqueles que me criavam...
Eu era o filho de Tavianna e Pyramon...
Nunca soube se ela descobriu a verdade sobre seu filho... Mas soube que tudo era real.
E aqui encerro, eu estou ciente de tudo e creio que outras pessoas estejam.
O amor existe, e é capaz de qualquer coisa.
Encontrei a algum tempo num hotel aqui no Egito duas garotas, segui elas por alguns dias e depois as duas sumiram, não antes de uma sofrer um terrível acidente e ficar por uma semana em coma. Tenho mantido contato com a outra que está no Brasil, soube que as cartas deixadas pela outra acabaram e agora eu as escrevo como se fosse ela. Não falei sobre os tais papéis milenares com a que aqui continua não quero quebrar a magia do tempo, sei que não era o que ela desejaria, mas agora revelo ao mundo esta história de amor em forma deste livro e somente os que lerem por inteiro este relato saberão da verdade e terão consigo uma jura a cumprir... E essa jura representa exatamente o que tornou possível o amor de Pyramon e Tavianna: a realidade invadindo os sonhos e os sonhos invadindo a realidade. Acredite em seus sonhos, nada é impossível quando se abre o coração para o amor!