segunda-feira, 25 de abril de 2011

A HISTÓRIA DE UM AMOR
Um Romance Escrito para Professores
O movimento nas ruas era grande, perdida em seus pensamentos a garota aguardava por um rosto estranho, algo a dizia que poderia reconhecer quem esperava mesmo nunca tendo visto ele antes.
Os minutos passavam em um rítmo torturante, havia quase meia hora que estava sentada naquela recepção, por algumas vezes em sua mente um pensamento a assombrava: E se ele não vier? E se não quiser saber quem sou?                  
       Olhava em sua volta em busca de um rosto onde pudesse reconhecer os traços que havia imaginado para ele, mas nenhum daqueles rostos sorridentes parecia ser o de quem ela esperava.                                                         
O encontro estava marcado para dali a exatos dez minutos, mas a recepcionista veio ao seu encontro com um recado anotado:
_ Desculpe, mas a pessoa que você está esperando ligou e me pediu para passar este recado.
Apanhando o bilhete ela leu a mensagem:
Desculpe por te fazer esperar, não pense que não quero te encontrar, mas surgiu um imprevisto e tive que encontrar um amigo. Amanhã estarei com certeza aqui e te explico tudo. Foi uma emergência... juro.
Naquele momento ela sentiu-se decepcionada, tinha certeza do encontro após anos de espera, mas resolveu esperar, hospedou-se naquele mesmo hotel, queria ter a certeza de estar por ali quando ele voltasse, não queria perder o encontro novamente. Tudo aquilo significava muito para ela e não podia deixar que as coisas mudassem de rumo, havia aprendido a construir seu próprio destino.


O que a havia levado para aquele lugar era o desejo de encontrar alguém que há muitos anos procurava, por pura curiosidade no início, por teimosia nos últimos anos. Ele era seu primo, alguém que havia sido entregue em adoção ainda muito bebê e que nunca mais a família havia visto, anos depois quando ela nasceu à história estava muito bem esquecida, escondida, mas um dia ela ressuscitou toda a história.
Assim que à hora marcada para o encontro chegou ela desceu até a recepção, perguntou à recepcionista sobre o tal homem que esperava e recebeu como resposta um número de quarto, ela deveria subir até lá.
Ao chegar à porta daquele quarto sentiu suas pernas tremerem, finalmente haveria de encontrá-lo. Quando a porta se abriu um jovem de pele escura a recebeu:
_ Entre, temos muito para conversar...
_ Eu queria te conhecer...
_ Sente-se...
Ao sentar-se ela tornou a fitá-lo:
_ Estás zangado comigo?
_ E por que estaria? Muito pelo contrário, fico feliz em saber que alguém que tem meu sangue me procurou. Por anos eu imaginei que jamais alguém desta família havia me quisto.
_ Desde o dia em que soube de tua existência eu te procurei...
_ Fico feliz, ninguém sabe o quanto desejei isso...
_ E o que pretende fazer agora que sabe que tua família ainda existe?
_ Nada... Bem, ontem eu te deixei esperando, mas tive um bom motivo. Sabe, um amigo meu recebeu de herança uma grande fazenda, estamos indo para lá daqui a três dias.


_ Vai embora?
_ Vou com ele e outros amigos para a fazenda, temos muito que fazer por lá, parece que está abandonada há muito tempo.
_ Então não nos veremos mais tão cedo?
_ Não disse isso, estive pensando em te levar conosco por algum tempo, ao menos agora nestes tempos de férias.
_ Seria muito bom...
_ Eu sei, deixe eu te explicar toda a história para que não te assustes com nada...



















CAPÍTULO I - O COMEÇO DE TUDO

Assim que chegou naquela pequena cidade ela logo sentiu que seu destino estaria traçado, haveria de viver ali o restante de sua vida, tinha esta certeza e nada mais.
Era uma garota comum, não tinha ambições ou desejos estranhos para aquele ano de 1967. Havia ido para a pequena cidade cercada de fazendas unicamente para seguir os sonhos de sua prima, esta estava perdidamente apaixonada por um dos filhos de um fazendeiros da região e casar-se-ia em breve com ele, mas Charlotte não havia ido em busca de amores ou de nada assim, tinha em mente unicamente seguir Rosalia até que se casasse, coisa que seus pais a haviam obrigado a fazer, não queria ver a sobrinha embrenhada em algum lugar ermo sozinha com o namorado.
Logo que chegou Charlotte teve suas idéias transformadas, convidada a trabalhar na escola da fazenda de um amigo do namorado de Rosalia, logo se encantou pelo lugar, mas não se encantaria por Edward, o dono da fazenda em cuja escola trabalhava.
Tinha a imagem de Edward como à de um troglodita, um tipo violento e sem escrúpulos, mas a paixão pela terra já havia convencido ela a ficar e mais do que tudo a lutar contra as injustiças sofridas pelos empregados da fazenda.
Rosalia estava de casamento marcado com Alexandre, um jovem doce e meigo, cuidava da fazenda do pai e tinha com os empregados uma relação de paz e harmonia, era o oposto de Edward, um tipo grosseiro, não tinha o menor interesse nos empregados e jamais buscava saber o que acontecia a três palmos de seu nariz... Mas isso haveria de mudar: por bem ou por mal.


Uma bela tarde Charlotte estava na escola, havia terminado a aula e ficado para arrumar alguns livros que estavam se deteriorando nas prateleiras das estantes. A porta estava encostada e ela ouviu claramente quando alguém a abriu grosseiramente:
_ Então ainda estás aqui? É bom, preciso falar contigo!
_ O que há de errado Edward?
_ Soube que anda ensinando coisas a estas crianças, coisas que não deveria.
_ Que tipo de coisas?
_ Deveria se ater à leitura e escrita e não semear idéias comunistas nas cabeças dessas crianças...
_ Se julgas comunismo ensinar que a escravidão já acabou o azar é somente teu...
_ Não me diga! Escuta uma coisa garotinha, eu te contratei porque o Alexandre é meu amigo e a noiva dele é tua prima, mas não pense que eu simpatizo com as tuas idéias malucas.
_ Edward, eu vou embora daqui logo que a Rosalia casar, só estou aqui para fazer companhia para ela antes do casamento. Mas não sabia que minha presença podia causar tanto incomodo, se soubesse estaria bem mais feliz... por não estar aqui em branco.
_ Eu não sei de onde tu vens, mas quero que saibas de uma coisa minha cara Professorinha: aqui quem manda sou eu, tu és minha empregada e eu não estou para ouvir desaforos de empregados e muito menos pagar alguém para causar uma revolução aqui na fazenda.
_ Me demita então...
_ Não... Não posso magoar meu amigo, vou te aturar por mais alguns dias... Mas não tente continuar com tuas idéias aqui...


Charlotte tinha encontrado na provocação um meio de passar seu tempo, mas logo causaria em Edward um descontentamento tamanho que teria motivos para se arrepender.
_ Charlotte, eu tenho que conversar contigo uma coisa muito séria.
_ E o que pode ser tão sério Rosalia?
_ Eu soube pelo Alexandre das tuas brigas constantes com o Edward.
_ E daí?
_ Por que brigam tanto?
_ Ele é um grosso... pensa que por ser o dono daquele fazenda pode mandar em todos que trabalham para ele, mas eu vou mostrar para ele com quantos paus se faz uma canoa.
_ Alexandre me disse que ele nem sempre foi assim...
_ E o que o deixou assim?
_ Parece que um dia matou um cara por acidente, depois disso acabou preso e deixou a namorada grávida. Contam que o pai da garota a obrigou a abortar e ela acabou morrendo junto com a criança. A mãe de Edward ao saber disto entrou em crise e morreu meses depois, seguida pelo pai que foi assassinado pelo futuro sogro de Edward.
_ Bastante comovente, mas não vejo aí o motivo para ele viver escravizando os empregados.
_ Eu sei, mas desde então ele se amarrou...
_ E o que eu tenho com isso? Ele é um assassino desnaturado e um grosseirão de carteirinha. Muito bem! É um cretino!
_ Charlotte, não faça nada do que possa vir a se arrepender depois...
_ Não farei...


Charlotte não havia entendido o que a história da vida de Edward tinha a ver com a sua maldade.
Alguns dias depois ele invadiu a escola novamente, estava chovendo muito e as crianças não haviam aparecido, Charlotte tentava livrar o material das goteiras que insistiam em cair:
_ Não me obedece não é verdade?
_ E haveria de te obedecer por quê? Charlotte voltou-se para a porta onde Edward estava parado.
_ Às vezes penso que tu és louca...
_ Não, mas ninguém manda em mim...
_ Eu vim aqui para te dar um último aviso: pare de colocar idéias na cabeça de meus empregados.
_ Eu vou te falar pela última vez que não estou colocando idéias na cabeça de ninguém Edward, eu estou ensinando e só.
_ Parece que tu não tens noção do perigo não é? Sabes com que estás discutindo? Edward entrou na sala, estava molhado, devia ter vindo a cavalo.
_ Sei perfeitamente que estou lidando com um ex presidiário, um assassino cruel que tenta jogar no destino a culpa por sua maldade... Faça-me um grande favor: me deixe em paz.
_ Eu matei um homem sim, mas foi para me defender...
_ Não me interessa, tu matou, isso me basta. Mas a morte de tua mãe, teu pai e tua noiva e o filho não deveriam ter te deixado tão duro... A não ser que tu realmente querias isso.

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