sábado, 30 de abril de 2011

— Vai embora daqui!
— Isso foi só para tu saber que eu te desejo e não vou te deixar para outro...
— O que?!!!
— Isso que tu ouviu, boa noite Illeanna!


Era simplesmente inacreditável, ele virou as costas e saiu com se nada tivesse acontecido mesmo depois de ter dito aquelas coisas, Illeanna estava sem reação, jogou-se na cama tentando esquecer o que havia acontecido, mas sua mente a impedia de esquecer, foi para o chuveiro, a água quente correndo sobre o seu corpo iria relaxar e certamente ela conseguiria esquecer ao menos por um momento de Elton.
Mas não conseguia, parecia que ele estava impregnado em seu corpo, em sua mente, era como uma praga que lhe devorava, sentia como se estivesse traindo a amiga, traindo a confiança dela.
Achou melhor calar-se, ignorar o que havia acontecido, logo iriam voltar para o apartamento e com certeza as coisas voltariam ao normal.
Na manhã seguinte Amanda e Illeanna tiveram que dividir a mesa com Elton e Dara.
O dia passou rápido, naquela noite haveria uma festa social, uma destas festas em que nada de novo acontece e que Amanda não poderia aparecer com seu novo namorado, o resultado foi Amanda e Illeanna num canto do salão de eventos falando sobre Dara que estava realmente extravagante ao lado de Elton.
Não demorou muito para que o casal se aproximasse das garotas:
— Amanda, quero te falar uma coisa.
— O que?
— Eu e Dara marcamos a data do nosso casamento...
— Ah é?!!! Amanda reagiu como se não fosse com ela.
— Não vão me dar os parabéns? Dara parecia irredutível.
— Parabéns? Isso é ridículo!!! Amanda falou e saiu fumaçando, deixou Illeanna parada no meio da guerra.


— E tu Illeanna, não vai dizer nada?
— Claro Dara, meus parabéns, espero que os dois sejam muito felizes e nada nem ninguém os separe... Não é Elton?
— E o que poderia nos separar Illeanna?
— Não sei, o destino dá tantas voltas e numa delas algo pode acontecer, mas não se preocupem, creio que nada pode separar um casal que como se diz... se merece.
Ao terminar de falar a garota saiu, precisava encontrar a amiga e convencê-la a voltar para festa.
— Amanda, eu te procurei por todo o hotel, onde tu estavas?
— Estava o tempo todo aqui no bar...
— Tu andou bebendo?
— Um pouco, mas o que vai fazer, me proibir?
— Não, pelo contrário, vim te convidar para voltarmos para aquela festa e fazer o teu pai se arrepender de ter nascido.
— Como?
— Vem comigo, vamos voltar para lá e beber tudo o que temos direito, vamos amanhecer lá e completamente bêbedas...
— Essa idéia me agradou...
Não ficou só na idéia o plano das garotas, mas elas acabaram fazendo exatamente o que haviam combinado, terminando a noite completamente tomadas pelo álcool.


Na manhã seguinte Dara partiu, Amanda mesmo com uma ressaca terrível resolveu que iria procurar por Josué já que no dia seguinte iriam embora, Illeanna porém não conseguiu nem sequer tomar café, estava com a cabeça explodindo, não conseguia nem sair da cama, mesmo depois de ter tomado um banho frio obrigada pela amiga acabou voltando para cama.
Eram nove da manhã quando alguém abriu a porta do quarto vagarosamente, Illeanna não viu ou ouviu nada, apenas sentiu quando alguém tapou a sua boca sentando-se ao seu lado na cama:
— Muito bem minha gatinha, agora podemos conversar, se me prometer eu destapo a tua boca.
Illeanna acenou com a cabeça:
— O que tu quer aqui? Ficou maluco?
— Não, vim te visitar e saber o que achou das flores.
— Como entrou aqui?
— Roubei as chaves na recepção...
— Saí daqui Raul antes que eu grite!
— Grita e tu vai te arrepender muito!
— Pois bem: socorro!!!
— Cala a boca!
— Socorro!!! alguém me ajude, por favor!
— Illeanna, o que houve? Elton entrou no quarto, demorou algum tempo para ver que alguém segurava Illeanna.
— Elton, tira esse maluco daqui!
— Ouviu a garota rapaz, saia daqui!
— Tu vai me pagar por isso Illeanna, pode esperar, e tu também coroa, pode esperar, eu não vou deixar isso em branco.


Quando Raul saiu do quarto ainda esbarrou em Elton com toda força, Illeanna estava sentada na cama, parecia não ter uma reação, Elton sentou-se ao lado dela e a abraçou:
— Quem era esse homem Illeanna? Tu estás tremendo, o que houve?
— Ele é louco Elton, está me perseguindo, eu tenho medo, medo dele...
— Calma, eu estou aqui, posso ficar perto de ti e te proteger.
— Não, tu não pode! Illeanna pareceu acordar, empurrou Elton e levantou-se.
— O que houve?
— Por favor Elton, não vamos complicar mais ainda as coisas, eu já nem sei o que faço da minha vida.
— Mas o que pode ser tão complicado para ti?
— Tudo o que tem acontecido com a gente nestes últimos dias Elton, não é certo, tu está noivo da Dara, eu sou amiga da tua filha, isso faz muita gente estar envolvida nesta trama, por favor... esquece tudo isso tá?
— Não, eu não vou esquecer Illeanna, estou noivo da Dara sim, mas isso não me impede de sentir atração por ti, é diferente, tem outro sabor...
— Eu não nasci para ser a outra!!!
— Não sei para que tu nasceu, mas para ser minha certamente foi, eu não me importo com nada Illeanna, nada, desde que eu seja teu dono...
— Elton, tu não me conhece realmente, nunca ninguém vai ser meu dono, não sou um objeto para que isso aconteça, além disso não sou desse tipo de mulher.
— Illeanna... eu te quero... Elton aproximou-se dela, segurou-a forte e a beijou.
— Não Elton, eu tenho a idade da tua filha!!!


— Mas não se parece em nada com ela, eu não te vejo como uma garota da idade dela e sim como uma mulher...
— Vai embora daqui, por favor...
— O que há de errado comigo para que tu me rejeite desta forma Illeanna? Elton soltou-a e afastou-se.
— O que há de errado? Elton, tu é pai da minha melhor amiga e está noivo de uma mulher que aparentemente confia em ti, não é o suficiente para que eu tenha ao menos medo de me aproximar de ti?
— Eu sei que tu queres tanto quanto eu quero!
— Sim, talvez eu te deseje, não posso negar, afinal tu és um homem atraente, inteligente, fisicamente perfeito, mas isso não me dá motivos suficientes para que eu esqueça do meu lugar. Eu sou muito diferente da tua filha sim Elton, mas não porque tu me vês como mulher, isso é só um detalhe, a diferença está na minha posição, eu sou de família humilde, lutei desde cedo pelas coisas que desejei, não vou deixar que tu estrague tudo agora por um capricho, não mesmo!!!
— O fato de teres vindo do interior ou de uma família humilde não me importa Illeanna, o que me importa é que eu te quero!
— Me queres como tua amante ou talvez por uma vez que seja, mas não quero isso. Por favor Elton, vamos voltar amanhã para nossas casas, pare com isso ou terei de pedir que Amanda saia do meu apartamento e contar à ela o porquê e isso seria muito dolorido para mim.
— Eu sei que jamais tu ias magoar a minha filha!
— Elton, me deixe em paz, por favor!


— Está bem Illeanna, eu vou sair deste quarto, vamos voltar para nossas casas como tu me disse, mas não vou te deixar, ainda vou te possuir.
Alguns minutos depois que Elton saiu do quarto o telefone tocou:
— Pronto...
— Illeanna, eu te disse que ias me pagar caro, o coroa está comigo e eu vou matar, vou matar esse homem... quem sabe isso te ensine a não me provocar.
— Onde tu estás Raul?
— Não me seria útil te dizer, mas quem sabe... bem, me encontre no hotel do centro da cidade, vamos fazer uma troca.
— Não posso ir agora, tenho que esperar que Amanda volte...
— Será tarde então...
— Está bem, vou chamar um táxi e irei até o hotel... não faça nenhuma besteira.
Illeanna sabia que Raul era capaz de matar Elton, não podia deixar que isso acontecesse e para piorar sentia-se responsável pelo que estava acontecendo.
Ao chegar no hotel foi informada do número do quarto e subiu imediatamente, bateu na porta e foi recebida por Raul:
— Entre Illeanna!
— Onde está Elton?
— Seguro até que tu queiras...
— O que quer de mim?
— Entre, deixe eu trancar a porta...
Já dentro do quarto Illeanna pôs-se a observar o seu redor, nada ali estava em conformidade com o estilo de Raul, tudo estava demasiado organizado, demasiado claro.


— Ele está trancado no banheiro, vivo, não se preocupe Illeanna.
— Me diga logo o quer pretende fazer comigo?
— Não te faria mal algum, tu sabes bem disto, afinal eu te amo...
— Raul, se tu realmente me amasse teria me deixado em paz fazem anos, mas não, tu insiste em me torturar...
— E tu insiste em me ignorar...
— Eu nunca desejei o mal para ti, muito dias pensava em um dia te ver mudado, mas o que encontro agora é o mesmo Raul, o mesmo marginal... não posso nem por um minuto te imaginar mudado, tu estragou tudo!!!
— Não Illeanna!!! Quem estragou tudo foi tu! Eu estava disposto a mudar, mas tu me trocou por esse homem!
— Não Raul, eu não te troquei por esse homem, porque não sou nem de um nem de outro, agora deixe ele ir, não vale a pena estragar a tua vida por isso.
— Vale, eu não vou libertar ele e com o dinheiro do resgate vou sumir daqui te levando, por bem ou por mal.
— Não, não haverá resgate, eu deixei um bilhete no meu quarto Raul, se eu não voltar ao hotel até as sete da noite com o Elton a polícia será ativada e daí pouco me importa se tu o matar ou não, não me importa se tu me matar, mas tu será preso.
— Eu me matarei antes de te matar, nunca te faria mal...
Raul acabou libertando Elton e deixando que Illeanna fosse embora junto com ele.
Mas havia algo que Illeanna não conseguia entender, algo que custaria a descobrir.


Quando chegaram ao hotel encontraram um recado de Amanda na recepção, dizia apenas para que Illeanna não se preocupasse pois ela estaria no apartamento, havia aproveitado a carona de Josué e como não havia encontrado ninguém no hotel pensou em deixar um recado na recepção.
Já no quarto Elton insistiu para que Illeanna entrasse, queria falar com ela:
— Está vendo Illeanna? Tu estavas me procurando e minha filha nem ao menos deu por falta de nós!
— Tu não ficou desaparecido tempo suficiente para que ela desse por falta, mas o Raul me ligou e disse onde estavam.
— Esse Raul parece bem apaixonado por ti!
— O suficiente para fazer uma besteira destas, mas não para cometer um erro maior.
— Vamos ficar sozinhos aqui neste hotel esta noite Illeanna.
— Eu sei, mas isso não quer dizer nada.
— Quer sim Illeanna, quer dizer muita coisa para nós dois...
— Elton, eu não quero pensar que tu estás imaginando algo, mas se tu estiveres não tente fazer com que saia da tua imaginação, porque eu não sou uma qualquer.
— Mas também não me ignora de todo, afinal se arriscou indo até aquele hotel e me livrando das garras daquele teu ex amante delinquente!
— O Raul nunca foi meu amante, e o que eu fiz não foi por tua causa Elton, mas por minha amiga, afinal não ia querer que ela perdesse o pai irresponsável dela desta forma.


— Vamos fazer uma aposta Illeanna, essa noite nós vamos jantar juntos, depois vamos voltar aqui para este quarto, se não acontecer nada entre nós eu te deixo em paz para sempre, mas se por acaso acontecer tu vai ter de me dar uma chance de provar o quanto eu te quero.
— Não vai acontecer nada!
Illeanna estava segura de si, sabia que poderia controlar seus sentimentos e mesmo os seus desejos, mas não tinha tanta certeza do controle de Elton, mesmo assim resolveu arriscar, durante todo o jantar não falaram de nada além de trabalho e estudos, porém assim que o jantar encerrou Elton convidou-a para ir até o quarto, até aí Illeanna sabia o que iria acontecer, afinal fazia parte do que haviam falado durante a tarde e restava somente isso para que ele a deixasse em paz para sempre, mas ao chegarem no quarto ela deparou com algo que realmente não esperava.
O quarto estava coberto de pétalas  rosas vermelhas e brancas, desde o chão até a cama, sobre o criado mudo havia um grande buquê, mal entraram e uma música suave invadiu o ambiente:
— Descobri que tu gostas de rosas...
— Tenho medo do que mais tu possas ter descoberto!!!
— Gostas de vinho, de músicas que relaxam e de sonhos que se possam dividir...
— Elton, isso é jogo baixo!
Ele havia aberto uma garrafa de vinho e servido duas taças:
— Vamos fazer um brinde...
— E ao que brindaremos?
— Ao nosso futuro... ou ainda tens dúvida?
— Elton, não deveriamos estar agindo desta forma.


— Não deveriamos mas estamos... não tenha tanto medo das conseqüências, o que nos importa agora é o presente, o futuro está por ser feito ainda Illeanna, não vamos nos preocupar tanto com ele.
— E o que pretende fazer?
— Esta noite pretendo te amar, amanhã o destino nos dirá...
Por um instante Illeanna ficou calada, imóvel, era tarde para fugir da loucura e cedo para julgar-se louca.
E foi assim que pela primeira vez Elton e Illeanna se amaram, como se nada existisse depois daquela noite, sem conseqüências como ela sugeriu.
Assim que o dia amanheceu Illeanna saiu do hotel.
Uma semana depois chegava no apartamento dela uma de suas antigas amigas: Isabel.
Isabel era em algo semelhante a Illeanna, principalmente nas convicções e nos ideais, mas como a outra diferenciava-se e muito de Amanda . 
Quando chegou ao apartamento e foi apresentada à Amanda esta não reagiu com um tipo muito amigável, mas logo deixou de lado a amiga de Illeanna e saiu para encontrar-se com Josué.
— Pois é Isabel, está é Amanda, a mesma de quem lhe falei, não se parece em nada com a gente, mas no fundo é uma boa garota, só que foi criada de um modo meio utópico pelo pai, criada em algodão...
— Já pude notar, mas me fale sobre o que está acontecendo contigo...
— Isabel, eu sempre acreditei na tua amizade, mesmo que estejamos a algum tempo longe ainda penso que possamos confiar uma na outra.
— E podemos...


— Eu estou a uma semana vivendo um verdadeiro inferno com o pai de Amanda.
— O coroa que não ia com a tua cara?
— O coroa que não ia com a minha cara e que agora ... Isabel, eu estou tendo um caso com o pai da Amanda.
— E ela sabe?
— Claro que não e isso é que me deixa mais nervosa, imagine quando ela souber!
— Imagino que tu vai terminar com essa loucura.
— Não sei, e para piorar ele vai se casar daqui a um mês.
— Noivo?!!! Illeanna, por favor, outra vez isso?
— E dessa vez ainda pior, dessa vez eu sei que ele é noivo, conheço a noiva dele e sou a melhor amiga da filha dele e ainda assim continuo com ele.
— Mas pelo que tu me disse isso é recente, uma semana é pouco tempo, ainda é possível terminar com isso sem que ninguém saia ferido.
— A três semanas que tudo começou, a uma semana que as coisas tem tomado um rumo mais... mais intenso.
— Tu estás indo para cama com ele, isso sim é o problema.
— Mas o que vou fazer Isabel?
— Não sei te dizer Illeanna, mas tens que contar tudo para a Amanda ou terminar com isso, não é justo que tu continue com isso e engane a Amanda, ela é tua amiga.
— Por isso te chamei para morar aqui conosco, não quero ficar sozinha com a Amanda, não suporto mais conviver com ela sabendo que estou indo para cama com o pai dela.


— Nunca imaginei que tu fosse chegar à isso Illeanna, nunca!
— Nem eu amiga, nem eu...
— Eu sempre te conheci, sei que se tu estás fazendo isso é porque sentes algo por esse homem.
— Isabel, isso é terrível, não sabes o quanto tenho sofrido com tudo isso. Nunca imaginei que chegasse à uma situação destas.
O apoio que Illeanna buscava em Isabel não era nem de longe acobertamento, mas sim alguém que a ouvisse e que não a despresasse ou a criticasse simplesmente, Isabel era exatamente o tipo de amiga que Illeanna buscava naquele momento.
Era quase noite quando Illeanna recebeu uma ligação de Amanda dizendo que só chegaria depois da uma das duas manhã, iria com Josué em um show, Isabel havia saido, ainda precisava buscar algumas coisas no antigo apartamento que dividia com uma co-cunhada.
Eram nove horas quando ouviu o interfone, era Adolfo, o porteiro anunciando que Elton estava subindo.
— Eu já te disse que não quero que me procure aqui no apartamento!
— Eu sei que a minha filha não está e só chega muito tarde...
— Elton, não vamos ser irresponsáveis, já é por demais complicado esse tipo de relacionamento, mas viver desta forma não fica só nisso, envolve muito mais coisas.
— Eu sei o que estou fazendo Illeanna, deixa de ser boba, a Amanda não vai chegar!
Eram vinte e três horas, Illeanna havia decidido que era a hora exata para que Elton fosse embora.
— Quando a gente se encontra novamente?


— Não sei Elton, não deveriamos nos encontrar!
— Cada vez que ficamos juntos e nos despedimos tu diz isso Illeanna! Eu sei que tu quer tanto quanto eu repetir esta noite...
— Está tarde...
— Te ligo no celular e marco contigo, aluguei um apartamento no outro lado da cidade para que possamos nos encontrar com mais tranqüilidade, sem ter de me preocupar com Amanda ou com qualquer outro dos teus amigos.
— Não deveria ter feito isso, vai se casar daqui a um mês!
— Isso não vem ao caso, vem cá, me dê ao menos um beijo para que eu possa ir...
Havia algo nele, uma atração que a impedia de dizer não e novamente ela deixou-se beijar, mas a porta do apartamento se abriu repentinamente:
— Isabel?!!!
Illeanna afastou-se rapidamente de Elton, por alguns instantes pensou que fosse Amanda.
— Calma, sou eu... mas deveriam ter mais cuidado, podia ser a Amanda.
— Isabel, que alívio ouvir a tua voz, não sei o que faria se fosse a Amanda! Elton, por favor, vá embora logo, não quero confusão por aqui.
— Claro, eu vou, mas não havia me dito nada sobre essa garota.
— Eu acredito que não te deva satisfação por tudo o que eu faço, mas em todos os casos, essa é Isabel, minha velha amiga e ex colega de faculdade.
— Prazer em conhecê-la, infelizmente não poderei ficar para conversarmos. Boa noite Illeanna, sonhe comigo. Elton despediu-se com um beijo rápido, ao vê-lo sair Illeanna largou-se no sofá.


— Amiga, isso é uma loucura! Já imaginou se fosse a Amanda e não eu que tivesse entrado neste apartamento?
— Já, mas tem horas que acredito que seria melhor, eu nunca vou ter coragem de falar e assim ela iria descobrir...
— E nunca mais te perdoaria Illeanna, é isso que tu queres?
— Não! Mas nem sei mais o que é certo ou errado, isso é o fim da picada!
— Tu não sabes o que fazer... mas eu sei, se vai mesmo continuar com isso é bom falar para a Amanda.
— Não posso, ela me odiaria.
— Mesmo que ela te odeie, é o certo.
— Elton vai casar em um mês, terminarei com ele e pronto.
— Espero que seja assim fácil...
— Eu também...
Por alguns dias Amanda ficou afastada de Illeanna, chegava tarde em casa e saia cedo, mas com o passar dos dias acabou voltando a se comportar como antes e mesmo se aproximando de Isabel.
Faltava um dia para o casamento de Elton, Amanda havia chego no apartamento e não encontrou Illeanna, estranhou um pouco, mas já nem sabia o que estranhar, faziam alguns dias que Illeanna saia a noite sem dizer para onde ia e só voltava no outro dia, calada e não comentava nada.
Havia um pacto entre as três, cada uma era dona de sua vida e não devia satisfações para a outra, por isso Amanda preferia calar-se em relação as mudanças no comportamento de Illeanna, suspeitava que fosse influência de algum homem, mas não sabia quem era o tal homem e nem ao menos se existia.


Porém Isabel sabia perfeitamente onde estava Illeanna, havia saido para encontrar-se com Elton e tinha ido decidida a terminar tudo...
Mas não seria isso que iria acontecer, não desta vez...
— Já passa da meia noite Elton... é dia do teu casamento, quero ir para o meu apartamento.
— Não vai ficar até pela manhã?
— Não... não quero mais ficar contigo! Hoje a tarde serás um homem casado e não tenho vocação para ser a outra.
— Mas não vou te deixar Illeanna...
— Tu não sentes nada por mim Elton, se estás comigo até agora é por puro despeito, afinal eu era a amiga da tua filha que te incomodava e tu decidiu brincar comigo para me mostrar que podia me ferir... muito bem! Tu conseguiu, agora me deixe ir embora e me esqueça.
— Não é nada disso, só não posso simplesmente terminar com a Dara, ela está comigo a muito tempo e seria injusto fazer isso com ela.
— E não é injusto fazer isso comigo? Me deixe Elton e vamos viver cada um a sua vida.
— Está bem Illeanna, vamos ver quanto tempo isso vai durar!
Era madrugada, Illeanna chegou no apartamento em silêncio, não queria que as amigas vissem que havia chorado.
O casamento foi uma belíssima cerimônia civil, sem alegria para muitos com certeza.
Uma semana depois...


— Illeanna, por favor, eu vim até aqui para te ver, não me deixe falando sozinho.
— Só vim até aqui Elton para te dizer que não vou aceitar isso! Não sou obrigada a viver essa vida dupla contigo!
— Eu te amo!!!
— Se me amasse não teria casado...
Não seria necessário dizer o que aconteceu, mas quando Illeanna chegou no apartamento encontrou Isabel:
— Esteve com ele novamente Illeanna?
— Estive, eu não posso deixá-lo, estou perdidamente apaixonada por ele!
— Não sou ninguém para te dizer nada, mas tome muito cuidado com isso.
A história estava tomando um rumo muito mais complicado do que deveria, mas haveria de piorar e muito.
— Illeanna, Isabel,   eu chamei meu pai aqui no apartamento, ele deve chegar em alguns minutos.
— Mas para que tu chamou ele Amanda?
— Isabel, eu tenho que contar uma coisa para ele, mas não queria estar sozinha, por isso chamei ele aqui, para que vocês, minhas amigas, estejam perto.
— E o que é essa coisa Amanda?
— Eu estou grávida Illeanna! Estou esperando um filho do Josué...
— Meu Deus! Elton vai ficar louco!
— Imagino que sim, mas a Amanda vai ter mesmo que falar e nós vamos ficar aqui com ela... não vamos Illeanna?
— Claro...


Quando Elton chegou no apartamento o clima não poderia ter sido mais estranho, de um lado Amanda com um ar de tristeza e medo, do outro Illeanna sem poder erguer os olhos e encarar os dois e por fim Isabel sem poder fazer nem um comentário que fosse sobre o que pensava de Elton.
— E então Amanda, o que queria me dizer que não podia ser fora deste apartamento e longe destas tuas amigas?
— Pai... é algo muito importante para mim, mas que vai deixá-lo zangado... eu sei!
— O que foi desta vez Amanda?
— Pai... eu estou grávida!
— O que?!!! Sua vadia! Elton ergueu a mão e acertou um tapa no rosto da garota que caiu sobre o sofá, Isabel correu para acudi-la, sentou-se abraçada a garota que chorava descontrolada.
— Elton! Tu não podia ter feito isso com a Amanda, isso foi uma grosseria das piores que tu poderias cometer...
— Cala a boca garota, tu nem me conhece direito!
— Não o conheço mas sei perfeitamente o quanto o senhor é grosso, não é ninguém para fazer isso com a Amanda!
— Escuta aqui garota, não tente se meter nessa história ou eu acabo por te fazer calar a boca.
— Tu o que Elton? Acredito que não ouvi direito! Tu estás no meu apartamento agora e não na tua casa, se tem alguém aqui que vai calar a boca és tu e vai ouvir o que eu tenho para te dizer.
— Illeanna, não te mete nisso, isso não é assunto teu!


— Isabel, leva a Amanda para o quarto e fica lá com ela... eu vou ter uma conversa com o Elton...
— Não, a Amanda vai embora deste apartamento agora mesmo, não vai ficar nem mais um minuto aqui, deveria ter imaginado que a companhia que ela andava ia acabar dando nisso...
— Vai Amanda, vai com a Isabel, tu não vai embora daqui coisa nenhuma...
Amanda acabou obedecendo a amiga, ao ver-se sozinha na sala com Elton Illeanna continuou:
— A tua filha está grávida, isso não significa nada de mais. Agora tem uma coisa, tu não vai fazer nada contra ela ou contra o Josué ou eu acabo falando o que existe entre nós para a tua mulher.
— Fala, fala porque eu e a Dara estamos muito bem e ela não vai acreditar em ti.
— Mas a tua filha vai, me diz uma coisa Elton, quem tu pensas que é para cobrar algo da Amanda? Tu traí a tua mulher com a melhor amiga da tua filha...
— Está bem Illeanna, eu vou embora e vou fechar os olhos para essa gravidez da Amanda, ela não deve mesmo ter culpa, afinal a amiga dela é uma vadia e deve mesmo ter influenciado a minha filha.
— Pois então Elton, essa vadia aqui está terminando tudo com esse idiota... agora saí do meu apartamento!
Alguns dias depois Amanda estava radiante, seu pai havia aceitado a gravidez e até mesmo o casamento com Josué...
— Desta vez a coisa é séria Illeanna?
— É Isabel, desta vez a gente terminou para sempre...


— Então por que tu vai para aquele apartamento com ele hoje?
— Para falar o que resta, não se preocupa, não vou voltar com ele, não dessa vez...
Amanda estava muito curiosa com as estranhas escapadas de Illeanna, imaginou que não teria nada demais se a seguisse naquela tarde, afinal Illeanna havia faltado à uma aula importante, deveria haver mesmo algo de errado acontecendo.
A cena que seguiu foi desagradável ao extremo, Amanda entrou no apartamento e encontrou o pai com a amiga, estavam discutindo e ela pode ouvir tudo:
— Seus traidores! Illeanna, eu nunca imaginei que tu fosse capaz disso...
— Amanda, eu posso explicar tudo...
— Não tem o que explicar Illeanna, eu ouvi tudo...
Amanda saiu do apartamento disparada:
— Pois bem Elton, ai está, a tua filha descobriu tudo... Illeanna terminou a frase já fora da porta, ia atrás da amiga.
Amanda não quis ouvir nenhuma explicação, mudou-se para o apartamento de Josué e não falou mais com Illeanna.
Alguns dias depois Elton procurou Illeanna no apartamento dela, estava abatido:
— O que quer aqui?
— Vou me separar de Dara...
— Vai... que pena!
— Ela me enganou.
— E tu enganou ela...
— Dara tem AIDS...


— O que?!!!
— Pensei que seria melhor te falar antes que tu soubesse por outro.
— Não... isso não...
Illeanna viu seu mundo desabar, as lágrimas logo cobriram sua face, um desespero tomou conta dela.
— Calma, eu não sei se estou contaminado, posso não estar e mesmo que esteja ainda há chance de tu não estar...
— Vai embora daqui Elton! Tu acabou com a minha vida... acabou...
Era o fim, ela havia se tornado uma mulher que nunca havia sonhado em ser, uma amante, traidora e agora podia estar com HIV, num instante tudo pareceu girar em torno dela, presente e passado se fundindo, o antigo namorado, Raul, Elton, as amigas e Dara... tudo estava desabando sobre ela.
Quando entrou no apartamento Isabel encontrou a amiga imóvel, caída no chão, ao seu lado um frasco de comprimidos, calmantes e alguns analgésicos. Estava inerte, sem esboçar qualquer reação.
No corredor do hospital Amanda encontrou Isabel desesperada.
— O que aconteceu?
— Ela tentou suicídio Amanda...
— Illeanna não seria capaz disso...
— Não, a Illeanna que eu conheci não seria, a Illeanna que saiu do interior e veio para a cidade estudar não, mas essa que encontrei sim, ela não é a mesma, foi seduzida por um homem que a transformou numa louca, acabou com ela aos poucos Amanda...
— Meu pai já soube?
— Deve estar chegando, eu liguei para ele para saber de algo...


— Pai... Amanda viu o pai entrar no hospital.
— Como ela está?
— Não sabemos pai, os médicos estão lá dentro faz quase uma hora e nada...
— O senhor tem idéia do que pode ter havido?
— Eu procurei ela a tarde, disse que a Dara estava com AIDS.
— O que?!!!
— Mas eu falei que eu poderia não estar contaminado...
— Como o senhor faz isso com ela? Pai, o senhor não tem escrúpulos?
— Illeanna é muito impulsiva, entendam, eu jamais ia causar isso por querer...
— Quem está acompanhando a senhora Illeanna?
— Eu estou doutor... Isabel adiantou-se.
— Ela está bem agora, mas por mais alguns minutos não teria sobrevivido, a dose de calmantes foi alta, causaria logo a parada cardíaca...
— Podemos falar com ela?
— Não, ela deve ficar no CTI por esta noite, amanhã se tudo correr bem será transferida para um quarto.
Quando o médico saiu Isabel voltou-se para Amanda:
— Obrigada por ter vindo Amanda, por alguns instantes imaginei que não viesse.
— Illeanna era minha amiga, eu errei ao me afastar, devia saber que meu pai tinha sido o responsável, além disso ela tem direito de se envolver com quem quiser...


— Vou para casa, se quiserem deixo vocês no apartamento, amanhã cedo vou  pegar meu teste de HIV, assim que Illeanna estiver no quarto eu já saberei se sou ou não portador.
Logo que foi transferida para o quarto Illeanna recebeu uma visita inesperada...
— Soube ontem ainda do que havia acontecido...
— O que faz aqui?
— Não te assusta Illeanna, eu sempre soube do que havia entre tu e o meu marido, desde aquela noite lá no hotel quando ele anunciou o casamento e tu falou aquela frase sobre algo que pudesse nos separar.
— E por que não fez nada?
— Porque sabia que iria perder o Elton logo... mas não te preocupa, estou saindo da vida dele e ele está livre para ti... E quanto ao vírus, ele não deve ter se contaminado, afinal foram tão poucas vezes que fizemos amor sem proteção nenhuma...
Quando Isabel e Amanda chegaram no hospital já não encontraram Dara, mas Illeanna acabou relatando a visita.
— Illeanna, meu pai está ai fora...
— E o que ele quer aqui?
— Ele fez o teste e veio te dizer qual foi o resultado...
— Illeanna, eu a  Amanda vamos sair um instante e deixar vocês a sós, qualquer coisa nos chame...
Quando as garotas sairam Elton chegou, calado, fechado:
— E então? Posso mandar fazer o meu teste?
— Não Illeanna, não precisa, eu não tenho HIV.


— Que bom para ti!
— Dara esteve aqui?
— Esteve...
— Te ofendeu em algo?
— Pelo contrário, me disse que sabia do nosso caso desde a noite em que tu anunciou o noivado... além disso tentou me tranquilizar quanto ao fato de tu ter ou não o vírus.
— E como ela tentou te tranqüilizar?
— Não deveria estar falando contigo... mas já que pergunta, ela me disse que foram poucas as vezes que vocês fizeram amor sem proteção...
— Ela não mentiu, isso é verdade... mesmo que tu não acredite e pense que ela te disse isso para te acalmar.
— E como quer que eu acredite nisso? Como tu quer que eu acredite que tu te protegia com ela se... se quando estivemos juntos tu nunca quis usar nada, mesmo que eu insistisse?
— São casos diferentes Illeanna, acredito que agora já seja hora de falarmos  francamente sobre o que estamos vivendo...
— E o que mais podemos falar sobre isso Elton? Esqueceu do que tu me chamou naquela noite em que a Amanda disse que estava grávida? Tu me chamou de vadia, mas sabes muito bem que eu não sou!
— Sei, sei perfeitamente, mas não queria te perder, ontem quando soube que tu havia cometido essa loucura eu me desesperei por um momento, mas depois tive a certeza de que tu não ias morrer, és teimosa demais para que a morte te vença. Na verdade Illeanna eu sempre menti para ti.
— Isso não é novidade!


— Me ouve agora, quando me aproximei de ti lá no hotel o que eu queria era te infernizar, assim ia te fastar da minha filha, mas acabei descobrindo que não eras tu a má companhia, mas sim a minha própria filha, era mais fácil ela te desviar do caminho que tu desviar ela. Eras certinha, correta demais até para o meu gosto, então resolvi te infernizar, acreditei que tu ias fugir de mim.
— Eu imaginei...
— Mas não parou por aí, meus planos só envolviam te infernizar, jamais pensei em te levar para cama, mas depois daquele seqüestro maluco que o teu amiguinho organizou eu acabei percebendo que além de tudo tu eras muito mais corajosa do que eu poderia imaginar e isso me fez te ver de uma outra forma... desta vez como uma mulher muito além do que eu esperava.
— E eu acabei caindo na tua armadilha?
— Não, eu é que caí na tua... eu pretendia te deixar assim que voltassemos do hotel, mas foi como um vício, eu comecei a te desejar cada vez mais, era uma atração que eu não podia controlar, foi ai que aluguei aquele apartamento.
— E eu me tornei tua amante...
— Eu estava com o casamento marcado, não poderia desmarcar e dizer que estava tendo um caso com uma das amigas da minha filha, ia ser um escandalo... então me casei com a Dara, mas não amava ela, e na verdade não te amava também.
— Que sinceridade!
— É... mas não sentia mais a mínima atração pela Dara, por isso comecei a evitá-la e quando estava com ela fazia de tudo para evitar uma possível gravidez...
— E comigo?


— Eu comecei a sentir algo diferente, percebi então que estava começando a te amar, não sentia a mínima necessidade de tomar qualquer cuidado que fosse, por algum tempo pensei que se tu por acaso engravidasse ia ser a solução, eu teria de assumir nosso caso e ia acabar tudo, principalmente o meu casamento. Mas depois eu percebi que ia acabar te ferindo mais ainda, por isso naquela noite eu te disse aquelas coisas, seria melhor terminarmos ali.
— E o que quer que eu te diga agora?
— Nada, eu já te disse tudo, mas não espero nada...
— Eu sabia que tu estavas me provocando, por vezes te disse isso, mas tu não parou... tens idéia do que tu causou na minha vida? Eu vim do interior para buscar algo, queria simplesmente viver a minha vida e tu virou-a de ponta cabeça. Tens idéia do que a minha família vai pensar quando souber de tudo o que eu vivi? Provavélmente eles não vão mais me olhar!
— Illeanna, eu quero te dizer uma coisa, quando tu sair deste hospital eu estarei esperando por ti, e então vamos viver juntos, vamos tentar ao menos uma vez em nossas vidas ser felizes.
Illeanna acabou vivendo com Elton por cinco anos, porém um dia ele saiu de casa e não voltou, ela descobriu um mês depois que havia ido viver com uma secretária dez anos mais velha do que ela.
Por algum tempo Illeanna viveu sozinha, viu Amanda separar-se de Josué para viver com o motorista deles, Isabel casar-se com um ex namorado que viuvará... um belo dia reencontrou o velho namorado que havia sido noivo de outra, descobriu que ele  havia casado , Illeanna acabou casando com este ex namorado e viveu com ele até a velhice.
Raul acabou preso e morreu na cadeia numa rebelião...


Amanda traiu a confiança do pai durante sua vida, traiu o marido durante o casamento...
Illeanna foi traida pelo namorado, foi amante de Elton fazendo com que traisse Dara, foi traída por Elton e acabou tirando o antigo namorado da esposa...
Isabel traiu seus sonhos, esperando que a morte devolvesse seu amor...
Elton traiu Dara, Illeanna e foi traído pelo destino... terminou sozinho...
Raul traiu a própria vida, dando-se à morte numa sela de cadeia...
No início desta narrativa eu perguntei quem nunca traiu, repito isso...
O traidor é muitas vezes a vítima de sua própria traição...
E então sigamos a vida: traindo e sendo traidos até que a morte nos traia.

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