segunda-feira, 25 de abril de 2011

_ Por favor, não vamos tornar as coisas mais difíceis para nós, eu vou embora e tu ficas aqui, amanhã ou depois alguém cruza teu caminho e tu vai ser feliz, mas não comigo, não com alguém que tu não quer de verdade, que tu só quer para brincar, para passar o tempo.
_ Eu não estou querendo passar meu tempo contigo, isso eu já fiz por tantas vezes com tantas mulheres... Mas não contigo, não quero só isso, quero mais.
_ Na verdade tu ficou com raiva de mim naquele dia que te falei aquelas besteiras sobre teu filho, essa é a verdade.
_ Não tente colocar palavras na minha boca Lizzie... Eu sei que fiquei extremamente ressentido com aquilo que tu me falou, mas passou.


_ Não João Pedro, eu não quero ficar, vou embora daqui a duas semanas.
Ele levantou-se e foi até ela:
_ Está bem Lizzie, tu vai embora...
Ela apenas o viu sair sem dizer mais uma palavra, sem entender o que havia acontecido naquele momento, mas algo lhe dizia que muitas coisas ainda poderiam acontecer naquelas duas semanas que lhe restavam, coisas que talvez escrevessem um novo caminho em sua vida.
No dia seguinte Dorothy voltou para casa, durante todo o dia esteve amoitada, calada pelos cantos, no jantar não quis saber de comer e logo foi para a cama.
Era quase meia noite quando Lizzie ouviu um gemido, correu até no quarto da amiga e a encontrou ensangüentada:
_ Dorothy... O que foi?
_ Meu filho Liz... Acho que estou perdendo ele.
_ Calma, vou chamar alguém, Karyn, vou chamá-la.
_ Liz, não me deixe sozinha... Por favor.
_ Eu vou até a rua, preciso chamar alguém, volto já...
Já no hospital da cidadezinha:
_ Ela estava muito mal, a hemorragia era intensa... Lizzie tentava explicar para Bruno o que havia acontecido.
_ E a Karyn que não aparece...
_ Calma! Não podemos nos apressar...
_ Liz, Mano, a Dorothy acabou de perder o bebê... Karyn entrou na recepção desanimada.
_ Droga!!! Bruno havia perdido pela segunda vez um filho.


_ As coisas são como devem ser Mano, a Dorothy vai ter outros filhos com certeza.
_ Posso ver a Dorothy? Lizzie estava preocupada com a amiga.
_ Ela está fraca, não vamos incomodá-la hoje. Vou ficar o resto da noite aqui. Karyn estava fazendo seu papel de médica.
Assim que o dia amanheceu Lizzie foi até o hospital, Bruno havia decidido levar Dorothy para a casa dele, lá estaria perto de Karyn e as coisas poderiam ser mais bem tratadas.
Lizzie resolveu ir até a fazenda de João Pedro, iria comunicar sua saída no dia seguinte, ao chegar lá encontrou-o no escritório:
_ João Pedro, vim apresentar minha demissão formal.
_ O que?
_ Estou indo embora amanhã mesmo, a Dorothy provavelmente vai ter de adiar o casamento e eu tenho compromissos na minha cidade.
_ Mas não era isso que tu tinhas dito...
_ Mas é o que tenho de fazer João...
_ Nunca! Tu vai fazer o que eu mandar o que eu quiser... Agora!
_ João Pedro! O que tu estás dizendo?
_ Que tu podes ir embora, mas que antes eu vou cobrar pelo rompimento do teu contrato, eu quero que tu me pagues...
_ Mas o que tu queres? Não estou te entendendo...
_ Não quero nada de ti... Eu quero é tudo... Tu não vai sair daqui Lizzie, não sem antes me deixar fazer o que eu quiser...


João Pedro aproximou-se dela e ergueu levemente a camisa deixando ver o revólver na sua cintura:
_ Vem comigo...
_ João...
_ Não tente me dizer nada Lizzie, apenas vem comigo.
Desta vez ela não reagiu, não até que ele a fizesse entrar num quarto escuro, paredes cobertas de armas:
_ Porque isso João Pedro?
_ Eu te quis desde o primeiro dia em que te vi...
_ Não me ameaça com esta arma...
_ Eu não queria ter de fazer isso, não queria mesmo, mas tu me obriga.
_ João, o que tu vai fazer depois disso?
_ Na verdade eu queria te prender neste quarto e te deixar aqui para sempre.
_ Não faz isso comigo...
_ Não me peça isso, não sem me jurar que não vai embora.
_ Como tu podes me pedir isso?
_ Como tu podes me deixar? João acabou a frase beijando-a e a empurrando sobre a cama.
_ Não faz isso, por favor, João...
Ele simplesmente a beijou e começou a acariciá-la com as mãos sob sua blusa, vendo o rumo que as coisas tomavam ela empurrou o suficiente para evitar os seus beijos:
_ João... Eu não quero, não assim...
_ Então me dê um bom motivo...


_ Eu acho que estou começando a me apaixonar por ti, mas eu nunca fui para cama com ninguém. Por isso João...
Ele a soltou e caminhou até a porta do quarto, sentou-se no chão escondendo o rosto com as duas mãos, por um instante somente o silêncio:
_ Lizzie... Eu não sabia...
_ Nem eu sabia o quanto tu estavas me seduzindo... Ela foi até ele e ajoelhou-se em sua frente.
_ O que eu estou fazendo das nossas vidas Lizzie?
_ Não sei...
_ Há quanto tempo eu estou te atormentando, te rondando? Eu nunca agi assim, talvez porque nunca uma mulher me disse não...
Ela apenas ergueu-se e foi até a janela do quarto...
_ Lizzie, me perdoa por tudo o que te fiz nestes últimos dias.
_ Eu nem sei o que tu tens me feito... Vim para cá apenas para buscar algo que perdi algo que fazia parte de um sonho... Mas não pensei que fosse encontrar alguém como tu... Alguém que me fizesse enlouquecer desta forma.
_ Lizzie... Me diz que não vai embora, que vai me dar uma chance de provar que não sou esse homem mal que tu vês e que sou capaz de te amar... Eu sei, comecei tudo isso apenas por um simples desejo, capricho, mas agora já não é isso, eu juro que não é isso!
_ Por favor, João Pedro, me deixe ir, eu prometo que se em alguns meses, até as próximas férias escolares, tu ainda estiver pensando desta forma eu voltarei e te darei uma chance.
_ Mas é muito tempo Lizzie, muito tempo...


_ Não João, eu quero pensar nisso melhor, quero ter uma chance para rever todas as minhas escolhas nestes últimos meses e se até lá tudo estiver como está hoje eu voltarei...
_ Mas quem me garante que tu irás voltar Lizzie? Quem me garante que tu simplesmente não vai sumir?
_ Eu te garanto João Pedro, exatamente no mês de julho eu voltarei aqui, tendo ou não tendo notícias tuas eu voltarei para decidir o que fazer com minha vida, mas amanhã pela manhã eu vou embora.
_ E como eu posso te encontrar?
_ Eu te encontro...
_ Lizzie... Não faz isso comigo... Não me deixa aqui sozinho sem ao menos ter notícias tuas.
_ Eu te juro que volto em julho João Pedro, só quero mesmo ter certeza de que não vou fazer a escolha errada, e se realmente tu ainda me quiser quando eu voltar aí então eu ficarei aqui para sempre.
_ Então que seja uma jura...
_ Será, eu te prometo que não vou me aproximar de ninguém nestes meses, gostaria que tu fizesse o mesmo.
_ Se não há outra forma, eu farei, farei tudo para que tu voltes.
A partida era inevitável, na manhã seguinte Lizzie foi embora deixando João Pedro sozinho com suas mágoas e esperanças, tinham ambos à promessa de serem fiéis e ambos o desejo de conseguir cumpri-la, mas sabiam que nada era tão fácil assim.
Em um mês Dorothy casou-se com Bruno, Karyn estava namorando firme com Frank e João Pedro preocupado apenas com sua fazenda.


Havia mudado completamente do dia para a noite, não ia aos bailes da cidadezinha, não saia da fazenda para nada além de comprar mantimentos, os negócios estavam entregues aos amigos e ele apenas preocupava-se com os animais, estava completamente envolvido com seu trabalho e seu pensamento estava tão distante que já não podia pousar sobre a pequena cidade, muitas vezes os amigos encontravam-no com os olhos fixos ao nada, deitado na rede, muitas vezes uma música lenta e sussurrante cortava o ar como se trouxesse alguma lembrança distante, uma lembrança de alguém que talvez um dia pudesse voltar, mas que talvez jamais voltasse aos poucos o isolamento de João Pedro foi tornando-o depressivo, calado e trancado somente dentro de sim mesmo e com isso os amigos acabaram por afastar-se cada vez mais até que somente vinham à fazenda para resolver os negócios, não ouviam quase à voz do amigo, não viam mais ele de um lado para o outro, mesmo os empregados começaram a estranhar o comportamento do patrão, já não ditava ordens, não cobrava os serviços e os empregados acabaram por trabalhar como bem entendiam, a fazenda caiu num marasmo inconsciente, louco e vão.
Cansados de aquele ser sempre igual todos acabaram por julgar João Pedro louco.
O outono chegou e com as folhas secas caíram às últimas esperanças de ver João Pedro sorrir novamente...

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