segunda-feira, 25 de abril de 2011

_ Pior, esse João Pedro não tem a mínima vontade de reabrir esta escola, está fazendo isso só porque o Bruno e o Frank querem que ele faça.
_ Eu não estou muito certa que poderei continuar com o menino do Bruno, ele é maravilhoso, não tenho do que reclamar, mas a tal de Karyn, ai... é uma antipatia em pessoa.
_ Temos que agüentar por pelo menos um mês aqui amiga, não quero deixar meu primo assim tão rápido depois de tanto tempo procurando.
_ Eu sei, ficarei aqui até quando tu ficares...
A amizade de Lizzie e Dorothy era antiga, já haviam passado por muitas situações juntas e certamente não seria aquela aventura numa cidade desconhecida que iria fazê-las separarem-se.


No dia seguinte Frank apareceu cedo na casa delas, trazia um recado de João Pedro. Na noite anterior havia acontecido um assalto numa fazenda vizinha a de Bruno e os assaltantes estavam foragidos, João Pedro havia mandado avisar às garotas que ficassem em casa durante a noite, não queria vê-las pelas ruas, pois temia que os assaltantes ainda estivessem pelas redondezas.
Tudo parecia bem, o aviso foi recebido em silêncio pelas duas...
Porém quando eram umas nove e meia da noite Bruno, João Pedro, Frank e Karyn apareceram na casa das garotas:
_ Não tiveram notícias do assalto? Dorothy estava curiosa.
_ Não, mas os assaltantes devem estar por aí ainda, por isso pedi que não saíssem, pois vocês são novas por aqui e conhecem o povo. João Pedro justificou o aviso.
_ Onde está a tua amiga? Karyn dirigiu a pergunta para Dorothy.
_ Estava aqui até pouco tempo... _ após um breve silêncio Dorothy concluiu _ mas só pode ter saído...
_ E onde ela pode ter ido? Bruno acabou perguntando antes que os outros comentassem qualquer coisa.
_ Só pode estar na praça... Dorothy respondeu sem pensar duas vezes.
_ Vou procurá-la... Frank dirigiu-se até a porta.
_ Deixe que eu vou, eu encontro a tua priminha teimosa... João Pedro avisou.
_ Mas... Dorothy tentou argumentar, sabia da antipatia da amiga pelo patrão.
_ Eu volto logo, não se preocupe Dorothy, tua amiga estará em muito boas mãos.


Lizzie havia sentado num dos raros bancos da pracinha, estava observando o movimento da cidadezinha, mas logo tudo havia silenciado e ela continuava naquele banco, olhos fixos nas ruas, o vento fazia uma ou outra folha dançar e nenhum outro ruído perturbava o marasmo daquele confim encantado.
Sem notar que alguém aproximava-se ela só percebeu quando as mãos pesadas tocaram seu ombro e a fizeram voltar-se para trás:
_ O que significa isso?
_ Eu avisei para que não saísse daquela casa a noite.
_ Eu não devo satisfações para ti, e me solte.
Ele retirou as mãos dos ombros dela e caminhou até a frente do banco.
_ Não tente me provocar menina, eu não gosto que brinquem comigo ou me desobedeçam.
_ Não estou te desobedecendo...
Naquele instante ele a puxou pelos pulsos fazendo com que se levantasse:
_ Não quero fazer nenhuma besteira contigo minha cara, mas se continuar agindo desta forma comigo vou acabar sendo obrigado a fazer alguma coisa para que tu fique calma.
_ Me solta seu troglodita...
_ Vamos voltar para a tua casa.
_ Eu não vou voltar contigo...
_ Nem que eu te leve daqui a força tu vai voltar, eu estou avisando: tem gente estranha na cidade, roubaram uma fazenda.
Quando chegou a casa acompanhada de João Pedro Lizzie estava com um péssimo humor.
_ Encontrou a fujona... Karyn comentou maldosamente.


_ Estava na praça, parece que não quer me ouvir. Mas eu já avisei bem: tem de me obedecer. João Pedro falou em tom irônico.
_ Parece que ela não vai ser muito fácil de dominar. João, eu acho que tu vai ter muito trabalho. Karyn continuava com sua maldade.
_ Escuta uma coisa Karyn, eu não sou uma das suas empregadas para que tu fiques fazendo estes comentários. Que sirva para ti também João Pedro, eu não sou tua empregada, não assinei contrato nenhum te dando direito em me comandar, apenas vim para cuidar desta escola até que entre em funcionamento. Não quero ninguém no meu pé... Lizzie perdeu a paciência.
_ Calma Lizzie, eu não comentei nada por mal... Karyn perdeu o ar maldoso.
_ Tudo bem, mas João Pedro, se tu ousar me dizer mais uma palavra que não seja relacionada à escola eu não responderei por mim.
_ Lizzie, fica bem calminha, eu só estou querendo proteger tu e a tua amiga, existe um assaltante por aí. João Pedro não perdia a pose.
_ Vamos deixar isso quieto, está tarde, é melhor irmos embora. Bruno decidiu acabar com a discussão.
Logo que todos saíram Dorothy aproximou-se da amiga:
_ O que ele te fez?
_ Ameaças...
_ Mas de que tipo?
_ Do tipo em que ele me disse que faria uma besteira se eu não o obedecesse.
_ Deve ser besteira dele, estava muito zangado.


Alguns dias passaram sem que as brigas continuassem. Uma bela tarde, porém Bruno chamou Dorothy ao escritório da fazenda:
_ Dorothy, meu filho vai passar cinco dias com a mãe na capital.
_ E o que farei nestes dias?
_ Nada, pode tirar folga...
Naquele dia Dorothy voltou para casa com um pensamento estranho, ao despedir-se do menino algo havia acontecido, estava com a sensação estranha de que nunca mais o veria.
Deitado na rede João Pedro estava com o pensamento distante, não sabia o que estava realmente fazendo naquele confim, mas quando recebeu a fazenda de herança lembrou-se do amor que o pai tinha pelas terras, tudo aquilo fez com que ele voltasse para a fazenda e tentasse continuar com os sonhos do pai. Mas a escola que havia sido sonho de sua mãe não o atraia, havia aceitado abrir aquela velha escola só para contentar os amigos e para ter onde deixar os filhos dos empregados por meio período, na verdade não tinha a mínima preocupação com a educação e talvez isso o fizesse agir daquela forma com Lizzie. Além do mais aquela garota tinha algo que não o deixava ficar em paz. Não entendia como o pai podia ter se apaixonado por uma professora: eram sempre tão teimosas e nunca teriam um futuro de verdade.
 Era o que ele pensava...
Havia algo por acontecer, algo que mudaria a vida de muitos deles...
Na manhã seguinte o telefone tocou na casa de Bruno, no mesmo instante um desespero tomou conta dele.
Após o velório do menino todos estavam na casa de Lizzie, haviam voltado da igreja cabisbaixos, não havia como explicar a morte.


_ Ela simplesmente ateou fogo ao menino... Bruno não podia se conformar.
_ Bruno, ela deixou uma carta, eu não quis entregar antes do enterro, mas acho que esta é à hora. Karyn estendeu um envelope.
Creio que seja a hora de falar a verdade, eu nunca amei esta criança desprezível. Ele era minha fonte de renda, mas não o suficiente. Por isso hoje eu estou matando ele e me matando, eu não tenho mais porque viver estou com AIDS, peguei de um homem há uns dois anos...
Mas o melhor eu estou deixando por último: Júnior não é seu filho... João Pedro, o teu amiguinho é o pai. Mas ele não sabe me deixou logo que soube que eu tinha um caso contigo... Dois idiotas...
A reação de Bruno foi fria, calou-se ao terminar a carta, porém João Pedro saiu quase que correndo da casa.
_ Eu vou atrás dele... Lizzie imaginou onde ele poderia estar.
Sentado sobre um túmulo dentro do único mausoléu do cemitério da casa João Pedro estava silencioso:
_ Posso te ajudar?
_ Não, saí daqui garota!
_ Eu não vou sair João... Não sem que tu saia deste lugar...
_ Era meu filho Lizzie, meu filho... Eu nunca imaginei, era meu afilhado.
_ Tu não tens culpa nenhuma, por tanto tempo tu viveu perto dele, como padrinho, mas tu não o abandonou... Tu não sabia que era teu filho.
_ Tu nunca vai entender garota! Eu não apenas perdi meu filho, mas passei toda a vida dele sem saber quem ele era e o pior: meu amigo foi enganado por um erro meu.


_ João Pedro, eu não te conheço, na verdade nem creio que vá te conhecer, mas não creio que tu ias enganar teu amigo se soubesse.
_ Lizzie, tu não me conhece, eu engravidei aquela mulher... Meu Deus! E sabe-se, talvez tenham havido outras...
_ Mas João, talvez não quer dizer sim.
_ Lizzie, tente não se aproximar de mim. Eu só sei ferir as pessoas que tentam me ajudar.
_ Como assim?
_ Meus amigos, eu vivo errando com eles, errei com meu pai por tantas vezes, ele não merecia o filho que teve, foi tão bom comigo e eu só soube causar dor, vivi pelo mundo, custei a terminar a faculdade, só quis saber de farras, de viver à custa dele.
_ Isso talvez tenha sido passado. Hoje tu estás aqui cuidando da fazenda.
_ Hoje ele está morto Lizzie.
_ A gente erra muitas vezes, mas nem sempre a culpa é nossa.
_ E o que tu entende de erros? Que erros pode ter cometido na vida?
_ Erros de escolha, minha teimosia me faz viver sem conquistar nada. Já perdi amizades por não saber voltar atrás.
_ Desculpe-me, volte para a tua casa. Não tens que ficar aqui comigo, eu sempre fui um grosseirão contigo.
_ Não é por tu ser um grosso que eu vou te deixar aqui sozinho numa hora destas.
_ Tu és boa, no fundo tu és inocente e pura como uma menina.
_ Vem para a casa, não tem sentido tu ficar aqui neste cemitério, principalmente porque todos estão preocupados contigo.


_ Está bem...
No dia seguinte a vida seguiu com certa normalidade, menos para Dorothy, pois esta estava extremamente preocupada com seu destino naquela cidade, com a morte do menino estava sem o que fazer e temia que fosse mandada embora.
Alguns dias se passaram sem que nada de novo acontecesse, Dorothy acabou ficando na fazenda de Bruno como auxiliar, uma espécie de secretária.
Era um dia comum, Lizzie estava na velha escola, havia feito uma reunião com os pais de alunos no dia anterior e naquela manhã havia resolvido aproveitar o tempo para separar alguns livros que ainda pudessem ser utilizados.
Estava tão distraída que não percebeu que alguém entrou na velha escola:
_ Bom dia Professorinha!
_ O que faz aqui?
_ Eu soube da reunião de ontem.
_ E o que soube?
_ Tu andou falando demais minha cara! Alguns pais me contaram que tu falou sobre direitos e outras coisas.
_ João, eu só falei o que devia falar, não interfira no meu trabalho, por favor!
_ Desde que tu chegou tu tens me provocado, me desafiado. Eu não quero perder a cabeça contigo, não me obrigue.
_ O que mais os pais falaram para ti?
_ Do teu modo de ser, do teu comportamento: uma professora que senta sobre a mesa, usa roupas tão curtas que quase mostra o corpo todo...


_ Chega! As minhas roupas só dizem respeito a uma única pessoa: eu. Se eu quiser eu as uso mais curtas.
_ Eu vou te ensinar a ter um bom comportamento...
_ Tu não manda em mim...
_ Eu estou perdendo minha paciência contigo! Falando isso ele a segurou e empurrou contra a parede.
_ Me solta!
_ Eu te pedi mais de uma vez que ficasse na tua, que não me provocasse, mas do que adiantou? O que tu ganhas fazendo isso?
_ O que eu estou fazendo João Pedro?
_ Desde que chegou aqui com o teu primo tu só tens feito me desobedecer, não sei... Não sei o que faço contigo...
_ Me solta João!
_ Certas vezes a gente acaba ignorando coisas que passam debaixo dos nossos olhos.
_ O que?
_ Isso... Ele a segurou ainda mais forte e a beijou.
_ Me larga! Cretino! Lizzie empurrou-o.
_ O que foi? Vai me dizer que não era isso que tu querias? Ele a soltou e ficou parado em frente a ela, rindo.
_ De onde tu tirou isso?
_ Uma mulher que se comporta deste modo só pode estar querendo uma coisa: um homem.
_ Seu idiota! Nunca mais me diga isso!


_ Eu bem que queria que tu fosse um pouco mais mansinha.
_ Pois nunca mais tu vai encostar um dedo que seja em mim! Lizzie saiu da escola faiscando.
_ Tu ainda vai ter muito mais motivo para ficar com raiva de mim guria... Muito mais! João Pedro resmungou sozinho, tinha no rosto um sorriso malino, suas atitudes eram sempre provocativas e tendiam a ser ainda mais.
Lizzie estava cansada, seu pensamento voava muito longe dali e na sua mente uma só certeza: não teria que suportar as agressões de João Pedro, não estava precisando ficar naquela fazenda. Mas não queria deixar o primo, teria que esforçar-se um pouco mais para não sair dali no dia seguinte como era seu desejo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário