sábado, 30 de abril de 2011

Erros do amor

                                                                          ERROS DO AMOR

Da janela do escritório podia observar o movimento de quase meia cidade, uma infinita selva de pedras que crescia cada dia mais diante de seus olhos. Amália Dalarossy, um nome conhecido no meio empresarial, mas um rosto que poucos haviam visto até então. Era um verdadeiro mistério para todos, boatos tomavam conta de sua vida, havia surgido do nada e era agora a pessoa que comandava o império da família Dalarossy. Um império imobiliário de grande renome.
Um dia havia sido apresentada como parte da família e desde então seu nome foi parte das páginas dos mais importantes jornais, porém nunca haviam permitido fotos ou imagens da tal Amália Dalarossy, jovem e poderosa.
Porém por detrás de todo poder e da força esboçada por esta mulher havia um grande mistério, um mistério que poucos conheciam.
Sentada em sua mesa de mógno naquele escritório de pesada decoração, uma sobriedade profunda, uma séria empresária.
Naquela tarde uma triste saudade havia tomado conta de seus pensamentos, erguendo a cortina olhou através da janela, lá fora somente prédios e carros, voltou-se para sua mesa, no rosto uma lágrima escorria. Ninguém sabia mas a dura e poderosa Amália era uma mulher cheia de mágoas.
Perdida em seus pensamentos ela não ouviu quando a porta abriu-se e por ela entrou uma senhora idosa, sua simpatia invadia todo o ambiente, um sorriso fez com que Amália voltasse o olhar, secando a última lágrima abriu um sorriso meio disfarsado:
_ Martinha... que boa surpresa!
_ Desconfiei que estavas novamente chorando... por quanto tempo vou te ver chorar minha filha?


_ Não sei Mamy, não sei... queria que nada disso houvesse acontecido comigo.
_ Nunca poderás esquecer, é isto que te aflige?
_ É... queria tanto que o Peter estivesse aqui, queria tanto ouvir ele novamente. Ah, Mamy, sinto tanta falta dele, de um abraço carinhoso.
_ Meu filho era um anjo e sua recordação vai sempre estar conosco, mas não fique assim, ele está sempre contigo.
_ Se tudo fosse verdade, se tudo não fosse uma grande mentira!
_ Ainda me lembro de como tudo começou a mais de seis anos...
As lembranças de Amália voltaram...
Era uma garota normal, sempre havia sonhado com o grande amor de sua vida, um dia ele a procurou, começaram a namorar, tudo corria bem, noivaram num período muito curto e então as coisas começaram a mudar.
Ele sempre insistia em levá-la para cama, mas apesar dos tempos terem mudado ela tinha certos costumes e regras que não inflingia.
Um dia ele sumiu, deixou-a sozinha, inicialmente ela deprimiu-se, mas tinha amigas e estas a fizeram ver tudo de uma outra forma, convenceram-na de que ele não a merecia e ela acabou por consolar-se.
Mas ele voltou, dois meses depois voltou e procurou-a, ela não quis encontrá-lo, estava magoada apesar de ter curado as feridas do abandono.
O inferno começaria ali, certo dia ele a encontrou sozinha e a abrigou a acompanhá-lo até uma casa deserta, lá com uma faca em sua cintura a obrigou a entrar num dos quartos, as palavras dele foram duras:
_ Não tem ninguém aqui para te ouvir, isso quer dizer que podes gritar...para mim pouco importa se eu te mato ou te possuo, está em tuas mãos decidir.


_ Prefiro que tu me mates!
Ele porém não a matou, ameaçou-a mais e chegou ao ponto de espancá-la, então a possuiu por um longo tempo, depois simplesmente a trancou no quarto voltando quase uma hora depois para encontrá-la banhada em lágrimas, sentou-se então perto dela e com um sorriso maligno começou:
_ Me despresaste, eu só fiz com que me recordes para sempre. Ninguém brinca comigo garota, ninguém! Agora tu nunca mais poderá me esquecer.
Ela não respondeu nada, estava completamente transtornada.
_ Vou te levar até em casa e tu decide se queres me denunciar e dizer à todos o que houve ou ficar calada e não te humilhar mais.
Meses depois ela saiu de casa, estava grávida de quatro meses e não havia mais como esconder, a família consentiu seu sumisso.
Possuia algumas economias e com elas alugou um apartamento por um mês e foi ali, naquele prédio que nasceu Amália...
Estava a alguns dias no prédio quando uma bela tarde ia entrando no apartamento quando viu um jovem saindo da porta vizinha, ele estava pálido e num repente caiu. Assustada ela correu para socorrê-lo, ele então voltou a si e com alguma ajuda levantou-se:
_ Vou chamar um médico...
_ Não, não precisa não moça, eu já sei o que tenho, mas se puder me dar um copo d’água...
No apartamento ele disse chamar-se Peter Dalarossy e contou sua história, estava com câncer e desenganado dos médicos, após narrar sua história ele perguntou sobre ela, então a pobre garota que tornaria-se Amália contou sua triste história.
_ Posso tocar sua barriga?


_ Claro...
Tocando ela Peter parou por um instante e após alguns segundos disse:
_ Minha mãe quer muito um neto, mas eu já estou estéril por causa da doença, quero ser o pai dessa criança.
_ Isso seria loucura e mentira!
_ Não faz mal, quero que minha mãe seja feliz ao menos uma vez.
E assim ele a apresentou como sua namorada... quando a criança nasceu foi registrada como filho de Peter Dalarossy e Diana Salvador, porém quando o menino tinha dois meses Peter faleceu, Diana não quis manter a mentira e revelou tudo à senhora Marta Dalarossy. Foi aí que morreu Diana Salvador e nasceu Amália Dalarossy, a única herdeira de um império monstruoso.
E desde então Amália viveu uma grande mentira.
_ Martinha, queria muito apagar tudo, menos vocês... menos meu filho, a senhora e Peter.
_ Agora tudo está feito, Diana não existe mais como tu mesmo desejou, mas minha filha, deverias procurar o pai do menino, não é justo que ele viva sem um pai tendo um por aí.
_ Não! Peter é o pai dele e está morto! Christian não existiu!
_ Ele fez tudo por despeito, mas não é justo que não saiba que teve um filho.
_ Desculpe-me, desculpe...mas não posso.
_ Meu filho te amou muito, muito...
_ Eu sei, infelizmente eu não o encontrei antes...
Peter era uma pessoa doce, um homem maravilhoso que fora atacado pelo câncer de uma forma destrutiva. Tinha sempre uma palavra amiga, um carinho para distribuir.


Naquela noite Amália não pode conciliar o sono, estava por demais cansada e tinha muitas lembranças formigando em sua mente. Havia uma certeza em toda sua vida: ela nunca poderia esquecer Christian, havia alguém com seu rosto que todos os dias pela manhã corria em sua cama e a abraçava com um beijo de bom dia, depois a chamava de mãe.
Era como uma maldição: a criatura que ela mais amava em sua vida, o motivo pelo qual não desistira de lutar era parte do homem que havia acabado com sua vida.
Amava seu filho: Peter Dalarossy Júnior, mas ao mesmo tempo sabia que  o nome de seu filho era uma mentira, que tudo o que estava vivendo não era parte de sua vida, apesar de ser Amália no fundo ainda continuava sendo Diana, continuava sendo a mesma garota sensível que um dia partiu sem olhar para trás.
Sua vida era um mistério para toda a sociedade, boatos rondavam sua existência e nunca haviam confirmações, só mais dúvidas sobre quem na verdade era Amália Dalarossy, mas ela sabia que nunca iriam encontrar uma explicação, pois na verdade ela não existia até o exato dia em que adentrou a empresa e foi direto para a sala da diretoria, naquele dia surgiu a figura misteriosa que despertava curiosidade da imprensa e da sociedade, mas nunca apareceu em festas ou em locais em que pudesse ser fotografada, seu nome era um mito, seu rosto um mistério.
Amália era quem comandava o império, tinha em suas mãos o poder de decidir, mas a herança da família era ainda abeyance ao menos no que todos pensavam, mas com a morte de Marta tudo seria de Peter Júnior, mas isso pouco importava, ela era a verdadeira comandante do império.
Porém nem tudo o que se esconde para sempre pode permanecer oculto...


Haviam algumas semanas que a secretária de Amália havia pedido demissão por motivos pessoais, assim ela havia posto nos jornais anúncios para o cargo, naquela manhã várias candidatas haveriam de apresentar-se, as entrevistas seriam feitas por Amália. Na quinta candidata, cansada e insatisfeita ela recebeu a jovem sem ao menos olhar, estava com o olhar perdido na mesma janela do dia anterior e com o pensamento mais longe ainda, apenas mandou que a candidata sentasse e pediu que falasse algo sobre o emprego, a candidata começou:
_ Vim procurar este emprego porque realmente preciso, não sei nem ao menos com quem irei trabalhar, mesmo porque a senhora nunca se mostrou ao público...mas preciso so emprego.
_ Qual seu nome? Perguntou Amália apenas por praxe sem voltar os olhos.
_ Meu nome é Alice Cauvernny.
Ao ouvir este nome Amália teve um impacto, voltou-se para a candidata e a encarrou seriamente:
_ Alice?
_ Você?
_ Alice, por favor, não podes falar à ninguém quem sou.
_ Está bem, mas o que houve? Como tu chegou aqui?
_ Um momento por favor... Amália pegou o fone e pediu que dispensasse as outras candidatas.
_ Vamos começar por onde creio que seja o começou disto...
Amália narrou toda a história...
_ Mas minha amiga, se é que ainda somos amigas depois de tantos anos! Por que nunca mais voltasse?
_ Não queria que ninguém soubesse.
_ Nem tua família?


_ Principalmente eles, não me apoiaram quando precisei, eu tive um filho sozinha, quer dizer, Peter foi meu apoio, minha âncora e meu porto seguro. A única coisa de que me arrependo foi de não tê-lo encontrado antes, ele me amava... talvez somente ele tenha me amado neste mundo cruel.
_ É uma história comovente, mas não sei até onde tua mentira poderá ir, assim com te encontrei ele também poderá encontrar...
_ Não posso ter tanto azar e além disso me encontrar é uma coisa e saber que tenho um filho é outra e além disso saber que esse filho é dele é uma coisa mais além ainda.
_ Mas o menino tem direito de saber quem é o pai...
_ O pai dele é o Peter, foi ele quem deu um nome e uma oportunidade de vida para nós, somente Peter merece ser lembrado.
_ Mas ele não é o pai, um dia teu filho vai precisar saber disso.
_ Alice, não me venha com essas idéias agora!
_ Diana, não tente mentir para ti mesma.
_ Não me chame de Diana, para todos eu sou Amália, Diana morreu junto com Peter.
_ Isso é uma farsa! Não é certo!
_ Eu adotei este nome, dentro de todos os tramites da lei, não há nada de irregular, e minha posição só se deve ao meu carinho por Martinha, mãe de Peter.
_ Di...Amália, não mate teu passado, nem mesmo Deus pode apagar as sombras de nossa vida, somos como plantas: temos raízes.
_ Alice, estás contratada, aqui está meu endereço, se quiseres continuar conversando sobre isso me procure lá.
Quando Alice saiu Amália largou-se em sua cadeira, a candidata era uma antiga amiga, a que um dia havia convencido ela de que Christian não a merecia.


Realmente somos árvores... mesmo nos arrancando pelas raízes há sempre um resto de nós onde nos plantaram. Amália pensava no que a amiga havia dito, tinha certeza de que nunca poderia arrancar por completo o passado de sua vida, mas não podia deixar de lutar contra toda a dor que havia passado.
Eram vinte horas quando alguém tocou a campanhia do apartamento, não haviam empregados e Amália atendeu, era alice.
_ Imaginei que viesse...
_ Não pude deixar de pensar na história que tu me contou.
_ Se queres o emprego que te ofereci terás que seguir algumas regras que tem fundamento nesta história.
_ E que regras seriam estas?
_ Nunca ninguém viu Amália Dalarossy, a imprensa nunca pode me filmar ou fotografar, meu rosto tem de continuar sendo um mistério para todos, para tanto quem for minha secretária tem de estar disposta a ceder sua imagem em lugar da minha, frequentar todos os eventos e além disso estar alerta para evitar que qualquer cinegrafista ou fotógrafo se aproxime do escritório.
_ Mas para que tanto mistério?
_ Não quero que Christian sonhe que eu ainda existo, somente por isso, criei esse mistério sobre minha imagem e ele me rendeu muito até então, todos querem conhecer quem é Amália, chegam a fechar negócios com a empresa para tentar me ver, não podem conseguir, mas com certeza uma imagem minha custa muito mais do que um contrato exclusivo com a Dalarossy Company.
_ E o que a dona da empresa pensa sobre isso?
_ Nada, ela me deu carta branca desde que comecei a administrar esse império.
_ E o teu filho? Como ele é?


_ Júnior tem seis anos, é um belo menino, saudável, alegre...não tem problemas, exeto um: seu verdadeiro pai.
_ Isso não está certo...não está! Mas estou precisando muito deste emprego, eu aceito as condições que tu impõe, serei tua secretária, em nome da nossa amizade.
_ Muito bem Alice! A propósito, tens onde morar?
_ Estou morando com meu irmão...
_ Eu vou providenciar um apartamento, com certeza teu cargo vai trazer alguns imprevistos e teu irmãos não vai querer a imprensa na porta dele.
_ Tu tens muito dinheiro, isso é verdade não é?
_ Não, na verdade eu não tenho nada, a empresa é de Martinha, um dia será de meu filho, mas nunca minha, não aceitei nada da herança deste família, já me deram muito, já me deram um nome e um lar.
_ E quem foi Peter?
_ Peter foi um amigo maravilhoso, lembro-me do dia em que faleceu, eu estava na sua cabeceira, segurava suas mãos, não tinha mais o aspecto de quando o conheci, havia emagrecido muito e chegava a estar transparente, então ele me olhou e sorrindo começou a falar...
Novamente Amália viu-se num quarto de hospital, tremula e quase chorando ouviu a derradeira despedida:
_ Nunca me esqueça amiga, nunca me esqueça... quero que me prometas ser feliz. Teu filho é meu também, mesmo não tendo meu sangue... me promete que vai ser feliz, me jura... e nunca esqueça que onde quer que eu esteja eu estarei contigo como estive nos últimos meses, segurando tua mão... eu te amo... E ao falar isso ele apagou como uma estrela ao amanhecer.


_ E foi assim que ele morreu Alice, me deixou uma carta que guardo ainda hoje...
_ E o que dizia esta carta?
_ Algo que nunca vai acontecer...
_ E o que é esse algo?
_ Eu vou te mostrar a carta, tu és a segunda pessoa que a verá...
Amália foi até o quarto e voltou trazendo um envelope, estendeu-o para que Alice lesse.
Era uma carta curta, mas seu conteúdo resumia tudo o que Peter queria dizer:
Diana, nunca esqueça de mim, eu estarei sempre te acompanhando como um sopro de vento, um raio de luz ou mesmo o vácuo.
Quando te encontrei naquele corredor eu encontrei o amor...pena que era tarde demais para mim, mas não é para ti e mesmo que me negues isso e chegues a zangar-se cada vez que tento falar sobre isso, eu sei que não odeias o pai de teu filho e algo me diz que ele foi infeliz ao tentar demonstrar uma mágoa qualquer... não sofra por algo que podes evitar.
O Júnior é meu filho de todo o coração, mas não tem meu sangue, não quero ser injusto, diga um dia à ele toda a verdade... e por mais que seja duro para ti voltar atrás, pense bem no que sentes por esse tal Christian, porque se não o odeis é melhor que tu o procure e conte ao menos a verdade sobre o que aconteceu depois do que houve entre vocês.
Diana, eu te amo...pense em mim ao menos um pouco na tua existência, e nunca, nunca deixe de amar, mesmo que o amor te machuque. Um dia pode ser tarde para amar como foi para mim, não deixe ser para ti.
Te amo...
Peter.


_ Não sei nem o que te falar Amália...
_ Nem eu sei o que falar quando leio isso, mostrei-a somente para Martinha.
_ Ele deve mesmo ter te amado...
_ E eu não soube amar...
_ Não queres saber nada do Christian?
_ Não!!!
_ Está bem...
_ Tens visto ele?
_ Não, ele sumiu, voltou depois que tu saiu de lá e depois nunca mais.
_ Deve estar casado...
_ Creio que não, quando ele voltou foi para te procurar, perguntou para muitos e não te encontrando sumiu.
_ Não sei se deveria perguntar sobre ele... mas as vezes me dá uma tristeza tão grande, ainda penso nele... o pior é que ainda penso nele.
_ Nunca mais te envolveste com ninguém?
_ Não...
_ Então tu o amas ainda?
_ Não sei nem se um dia o amei...
Sempre havia um dia depois do outro, na manhã seguinte Amália foi novamente trabalhar. 
Dentre os negócios da empresa estava o ramo da locação de imóveis, naquela semana um cliente havia ligado várias vezes para a empresa reclamando sobre uma casa que havia alugado em alguma outra cidade, cansados de encaminhar o mesmo às várias secções da empresa resolveram que seria melhor que Amália o atendesse.


Alice estava conhecendo a empresa, assim o cliente foi encaminhado diretamente à sala de Amália.
O cliente entrou e foi logo recebido, porém quando Amália ergueu os olhos seu choque foi enorme:
_ O que quer aqui?
_ Isso deve ser uma brincadeira do destino... te procurei tanto e te encontro aqui...
_ Saí da minha sala!
_ Tua sala? Vim procurar Amália Dalarossy e não Diana...
_ Vai embora daqui Christian, eu sou Amália e Diana morreu no dia em que te conheceu...
Ela tremia, estava sozinha e não tinha defesas contra aquele homem: a poderosa Amália estava tão indefesa quanto no passado.
_ Tu não vai te livrar de mim tão fácil... Diana...
_ Saí daqui!!! Ela havia perdido o controle e gritava com ele, foi então que Alice entrou na sala, vendo a cena ameaçou chamar os seguranças e expulsou Christian da sala.
_ Me ajuda Alice... Amália estava descontrolada, chorava.
_ Calma, tudo tem um jeito, Christian não vai te incomodar, ele nem sabe onde tu moras...e aqui na empresa os seguranças não deixarão que ele te procure.
_ Mas agora ele já sabe que sou Amália...
_ Isso teria de acontecer algum dia, agora pelo menos já não precisas fugir da imprensa.
_ Eu não me importo com minha imagem, só não queria encontrar esse homem, nunca mais...


_ Ele é o pai do teu filho, isso não dá mais para negar.
_ E o que faço agora?
_ Nada! Vamos deixar o barco correr, ele não sabe nada do Júnior, talvez nem descubra.
Mas Amália tinha certeza que ele descubriria...
                      Alguns dias se passaram até que num belo domingo pela manhã Amália havia saido com seu filho, queria caminhar um pouco com o menino, mas em frente ao seu prédio encontrou Christian, num segundo afastou o menino e mandou-o brincar no playground. Quando Christian se aproximou ela estava só:
_ Então descobri onde tu moras?
_ Não te interessa. E quer saber de uma coisa? Some da minha frente, tu já me fez sofrer que chega.
_ Não fale desta forma comigo minha rainha, eu te queria tanto...
_ Vai pro inferno!!!
Christian saiu sorrindo, outra vez estava enlouquecendo a pobre Amália.
Uma idéia surgiu na mente ela, precisava descobrir uma maneira de esconder o filho, Christian logo iria perceber que o menino era dele e então tudo se complicaria muito mais.
Ao voltar para o apartamento ligou para a amiga, precisava conversar com alguém, trocar idéias sobre o que faria.
_ Onde está o menino?
_ Deixei ele brincando no quarto, não quero que ouça o que vamos falar.
_ E o que tu pretende fazer agora que Christian voltou?


_ Nada, quer dizer, Christian não pode saber que o menino é filho dele. Meu filho tem seis anos incompletos, mas é muito esperto...logo perceberia que há algo errado se me visse discutir com Christian. Mas pretendo mentir sobre a idade de meu filho, para todos os efeitos ele tem cinco anos recém completos...
_ E tu acha que isso vai fazer com que Christian te deixe em paz?
_ Não, mas não me importa o que ele fizer ou deixar de fazer comigo, só não quero que se aproxime do Júnior.
_ Tem certeza de que não te importa?
_ Tenho, ele já fez tudo o que poderia fazer de mal comigo, nada mais pode acontecer de ruim vindo dele... a não ser tomar meu filho, mas isso será um caso impossível para a justiça... eu criei o menino e tenho melhores condições do que ele.
_ Então por que tu temes ele? Tudo está a teu favor...
_ Eu sei... mas os sentimentos de meu filho são mais importantes do que qualquer coisa, não quero o Christian perto dele, por nada neste mundo.
_ E se ele descobrir? E se entrar na justiça e ganhar? Não sabemos o que ele fez da vida nestes últimos seis anos, pode ter se firmado, pode ter tantas condições quanto tu tens.
_ Talvez, mas prefiro não acreditar nisso, ainda falta ele descobrir que tenho um filho, isso me fará ganhar tempo.
Por uma semana Amália permaneceu trancada no escritório, só saia para voltar ao apartamento e lá não atendia telefonemas, seu medo era constante e crescente.
Porém uma bela noite ela viu seu apartamento ser invadido por Christian, com um sorriso estampado no rosto ele entrou logo que a porta foi aberta pela empregada:
_ Amália, finalmente descobri teu apartamento. Espero que compreendas de uma vez por todas que não adianta fugir de mim, nunca poderás te esconder eu te encontrarei em qualquer lugar. Custe o que custar.


_ Tua cretinice não tem limites Christian. Mas está bem, diga logo o que quer de mim e vá embora.
_ Quero saber o que te fez virar essa mulher tão dura, essa mulher de negócios que ninguém conhece de verdade.
_ O que me fez virar essa mulher dura foi um vagabundo que me estuprou, ele me fez matar a pobre Diana e nascer essa mulher que não tem sentimentos.
_ Eu não matei a Diana, ela só está escondida sob essa fachada de mulher dura, no fundo tu continuas sendo a mesma  eu sei como trazer a antiga mulher de volta.
_ Quero que tu vá embora daqui Christian, eu já não sou a mesma e creio que tu também tenha mudado. Vamos deixar esse passado bem enterrado como esteve até agora.
_ Pois para mim o passado nunca esteve enterrado, apenas dormente enquanto te procurei, se tu soubesse o que vivi nestes últimos anos Diana, se tu soubesse o quanto te procurei... queria saber o que havia sido de ti.
_ Querias saber se eu havia esquecido o que tu me fez! Não, não esqueci, na verdade nunca mais fui capaz de amar, meu coração endureceu.
_ Então me amavas?
_ Se queres mesmo saber eu nem sei...pode ser que tenha te amado um dia, mas agora só sei te odiar. Vá embora daqui!
_Mãe... o que foi? A mãe gritou? Júnior entrou na sala, Amália havia alterado a voz e o menino assustado havia vindo ver o que acontecia.
_ Meu filho... não foi nada, esse senhor já está de saida...
Amália abraçou o menino e o ergueu no colo, encarando Christian continuou:
_ Por favor, o menino está assustado, vai embora e não me procura nunca mais...
_ Teu filho? E quantos anos ele tem?


_ Cinco, cinco anos recém completos...
_ Isso descarta a possibilidade...
_ Peter Dalarossy Júnior, esse é o nome dele...
Christian saiu do apartamento com um pensamento na cabeça, horas depois sozinho em sua casa pensava no que havia ouvido. Amália havia afirmado que nunca mais amará ninguém, ele bem a conhecia e podia imaginar que ela não teria um filho de alguém que não amasse, restava descobrir a verdade e ter provas sobre isso.
Logo contratou um detetive, queria saber tudo sobre o menino, queria descobrir a verdade.
Após algum tempo de investigação ele soube a escola onde o menino estava e daí foi um passo simples descobrir a idade real do menino.
A tarde prometia ser chuvosa, o escritório estava escuro, Amália sentada atrás de sua mesa pensava em tudo o que havia acontecido, de repente viu seu escritório ser invadido por um homem furioso, Alice tentava contê-lo mas nada era capaz de abrandar sua fúria.
_ Deixe-o Alice, deixe que ele diga tudo o que tem para me dizer.
Assim que Alice saiu do escritório Christian começou:
_ Não adianta mentir para mim Diana, não adianta. Eu fui até a escola do teu filho...ou devo dizer do nosso filho?
_ O que?
_ Eu sei que tu mentiu sobre a idade do menino, sei que tu não falou a verdade.
_ Menti, se queres saber menti mesmo e não me arrependo.
_ Então o menino é meu filho?


_ Pode ter teu sangue, mas não é teu filho, o pai dele é o único homem de valor que conheci em toda a minha vida.
_ E quem foi esse homem?
 _ Peter Dalarossy, ele foi um grande amigo, registrou meu filho e deu à ele tudo o que temos hoje.
_ Tudo uma grande mentira, a grande Amália Dalarossy não passa de uma grande farsa.
_ E tu Christian, o que tu és senão uma farsa?
_ Eu?!!! Por que seria uma farsa?
_ Todos pensavam que tu fosse alguém de respeito naquela porcaria de cidade e na verdade tu és o tipo mais baixo que já conheci.
_ Te enganas minha cara, não sou baixo, o que fiz foi somente contigo, nada foi por outro motivo, somente por ti.
_ Não tente justificar tuas atitudes baixas...
_ Nem tente me culpar por tudo, tu não me quis, me fez de palhaço.
_ O que eu te fiz? Tu me deixou simplesmente, não ia te aceitar de volta assim.
_ E eu não ia te deixar simplesmente? Não, ninguém me deixa de lado da forma que tu me deixou.
_ E o que tu vai me fazer agora? Vai por acaso voltar para nossa cidade e contar à todos que eu sou Amália Dalarossy? Vai contar à todos que tenho um filho? Porque se for isso pode ir em frente, nunca vão acreditar que tu és o pai dele.
_ Isso seria uma boa idéia, mas não, pretendo fazer outra coisa, pretendo requerer a paternidade dele. Vamos ver se tu não desce do teu altar, vamos ver se tua querida sogrinha não te deixa de lado...


_ Martinha sabe de tudo, eu mesma fiz questão de contar nos mínimos detalhes o que aconteceu, tanto ela como o filho me acolheram sabendo da verdade. Eu não sou uma mentirosa Christian, eu só apaguei meu passado.
_ Tu mente para ti mesma quando diz isso, teu passado continua vivo e te chama de mãe.
_ Júnior é meu filho, a única coisa que me restou de bom de quando eu era Diana, tu não passou de um vagabundo, se és o pai biológico dele não passará disso, o sangue dele não me importa, importa somente que eu o amo.
_ Amas o meu filho? E ainda assim me dizes que me odeias?
_ Claro! Eu odeio o homem que acabou com a minha vida, que me fez embarcar nessa história maluca de ser quem nunca fui. Se matei meu passado e cheguei a mudar de nome foi para nunca mais te encontrar, mas tu insiste em meu fazer relembrar.
_ Eu nunca te esqueci, essa é a verdade... mas se não queres me ouvir saiba que já procurei um advogado e que ele irá te procurar. Quero meus direitos sobre meu filho, e tu não vai me impedir de ser o pai dele.
_ Tente, não poderás me vencer Christian, nunca.
_ Só uma pergunta: por acaso tu me esqueceu algum dia da tua vida?
_ Não...nunca esqueci teu fantasma, infelizmente não posso mentir. Agora saia daqui, nos veremos no tribunal.
Não haveria como escapar das ameaças de Christian...
Naquela mesma noite a sociedade mataria sua extrema curiosidade, pela primeira vez Amália apareceria em público num coquetel. A surpresa foi geral, principalmente porque a imagem que todos tinham de Amália era de uma mulher mais velha, madura e o surgimento de uma jovem causou susto na maioria das pessoas.


Finalmente todos conheciam o misterioso rosto da mulher que por cinco anos permaneceu como um mistério para todos, era o começo de uma nova etapa na vida de Amália, o começo de uma etapa que poderia siginificar o fim de muitas outras inacabadas.
Na manhã seguinte um senhor apareceu no escritório de Amália, diz-se advogado de Christian e logo começou a falar sobre as intenções de seu cliente:
_ O senhor Christian está disposto a entrar na justiça pedindo a guarda do menino.
_ Isso é uma piada, Christian não tem direito algum sobre meu filho...
_ Ele poderá provar que é o pai biológico do garoto minha senhora, segundo ele não há a menor dúvida sobre a paternidade.
_ Realmente não há, mas só nós sabemos disso, meu filho tem um registro legal, um nome, não quero que ele tenha outro pai senão aquele que o acolheu como tal.
_ Não depende de querer ou não minha cara, meu cliente está ciente de seus direitos, vamos entrar na justiça.
_ E o que vai alegar contra mim? Eu tenho condições de manter o menino, muito mais do que ele, sempre fiquei com ele, criei ele sozinha até hoje. Não haverá um juiz sequer que me negue a guarda de Júnior. Não precisa me ameaçar ou algo assim, eu estou muito mais ciente do que o senhor pensa sobre meus direitos e deveres, para seu juízo eu fiz faculdade de direito, apenas não exerço minha profissão.
_ Não estou ameaçando a senhora, só alertando quanto aos direitos que meu cliente possui.
_ Ele poderá conseguir no máximo o direito a uma visita mensal, nada mais.
_ Pense bem Amália, eu tenho muito sobre ti para apresentar aos juízes se for preciso.
_ Como o que por exemplo?


_ O fato de tu estar usando o menino para manter tua posição social, posso alegar isso em juízo e será como uma bomba.
_ E o que quer em troca para não usar isso?
_ Meu cliente quer conversar contigo na casa dele, se pensar no caso ligue para ele.
_ Não vou à lugar algum me encontrar com ele...já disse que sou formada em direito, conheço os truques sujos da profissão, provavélmente o senhor alegaria que eu procurei Christian para negociar minha posição no caso. Não tente me enganar, sou calejada no mundo dos negócios e advocacia é um negócio... Amália reagia friamente, mesmo para o advogado sua posição era inesperada.
_ Pois bem, então nos veremos no tribunal...
Quando o advogado deixou sua sala Amália chamou Alice:
_ Estás vendo? Ele já contratou uma advogado.
_ E agora, o que tu vais fazer?
_ Nada... vou esperar...ele pensa que eu vou enlouquecer e procurar por ele, mas não... vou simplesmente esperar.
_ Tem certeza que isso é a coisa certa neste momento?
_ Não, não tenho mais certeza de nada, mas não posso esperar por certezas, tenho que fazer algo, nem que esse algo seja somente fingir que ele não me atinge.
_ Mas ele te atinge...
_ Ele me machuca como sempre fez... nunca conseguiu ficar um minuto comigo sem me machucar.
_ Eu não imaginava isso, nunca poderia pensar que tu tivesse mudado completamente tua vida.


Amália silenciou, não havia mudado sua vida, havia morrido quando ele a deixou sozinha, havia morrido antes mesmo de ter engravidado.
Seu medo crescia a cada minuto, mas não podia demonstrar, não poderia deixar de ser a poderosa Amália para voltar a ser a pobre e indefesa Diana.
Seu medo maior era ter de enfrentar Christian frente a frente, suas defesas estavam esgotando-se, já não tinha mais certeza de algum dia ter sido forte.
O processo de reconhecimento de paternidade foi iniciado, a justiça corria lentamente enquanto o sofrimento de Amália não seguia o mesmo rítmo, era acelerado.
Uma bela noite o telefone tocou, havia indecisão nas atitudes dela, outra vez a mulher de negócios havia sumido e os jornais especulavam o que poderia estar acontecendo, fofocas rondavam toda a sociedade sem que nenhuma delas atingisse os pés da realidade, tremula como se algo a avisasse do que estaria por vir ela atendeu a ligação:
_ Pronto...
_ Olha só, ela ainda está viva! Amália ainda existe...
_ Quem está falando?
_ Não lembra de mim? Oras, podes não lembrar de mim quando falas em Amália, mas a Diana deveria recordar muito bem de mim.
_ Escuta aqui sua maluca, não sei o que estás falando!
_ Por anos meu irmão viveu um inferno por tua causa, te procurou feito um louco e tu havia sumido. Se ele agora está te procurando com essa idéia absurda de reconhecer a paternidade de teu filho não é por apoiarmos ele. Quem me garante que esse filho é realmente dele?


_ Escute uma coisa Ticiana, o meu filho é só meu, tens razão quando dizes que não é dele, porque para mim ter o sangue de alguém não significa ser deste alguém. Não quero que teu irmão assuma este filho, não quero nem ao menos que teu irmão chegue perto do meu filho. Mas se por acaso ele ganhar essa droga de processo eu não vou poder fazer nada, absolutamente nada, só deixar que ele veja o menino uma vez por mês ou a cada quinze dias, não aceitarei nada mais do que isso. 
_ Interessante Diana, muito interessante como tu esqueceu dele rápido. Ao que sabíamos tu sempre o amou e de repente tu simplesmente sumiu da vida dele.
_ Eu talvez algum dia tenha amado o Christian, isso é verdade, não posso negar, mas ele me deixou sem ao menos dar uma satisfação... agora não venham tentar jogar a culpa de tudo sobre mim, eu é que sofri o tempo todo por ter perdido toda minha vida. Tu achas que é bom viver uma mentira como eu vivo, usar um nome que não é o meu, um nome que foi emprestado por pessoas maravilhosas, isso é certo, mas não é meu...
_ E o que te leva então a continuar essa farsa? Se tens certeza que o Christian é o pai do teu filho por que fazer isso que fazes agora?
_ Ele me obrigou a muita coisa, não interessa nada mais, eu não quero mais ver teu irmão.
_ Ainda estás magoada com ele, é isso...
_ Sempre terei mágoa dele... sempre. E tem mais, me deixe em paz, não devo nada a nenhum de vocês.
_ Eu só liguei para ter certeza do que sempre suspeitei... tu ainda amas o meu irmão...
Amália desligou o telefone, não poderia ouvir mais nada, não da irmã dele.
Logo que o dia amanheceu Amália resolveu que iria procurar por Christian, diria a ele tudo o que pensava naquele momento.
Porém ao aproximar-se dele tudo parecia mudar, não conseguia reagir de forma normal e fria como costumava, tinha somente uma certeza: frente à Christian não era Amália e sim Diana, como sempre indefesa e amedrontada.


Ao chegar ao apartamento onde ele estava instalado ela tocou a campanhia, tremula, porém respirou fundo antes que ele abrisse a porta e ao vê-lo tentou um ar de superioridade:
_ Vim falar sobre o processo que tu abriu contra a minha pessoa.
_ Eu não creio que haja algo a discutir, quero somente os direitos sobre meu filho e isso tu não vai poder negar.
_ Tu não quis meu filho até agora, não vai ser hoje que irei te dar direitos sobre ele!!!
_ Seria melhor que tu entrasse, não fica nada bem para quem tu és hoje ficar na porta discutindo com um qualquer.
Amália não havia percebido que a discussão havia iniciado sem que ele nem ao menos a convidasse para entrar, porém logo que se viu na sala do pequeno apartamento continuou:
_ Não podes me exigir nada!!!
_ O filho é meu, isso tu não vai poder negar, não me importa que tenhas dado o nome de outro para essa criança, o que me importa é que tem meu sangue e não há como voltar atrás nisso.
_ Por que tu apareceu justo agora Christian? Tudo estava tão bem! Eu estava vivendo a minha vida, tinha meu filho, estava quase esquecendo a dor que tu me causou e agora tu me faz lembrar tudo... Por que tu fez isso?
_ Eu só fiz te lembrar do que tu nunca pode esquecer! Tens um filho meu, isso não pode ser esquecido...
_ Me deixa em paz, eu criei o menino até agora sozinha, não me faz sofrer mais. Será que não bastou o que tu me fez no passado?


_ Tu me deixou sem ao menos dizer porque, isso me deixou extremamente magoado...
_ Tu simplesmente havia sumido da cidade naquela época, pergunte às minhas amigas de então, pergunte o quanto eu sofri por tu ter me abandonado, depois tu volta e simplesmente quer que eu te perdoe... não, eu não podia. E depois de tudo o que tu me fez então? Nunca mais eu poderia te perdoar...
_ O que eu fiz foi simplesmente por teu despeito, agora tu vens aqui e me acusas, mas durante esses anos tu criou um filho sabendo que era meu. Será que quando se odeia alguém como tu dizes se faz o que tu fez por um filho que tem o sangue deste alguém? Tu não podes me odiar tanto como tu me dizes!
_ Eu te odeio, só sei disto!
_ Não, tu não me odeias. Tu simplesmente não consegue esquecer o que aconteceu conosco naquele dia... tu não consegues...
_ Mentira!!!
_ Então me prova que tudo o que falei até agora é mentira! Me prova que não sente nada por mim e que nada do que eu fizer te importa... porque se tu conseguir me provar eu te deixo em paz...
_ Eu não preciso te provar nada! Eu não te amo...talvez nunca tenha te amado... e se te amei foi por um momento, um momento que tu matou quando me fez aquilo.
_ Eu não vou deixar que um erro do passado me faça perder o que mais quero hoje...
_ E o que tu quer? Teu filho? Ou será que outra vez só quer me humilhar?
_ Sabe, às vezes eu penso que por trás da grande Amália ainda existe a frágil Diana, a mesma que eu possuí daquela forma...
_ Eu não sou a mesma...


_ Tu és a mesma, eu sei que nunca mais fostes de outro... tu não és mulher, és somente uma menina... a única vez em que fostes mulher plenamente foi quando eu fui teu homem.
_ Pare com isso! Não tente me humilhar mais...
_ Não estou te humilhando! Ele simplesmente a empurrou contra a parede e a beijou.
Por alguns instantes ela ficou em silêncio, sua cabeça girava, algo dentro dela havia acordado.
_ Agora me diz que não sente nada...
_ Não sinto!
_ Então por que teu corpo vibra cada vez que te toco? Por que não podes olhar dentro dos meus olhos? Tu sabes bem o que aconteceu naquele dia, sabes que não foi por te querer mal, mas somente por te querer... mas tu fugiu antes que eu pudesse voltar e te pedir perdão. Sabe Diana? Eu te procurei...
_ Eu não quero saber de nada disso! Tu me ameaçou, primeiro simplesmente sumiu, depois reaparece e simplesmente me obriga a ir para cama contigo. Não é fácil para mim estar aqui te olhando, ouvindo tua voz, sentindo tuas mãos em mim, a cada toque teu eu me recordo do que houve e dói...dói muito ainda. Droga! Eu te amava seu desgraçado!
_ Não sei se algum dia tu me amou Diana! Não sei, talvez eu tenha sido só um capricho para ti, tu estava comigo e nem ao menos me deixou explicar porque eu sumi por aquele tempo...
_ E será que havia uma explicação Christian? Será que havia?


_ Havia, mas tu não me deixou tentar, eu havia ido procurar uma casa, estava disposto a casar contigo, estive por dois meses trabalhando para terminar de pagar a casa que seria nossa. Mas quando voltei te encontrei tão mudada... e depois de tudo...eu enlouqueci, eu queria que tu fosse minha...então me surgiu aquela idéia que hoje eu sei o quanto me fez te perder. Mas naquele dia eu imaginei que se tu fosse minha eu iria novamente estar contigo...
_ Mas não era assim...
_ Mas naquele momento eu pensei que fosse... estava magoado contigo, e então eu quis que tu fosse minha, queria que fosse somente minha... mas eu errei... acabei por te perder de vez. Pior, perdi meu filho para um estranho que nem ao menos está vivo.
___ Eu nunca vou poder te perdoar...
___ Por que tu me ignorou tanto? Por que?
___ Eu não sabia de nada, estava completamente deprimida e minhas amigas me convenceram a te esquecer...
___ E tu me esqueceu muito rápido.
___ Não, eu nunca te esqueci, todas as manhãs eu sou acordada por uma criança que me acorda com um beijo e me chama de mãe, apesar desta criança ter um nome e um sobrenome eu sei perfeitamente o pedaço de quem ela é...
___ Me deixa ver meu filho...
___ Não sei... eu teria de te ver também e não sei se consigo...
___ Por favor, pense melhor.
___ Eu pensarei, me procure amanhã e te darei uma resposta.
___ E quanto a nós?
___ Nós não existimos Christian, apenas temos um filho...


___ Está certo, cada coisa tem seu tempo e lugar, talvez eu tenha mesmo te perdido para sempre, mas eu queria que soubesse que voltei para te procurar depois de tudo, queria te implorar por uma desculpa, mas não te encontrei... por anos eu não te encontrei e pensei mesmo que tu estivesse morta.
___ Eu estava...
Amália virou as costas e saiu, não olhou para trás.
Na manhã seguinte:
___ Marta, eu queria a tua opinião sobre algo.
___ Sobre teu filho Amália?
___ Sobre o pai de meu filho, ele voltou, a senhora já está sabendo...
___ Amália, eu sempre achei errado tu esconderes teu filho, além do mais eu sempre fui da opinião de meu filho: tu não odeias ele, apenas tens mágoa.
___ Não... eu não vou poder perdoar, mas não quero privar meu filho de ter um pai.
___ Então por que mentir?
Amália estava certa de suas decisões, naquela tarde quando Christian apareceu em seu apartamento ela o recebeu junto com seu filho:
___ Júnior, este homem é seu pai... agora ele virá sempre para te visitar, a mãe quer que tu vá com ele e seja o menino maravilhoso que sempre foi...agora vai, dá um abraço nele...
Abraçado ao filho Christian não parecia o mesmo de antes, duas lágrimas riscaram sua face.
Quando o menino saiu acompanhado pelo pai Amália viu-se só, decidiu voltar ao encontro de seu grande amigo Peter.
O túmulo negro com letras douradas estava sempre enfeitado com rosas vermelhas, sentada sobre ele Amália meditava sobre sua vida, estava diante de uma encruzilhada e não sabia com agir, começou um diálogo solitário:


___ Se tu estivesse aqui seria bem mais fácil, teria com quem contar e quem me falasse algo. Peter... como seria bom se tu estivesse aqui... como teria sido tudo diferente se eu houvesse te conhecido antes...
As lágrimas marcavam seu coração, estava sozinha e não sabia o que fazer de sua vida.
Quando Júnior voltou para casa estava feliz, falava pelos cotovelos, entrou na sala como um foguete, Christian ficou parado na porta:
___ Está entregue...
___ Quando virá novamente?
___ Queria vir sempre, mas sei que não irás aceitar...
___ Aos sábados?
___ Está certo... virei aos sábados então.
Finalmente parecia que a paz estava voltando à vida de Amália.
Porém a sociedade já não via nela o mistério de outrora, a faxada de mulher misteriosa estava caída por terra, já não era mais a atração principal dos fotógrafos, mas era novamente o alvo das fofocas de vários jornais, afinal em poucos dias a aparição do pai de seu filho estava nas primeiras páginas.
___ Olha só Alice! Outra vez encontraram motivos para comentar sobre minha vida pessoal nestes jornais...
___ O Christian continua vendo o menino?
___ Sim, está fazendo um mês que ele começou as visitas...
___ E como o menino está reagindo?
___ Bem... parece que Christian o trata bem e eles estão se entendendo.
___ E tu?
___ Eu?


___ Tu tens visto o Christian?
___ Tenho, mas apenas por segundos, não quero falar com ele.
___ Ainda sentes algo?
___ Não sei... na verdade eu já nem sei... faz tanto tempo. Sabe, eu nunca mais me apaixonei.
___ Tu ainda o amas?
___ Não...
___ Então por que não tenta outra vez? Certamente irás encontrar alguém.
___ A verdade é que tenho medo, muito medo de errar... o Christian é um bom pai, tenho que admitir, não posso pensar em colocar na vida do Júnior um homem que não o trate bem.
___ Mas tu não podes deixar de viver!
___ Dias atrás ele me beijou...
___ Christian?
___ Sim... Alice eu não sei, mas senti algo estranho.
___ Na verdade tu nunca deixou de amar aquele homem, deveria tentar ser feliz, nem que fosse com ele.
___ Não posso! Não poderia voltar a ficar com um homem que me obrigou a ir para a cama com ele... mesmo depois dele ter me explicado tudo. Eu deveria ter pensado melhor naquela época e não ter agido por despeito.
___ Mas ainda é possível...
___ Não, agora é tarde, ficamos muito tempo longe.
Era um sábado ensolarado, Christian insistiu para que Amália levasse Júnior para a cidade deles, ele queria levar o filho no sítio da família, o mesmo lugar onde tudo havia acontecido anos atrás.


Amália não quis contrariar o desejo de Christian, mas seu coração estava apertado, voltar para aquela casa não seria como voltar para um lugar qualquer, além do mais estaria sozinha com Christian e seu filho, mas de que adiantaria uma criança se os instintos de Christian resolvessem despertar?
Quando chegaram no sítio, escondidos do resto da cidade, o que Amália encontrou foi o lugar perfeitamente igual.
Logo que a noite chegou Júnior adormeceu pesadamente, o dia no sítio havia consumido suas energias. Amália não havia trocado uma única palavra com Christian até então, estava calada, sentada na área observando o nada quando ele sentou-se ao seu lado:
___ O que tanto olha?
___ Nada...
___ Está tudo bem? Tu não falou uma palavra comigo durante todo o dia.
___ Não tenho o que falar, tu sabes Christian, sabes que não tenho, que só estou aqui pelo meu filho.
___ É esse lugar não é?
___ É o que ele me lembra...
Sem responder uma única palavra ele a puxou para ele e a beijou, porém ela o empurrou:
___ Pare! Não podes fazer isso!
___ Eu vim para cá hoje disposto a mesma coisa que estava na outra vez.
___ A que? A me violentar?
___ Não! A te possuir e te provar de uma vez por todas que tu és minha, somente minha. Não vou te machucar, não sou mais o mesmo, mas te quero ainda como antes. Entenda de uma vez por todas que eu te amo, que nunca deixei de te amar.


___ Mas eu não te amo!
___ Me ama sim, eu sei disto, sei que por mais que tu me rejeite nunca fostes de outro. Eu sei que nunca mais um homem te tocou, que fui o primeiro e o único. Estou mentindo?
Amália levantou-se e fitou os olhos dele:
___ Não... não estás mentindo! Eu nunca mais fui de outro e nem serei, tu fostes o único e serás. Se era isso que querias saber...
___ Não era somente saber... eu te quero e não vou te deixar escapar como da outra vez... nós já aprendemos a nossa lição Diana, nós já aprendemos que a nossa vida está por demais ligada para que possamos nos deixar sem que um sinta falta do outro. Não tente negar o que sentes por mim Diana, não tente me dizer que hoje és Amália, porque se naquela empresa és uma mulher poderosa aqui não deixas de ser a minha menina, a menina que infelizmente eu fiz sofrer mas que nunca deixei de amar.
___ O amor não é um brinquedo que podemos manter preso Christian...
___ Mas é um jogo e neste jogo nós dois estamos perdendo e só poderemos vencer se nos unirmos. Temos um filho, uma vida para viver. Vamos nos dar essa chance?
___ Dentro desta casa tu começou a escrever a minha história Christian, aqui tu fez com que a pobre e inoscente Diana morresse para que Amália nascesse. Eu não quis nunca deixar de ser Diana, mas não poderia ser outra, não poderia viver com uma história inacabada, por isso eu aceitei mudar de nome e me transformar em quem me transformei, no fundo eu nunca existi como Amália, eu sempre fingi. Por anos escondida da imprensa com medo que alguém reconhecesse meu rosto e tudo viesse a tona. Naquele dia quando Alice surgiu no meu escritório procurando por um emprego eu no fundo eu rendi graças à Deus por tudo ter terminado, afinal eu havia sido descoberta, mas logo tu veio. Outra vez... outra vez...


___ Eu sei que te machuquei muito e que nunca fui o homem ideal, nem para ti e nem para outra mulher... mas me perdoe. Me deixe tentar mais uma vez e te provo que não sou o mesmo cafajeste que te violentou naquele dia. Me deixe te amar mais uma vez, somente uma vez e então se tu tiver motivos para me julgar eu simplesmente sumo de tua vida para sempre e te deixo em paz com nosso filho.
___ Não poderia te afastar de nosso filho, o menino gosta de ti... e apesar de tudo tens sido um bom pai.
___ Então me deixa te mostrar que posso te amar... que não vou mais te machucar...
___ Não... isso não é mais possível...
___ Eu nunca vou desistir...
___ E se eu te deixar me levar para cama outra vez? O que irá acontecer depois?
___ Não sei, mas certamente não vou te obrigar a nada... nunca mais.
___ Me deixe sozinha por algum tempo Christian, quero pensar em minha vida e no que vou fazer daqui para frente.
___ Estarei na sala, quando quiser falar comigo eu estarei lá.
Não havia como negar o seu amor por Christian, para ela durante anos ele havia sido o vilão da história, havia deixado ela sem explicar o porquê, mas ela não sabia que para ele a vilã havia sido ela, que para ele ela o havia deixado quando foi comprar a casa que seria dos dois. Naquele momento havia uma confusão enorme na mente dela, não tinha como odiar aquele homem, mas não tinha como falar, por anos havia mentido para ela mesma.
Quando entrou na sala encontrou-o cochilando no sofá, aproximou-se e tocou de leve seu rosto, mas o toque foi suficiente para que ele acordasse:


___ Não a vi entrar...
___ Estive pensando em muitas coisas Christian.
___ E então? O que decidiu?
___ Não posso negar que te amo como antes, mas não posso negar que tenho medo de te deixar tocar em mim.
___ Eu sei que te machuquei, mas não farei nada que possa te ferir, minha raiva passou.
___ Aquela casa que tu ias comprar, o que aconteceu com ela?
___ Vendi, mas o que tu quer dizer com isso?
Quando Amália decidiu dizer a verdade para Marta esta entendeu muito bem e nada fez para impedir.
Amália desapareceu do mundo dos negócios como havia aparecido, nunca ninguém soube de onde veio ou para onde foi.
Numa casa simples de uma cidade qualquer hoje vive um casal com seu filho, não possuem fama ou grandes posses, mas são extremamente felizes.
Diana decidiu naquela noite na fazenda que haveriam de recomeçar exatamente de onde haviam parado, voltaram para a casa que Christian havia comprado, ela desistiu do cargo e da fama, restando apenas a herança para o pequeno Júnior, mas isso seria uma outra história que somente interessaria ao menino.

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