quarta-feira, 27 de abril de 2011

AS BRUXAS TAMBÉM AMAM

Nas noites em que as tempestades cortam os céus num furor tremendo e os olhos temem olhar adiante e ferir-se no brusco clarão os mistérios ocultam-se em brumas flamejantes.
Nas noites em que o luar clareia as estradas nas clareiras das matas rondam os misteriosos vapores de caldeirões fumegantes, em seu interior cozinham as mais estranhas misturas que o ser humano pode imaginar.
A mente humana é rebuscada e doentia, louca e sã, mas suas fantasias podem tornar-se um estranho mar de emaranhados desconexos.
A forma complicada com que podemos escrever ou falar não esconde a forma dissimulada com que costumamos agir noite e dia, sem ao menos um peso na consciência.
Somos loucos e nos gloriamos de ser sãos!!!
As maldades que cometemos não são mais do que falsas expectativas do bem.
Não compreendemos o ser humano nem mesmo pertencendo ao mesmo ramo na escala evolutiva.
Os poderes sempre foram um grande atrativo... e neste atrativo muitos se perderam!
Conheci há alguns anos uma senhora que me narrou a história de sua vida. Hoje, idosa, sentada numa cadeira de balanço ela parece uma simples senhora, pura como tantas, mas sua história como tantas outras me impressionou e por este exato motivo resolvi recontá-la na mais fiel versão.
Na verdade a tal senhora não quis que algum dia eu lhe divulgasse o nome, tem medo de que sua família cobre por seu passado, mas nunca o negou.


Num tempo não tão remoto se levarmos em conta que estamos já em meados do terceiro milênio (e continuamos vivos contra os medos de nossas avós!) as pessoas ainda acreditavam em bruxas, apesar do evidente progresso que já existia naquele início de milênio, mas ser uma bruxa não era tão simples!
Havia segundo me contou Jane, a tal senhora, uma cidadezinha incrustada num canto qualquer do Brasil (ela não quis me dizer o nome real), nesta cidadezinha nada de tão anormal acontecia, tudo parecia seguir seu ritmo lento e sem grandes mudanças.
Nesta época nossa personagem, ou seja, Jane era uma jovem sem grandes atrativos, muito diferente das outras garotas de sua turma, era alegre, mas não parecia envolver-se com ninguém, parecia nunca ter encontrado a sua pessoa ideal.
Mas naquela cidade chegou, como que do nada, um forasteiro, um homem jovem, dirigia um furgão negro e trazia sempre no rosto um ar de mistério. Um estranho que mudaria para sempre a vida de Jane.
O estranho não havia feito amizades, não tinha família ou conhecidos naquela cidadezinha que aqui chamaremos de Altanópolis, porém a noite sempre era visto com seu furgão preto circulando pela cidade.
Jane costumava reunir-se com as amigas de faculdade, mas o círculo de amizades era pequeno, o fato de serem mais jovens do que o restante da turma fazia com que fossem deixadas de lado.
Porém uma bela noite reuniram-se na biblioteca, tinham muitos assuntos para discutir, mas um deles não era só pertencente à ela, pertencia também a todos os que viviam na pequena cidade.
_ Eu ouvi dizer que o cadáver estava completamente dilacerado, pode-se dizer que irreconhecível.


_ Ana, o que me disseram não foi isso, parece que o assassino teve a perícia de um médico ao cortar o cadáver, arrancou cuidadosamente cada um dos órgãos...
_ Cris, isso é boato! Nenhum assassino ia ser tão cuidadoso!
_ Ana, Cris, o que importa se o assassino cortou ou não a vítima com perícia, o que importa é que um caminhoneiro morto aqui na nossa Serra.
_ Jane, ele pode ter sido trazido morto e jogado lá... Ana argumentou.
_ Não acredito... talvez tenha sido alguma briga. Cris estava imaginando um motivo para o crime.
_ O fato de não haver sangue no lugar onde o corpo foi encontrado faz com que a idéia de Ana faça sentido, ninguém é dilacerado daquela forma e não sangra, ao menos em condições normais isso seria impossível.
_ E o que tu pensa que foi então Jane?
_ Eu acredito que ele tenha sido morto longe dali, depois o corpo foi jogado naquele lugar, o fato dos órgãos como o coração,os rins e os olhos terem sido arrancados só reforça uma coisa...
_ O que? Cris estava começando a ficar mais curiosa do que espantada.
_ Tráfico de órgãos, isso explicaria a perícia com que ele foi cortado...
_ Mas Jane, ele estava com o abdome costurado com linha de saco! Ana lembrou de outro detalhe.
_ Isso não descarta a possibilidade de ter sido um médico, apenas nos remete à outras suspeitas. Jane tentava justificar sua suspeita.
_ Não acho bom ficarmos falando sobre esses crimes, tenho horror à isso, já não são filmes e sim realidade. Vamos parar com isso. Cris estava começando a arrepender-se de falar sobre o crime.
_ Tens razão, vamos parar com isso! Jane.


Porém o crime como fato isolado na paz de Altanópolis deu logo lugar ao mesmo marasmo de sempre.
Alguns dias depois Jane e Cris estavam sentadas numa das esquinas da cidade, ao contrário do que acontece nos grandes centros, nas cidades pequenas as esquinas não tem a fama de pontos de programa e sim de pontos de encontro. O vai ver se estou na esquina nestes lugares é fato real.
O furgão negro começou a rondar, havia dado umas cinco voltas nas proximidades da esquina onde as amigas estavam, até que resolveu parar.
_ Esse estranho vai acabar vindo aqui. Cochichou Cris.
_ Disfarça e vamos sair de fininho, esse cara parece meio esquisito... Jane falou tão baixo quanto pode.
_ Boa noite garotas! Podem me dizer o que fazem aqui nesta esquina estas horas da noite?
_ Estávamos esperando o namorado da minha amiga, mas parece que ele não vai chegar... então estamos indo embora... Jane falou e foi logo se levantando.
_ Parece que vocês têm medo de mim! Será que sou tão feio assim?
_ Não é isso, mas estamos atrasadas, temos mesmo de ir. Cris também se levantou.
_ Realmente não me admira fugirem de mim, afinal são meninas aqui do interior e isso deve fazer com que sejam mesmo mais chucras... o estranho falou num tom de ironia e foi virando as costas, porém Jane desta vez esqueceu a aparência do tal e o enfrentou:
_ Aqui no interior ao menos se tem educação, se tu vens da cidade grande ou do inferno não me importa, mas quero que nos dê o respeito que deves!
_ Jane!!! Não faça isso! Cris percebeu que a amiga havia se descontrolado.


_ Não Cris, esse tipinho aí tem de aprender que não pode chegar aqui com esse ar de mistério e simplesmente ir ofendendo todo mundo, pouco me importa se ele veio de um grande centro ou como já disse, do inferno, comigo ninguém brinca sem levar. Não estamos a fim de conversa, se tu chegasse com educação poderia até ser, mas de homens grossos Altanópolis está cheia, não precisa de um forasteiro.
_ Menina brava... mas bem que eu mereci... desculpem, mas é que todos fogem de mim como se eu fosse algum tipo de demônio.
_ Estamos realmente atrasadas, até breve... Cris terminou a fala e arrastou Jane com ela.
Mais tarde:
_ Tu estás ficando maluca discutir com aquele estranho?
_ Ele pediu...
_ Tens que começar a medir tuas palavras, tu és muito zangadinha.
Naquela semana havia uma excursão de turistas na Serra, tudo seria normal não fosse a estranha chacina que ocorreu...
Dos dez turistas somente um sobreviveu, todos foram encontrados mortos e com o corpo cortado de forma cirúrgica, o fato comum entre eles era a falta dos órgãos como o coração, os rins e os olhos.
_ Isso está se tornando um mistério que nem a própria polícia poderá resolver...
_ Toda vez que acontece um crime destes temos essas drogas de trabalhos para fazer. Essa nossa faculdade nem para deixar a gente investigar um crime não presta!
_ Que indignação é esta Ana?
Jane havia chego ao momento e encontrado Cris e Ana conversando sobre os crimes.
_ Essa droga de faculdade! Já estou mesmo cheia disto...


_ Soube que vão inventar uma excursão para coleta de dados para os trabalhos de pesquisa... Jane comentou.
_ E onde será que irão querer acampar? Cris havia ficado curiosa.
_ Cada equipe deverá escolher um fato para pesquisar e um lugar para tal pesquisa... eu já sei o que vamos pesquisar e onde... Jane estava com uma idéia semeada.
_ E o que tu pretende? Cris tinha medo das idéias da amiga.
_ A Serra será o melhor lugar, a onda do momento são os assassinatos em série que estão acontecendo lá. Certamente a equipe do Romualdo... aqueles CDFs, vão querer investigar isso também. Jane já havia pensado em quase tudo.
_ Mas isso seria arriscado... eles não vão tentar... Ana não acreditava na coragem da equipe adversária.
_ Eles vão tentar, tanto que eu os ouvi combinando. Cris também sabia dos planos da outra equipe.
_ E o que vamos investigar? Certamente eles vão colher os dados antes de nós. Ana não estava confiante.
_ Não se preocupem, reúnam o resto da equipe amanhã que eu tenho planos muito práticos para chegar antes deles nas pistas. Jane estava com tudo planejado.
Conforme o combinado a tal equipe reuniu-se na noite seguinte, mas desta vez não na biblioteca da faculdade e sim na casa de Hellen, além de Cris, Jane, Ana e Hellen a equipe contava também com Tácia e Karol. Consideradas a pior raça da sexta fase do curso eram sempre a mesma equipe, por um motivo ou outro ninguém se arriscava a juntar-se com ela.
_ Pois bem, vamos planejar o que faremos... Hellen as vezes resolvia pensar de uma forma meio intelectual, mas isso era uma raridade e quando acontecia todos sabiam que só poderia ser por alguma maldade.


_ O que eu sei é que a equipe do Romualdo vai para a Serra investigar os assassinatos, precisamos ir também... Cris estava inspirada.
_ Eu andei conversando com a Ilda, ela sempre escapa alguma coisa da equipe deles e acabou falando sobre um tal de prêmio para quem descobrir o assassino... Ana também havia se informado.
_ Pois bem, se eles pensam que vão chegar antes de nós no assassino estão enganados, nós vamos encontrar todas as pistas desse mistério e voltar para cá vivos... eles eu não sei... Jane estava pensando alto.
_ Ainda não entendi o que estão falando... Karol era o tipo atrasada da turma, nunca estava sintonizada no mesmo canal, sempre com a cabeça na lua.
_ Eles vão ao outro fim de semana para lá... Tácia havia ouvido o comentário discreto.
_ Sei... isso quer dizer que nós também vamos e tem mais, vamos antes sem que eles saibam de nada. Jane estava com tudo desenhado em sua mente.
_ Mas onde vamos parar? Karol lançou outra de suas perguntas.
_ Oras! Tenha a santa paciência, claro que vamos acampar! Cris não tinha muita paciência.
_ O mais estranho é que a Ilda falou alguma coisa de que iam levar uma pessoa que não é do curso... Ana comentou pensativa.
_ Alguém que não é do curso? Ótimo, isso é uma arma e tanto para nós, se eles usarem de ajuda de fora perdem o mérito na pesquisa. Cris estava destilando seu veneno.
_ Ela não escapou quem poderia ser esse alguém? Jane havia ficado curiosa.
_ Não, mas isso não vai ser difícil de descobrir... Ana terminou o raciocínio.
_ Eu penso que deveríamos investigar isso, sondar o Romualdo sobre o crime, e assim por diante... Hellen continuava pensando.


_ Eu e a Cris somos muito certinhas para que ele suspeite, vamos até o trabalho dele agora e iremos sondar, voltamos daqui a pouco, nos esperem. Jane havia tido outra de suas idéias.
Não foi difícil encontrar Romualdo, ele trabalhava para a própria universidade, com uma conversinha certinha as duas acabaram por entrar no assunto dos crimes:
_ Será que ainda não descobriram nada sobre os assassinatos? Perguntou Cris como quem não quer nada.
_ Nada, parece que nem suspeitam de ninguém, até estão oferecendo uma recompensa para quem der alguma informação.
_ Recompensa? Ora! Vejam só, pagando para capturar o maníaco da Serra. Ouvi algo sobre uma lenda de que é um vampiro. Jane jogou.
_ É verdade, mas parece que só mesmo com um bruxo para encontrar as pistas... Comentou Romualdo.
_ Não, seria exagero... Cris havia pescado algo.
Quando chegaram à rua as duas puderam comentar:
_ Um bruxo seria exagero deles...ou não?
_ Sinceramente Cris, eu não duvido, mas quem seria esse bruxo?
_ Não faço idéia...
_ Olha lá, o furgão preto rondando de novo pela rua... espera, acabou de parar em frente ao trabalho do Romualdo...
_ E aquele é o tal estranho, vamos voltar lá e ouvir o que está acontecendo...
Escondidas atrás de uma parede puderam ouvir o que Romualdo combinava com o estranho:
_ Vamos ao final de semana, espero que essa história de poderes seja verdade.
_ Claro que sim, eu não vou deixar vocês na mão...


_ Espero que sim, estamos pagando por um bom serviço, mesmo que a equipe daquelas gurias vá para a Serra não podem chegar antes de nós nas pistas.
_ Eu sei, por isso alertei sobre elas, andam rondando por aí, parece que são mesmo um risco para vocês.
_ Não serão se tu fizer teu trabalho, te disseste bruxo, agora aja como tal.
_ Eu farei meu trabalho desde que me paguem e irão precisar de mim para não terminar mortos.
Antes que pudessem vê-las atrás da parede elas saíram, ao chegar à casa de Hellen foram recebidas com curiosidade e impaciência:
_ Demoraram demais... Ana estava subindo as paredes.
_ Não sabem o que descobrimos... Cris começou.
_ Claro que não, até que contem! Hellen estava tão curiosa quanto as outras.
_ Sentem-se para não cair. Romualdo contratou um bruxo para ir com eles na Serra e eles já sabem que nós vamos. Cris terminou o que queria dizer.
_ E quem é esse bruxo? Karol sempre perguntando.
_ O estranho do furgão, parece que ele vai receber um bom dinheiro para ir até lá e proteger a equipe dos CDFs. Jane não parecia estar preocupada.
_ Mas como eles têm coragem de levar um homem daqueles para o acampamento? Aquele tipo não parece ser de confiança, me causa calafrios! Ana resumiu tudo o que a equipe pensava.
_ Não sei como eles terão essa coragem, o que eu sei é que ele topou comigo e com a Jane lá na esquina esses dias, tentou se aproximar com um papo meio sei lá, mas acabou discutindo feio com a Jane. Cris contou o episódio.


_ Eu não sei se devemos ir, até onde estávamos brincando com a equipe do Romualdo estava tudo bem, mas daí a nos metermos com esse tipo de gente a coisa pode ficar bem mais complicada. Ana estava começando a se intimidar.
_ Nos iremos, ou seja, eu ao menos irei, não tenho nem um pouco de medo deste tipinho, ele pode até ser um bruxo, isso não vai lhe dar nenhuma vantagem quanto a nossa equipe. Jane estava decidida.
_ Mas tu mesma levantou a hipótese de ser tráfico de órgãos, isso seria perigoso... Hellen estava também começando a ficar amedrontada.
_ Tenho uma outra hipótese para investigar, e essa é muito mais quente, isso eu garanto para vocês, o que eu posso dizer é que enquanto o Romualdo está com aquela equipesinha tentando chegar numa pista eu já tenho a minha pista e vou atrás dos detalhes apenas. Jane parecia estar informada.
_ E o que tu suspeitas agora? Tácia começava a despertar para a curiosidade.
_ Todas as vítimas ou tinham os olhos verdes ou azuis, eram pessoas claras, a gente sabe que isso não pode trazer nenhuma influência num transplante de órgãos, o que eu penso está muito mais além e é bem mais macabro. Jane fez um pouco de suspense.
_ Mas o que pode ser pior do que matar para roubar órgãos? Tácia continuava sem entender.
_ Mesmo sendo macabro o roubo de órgãos levaria à vida, pois alguém seria salvo da morte com esses órgãos, mas se o assassino é algum fanático que vive em rituais de magia negra a coisa muda completamente, seria macabro... terrível. Jane completou seu raciocínio.
_ Mas isso é impossível, seria demais!!! Karol não parecia entender as conseqüências de um maníaco a solta.


_ O que eu sei é que isso faria todo sentido do mundo, mas o Romualdo não pode pensar por essa linha, ele tem que continuar investigando as escuras, sem a suspeita da seita misteriosa, quanto ao bruxo, ele não tem poderes para nos enfrentar, isso eu posso garantir... Jane tinha certeza das coisas que falava.
O que aconteceu depois desta reunião na casa de Hellen foi a dissolução do grupo, no final da semana somente Cris, Ana e Jane foram para a Serra, as outras preferiram inventar qualquer outra pesquisa e não arriscarem um possível assassinato.
Durante horas esperaram para ver a chegada da outra equipe, essa em peso, com seus seis integrantes acampou longe delas, dentre eles Romualdo, Ilda, Patrícia, Tyssiane, Júlio e Petrolino.
Assim que começou a escurecer elas escondidas entre o mato puseram-se a espionar a equipe adversária e puderam ver quando o tal estranho em um ritual de magia sob a luz de uma fogueira invocou a proteção de alguma força, porém o que as assustou foi o fato de alguns objetos dançarem sobre a cabeça dele come se estivessem vivos. Diante desta cena Ana e Cris insistiram em voltar a barraca delas.
Ao chegarem ao local a noite já havia descido, acenderam então uma fogueira e apavoradas ficaram sentadas observando a estranha calma que Jane demonstrava mesmo diante do espetáculo que o estranho havia oferecido.
_ Ele é mesmo um bruxo Jane, isso pode ser perigoso! Cris estava com medo.
_ Nossa equipe não tem a mínima chance diante disto, eles têm um feiticeiro com eles, o cara tem poderes de verdade. E nós o que temos? Ana havia continuado o raciocínio de Cris.
_ Eu preciso falar uma coisa para vocês, talvez seja a hora certa... Jane falou como se o pavor das amigas não a atingisse.
_ E o que tens de falar antes de fugirmos daqui? Cris estava disposta a fugir.


_ Sim, porque diante dos poderes do tal bruxo nós não temos a mínima chance, não tem cabimento ficar aqui... Ana seguiu a idéia.
_ Ele é só um feiticeiro, nada mais, isso não nos põe em situação inferior, se esse for o caso, esqueçam... Jane parecia mesmo alheia.
_ O que tu ias nos dizer? Ana recordou do que a amiga havia falado.
_ Bem, talvez eu não deva confiar, mas espero que o que vou falar não saia daqui deste acampamento... eu... bem, eu sou uma bruxa! Jane falou e ao mesmo tempo levantou-se.
_ Uma bruxa? Que brincadeira é essa Jane? Cris não havia acreditado.
_ A muito tempo eu sei disto, meus poderes começaram a se manifestar quando eu tinha ainda meus doze anos, e aos poucos foram cada vez mais crescendo, felizmente hoje eu os controlo, mas por muito tempo eu vivi com isso sem poder deter...
_ E o que isso pode significar? Cris ficou curiosa.
_ Não são feitiços que fazem de mim uma bruxa, eu tenho poderes e só, não preciso destes rituais como o feiticeiro da equipe do Romualdo, ele é um simples aprendiz de feiticeiro, está treinando e aproveitando os poderes que crescem nele para roubar aqueles idiotas.
_ E tu, o que faz com esses poderes? Ana perguntou.
_ Eu aprendi a usá-los somente quando eu preciso, e mais ainda, a não usar para o mal, apesar da tentação ser grande... mas posso perfeitamente ter o que aquele feiticeirinho tem sem um terço do esforço dele, posso causar misérias para aquela equipesinha sem mover um dedo... 
_ Bem, acho melhor irmos deitar, amanhã é um novo dia... Ana decidiu que não era hora de fugir... ainda.
Quando Jane percebeu que as amigas dormiam decidiu caminhar um pouco.


O lugar era paradisíaco, do alto de uma pedra podia observar a lua tão próxima que pouco faltava tocá-la. Era a sensação de tocar o mundo e segurá-lo entre os dedos e ali, naquele instante cheio de magia da própria natureza Jane podia pensar melhor no seu estranho destino, haviam anos que sua mente debatia-se entre o bem e o mal, não usava seus poderes e ao mesmo tempo sentia uma tentação muito forte de usar tudo contra as pessoas que cruzassem seu caminho, porém segurava seus desejos e tentava viver como uma pessoa normal, mas naquela bendita e ao mesmo tempo maldita noite havia revelado às amigas seu maior segredo: era uma bruxa, não uma bruxa dessas que passam a vida fazendo feitiços infantis, era uma bruxa que havia nascido com poderes.
Perdida em seus pensamentos, o sopro frio do vento agitando seus cabelos, uma estranha sensação tomou conta dela:
_ O que faz aqui?
_ O mesmo pergunto eu...
_ Ao que eu saiba tu não tens nada a ver com essa turma que aqui está...
_ Desde o encontro na praça que quero falar contigo garota, o que pensas que estás fazendo?
_ Philipe, eu não tenho medo de ti... Jane virou-se para o estranho que estava parado a poucos metros dela.
_ E por que deverias ter?
_ Quando soube que os idiotas daquela equipe haviam contratado um bruxo para vir com eles eu logo imaginei de quem estavam falando.
_ Eu sei que tu e as tuas amigas estavam escondidas atrás do mato quando eu estava fazendo meu ritual...
_ Estávamos sim, mas não sei de que ritual tu falas!
_ Ficaram com medo, não negue!


_ Cris e Ana ficaram, não posso negar, mas eu não tenho porque ter medo de ti, mesmo porque não passas de um feiticeiro iniciante. Um bruxo de verdade não costuma usar os poderes para coisas tão infantis como levitar objetos para impressionar meia dúzia de CDFs.
_ E como tu podes saber coisas sobre um bruxo de verdade hei Jane? Como podes afirmar que não sou um bruxo?
_ Eu sou uma pesquisadora...
_ Não, tu és uma bruxa, uma bruxa como eu sou um bruxo, não tente me enganar.
_ E se eu sou uma bruxa Philipe? O que tu tens com isso?
_ Nada, apenas sei que tenho alguém com quem competir nessa disputa, porque nós dois sabemos muito bem que a disputa aqui é entre nós e não entre as duas equipes, tu trouxe tuas amigas para cá apenas para ter um pretexto para vir para este lugar e eu vim com a equipe do Romualdo só para ter como vir para cá sem levantar suspeitas. Já pensou no que aconteceria se todos soubessem quem nós somos de verdade Jane? Já imaginou a reação do povo?
_ Já... mas não sei do que estás falando, não sou uma bruxa...
_ Não negue para mim o que é mais do que evidente, eu posso entrar nos teus pensamentos.
_ Mentira! Ninguém pode entrar na minha mente, e tem mais, nada do que tu fizer poderá me atingir.
_ Mas então admites agora que não passas de uma bruxa?
_ E se eu for? O que irá acontecer? Irás me matar para evitar a concorrência?
_ Não... muito pelo contrário...
_ Volte para tua equipe, se é que tens um pouco de poder que seja deves ficar lá e os proteger, porque se podes mesmo adivinhar algo deves saber que os assassinos não tardam a voltar e que eles são impotentes diante deste perigo.


_ É uma seita, uma terrível seita de magia negra. Deves saber tanto quanto eu do que se trata...
_ Eles não vão ficar longe por muito tempo... mas não te preocupes, não somos nós dois o tipo de vítima que procuram, são pessoas fracas.
_ Reconhece então que eles estão em perigo?
_ Sempre soube...
_ Então por que trouxe tuas amigas para cá?
_ Nada vai acontecer com elas... mas com os teus, eu sei o que estou falando, tente afastá-los de certas pistas.
_ Não te preocupa, isso é somente meu, eles não vão sair feridos... e espero que nem tuas amigas saiam... quanto a ti, bem, eles não vão te ferir, a não ser que saibam quem tu és.
_ Por que diz isso agora?
_ Eles querem poder, tu tens... cuidado.
_ Philipe... cuidado também, mesmo estando em lados diferentes nesta disputa não ia querer ver ninguém morto por aqui.
_ Comigo não precisa te preocupar, infelizmente não podes ler minha mente de bruxo, porque se pudesse ias saber que eles não me querem... não por enquanto.
_ Eu sei o que estás escondendo... eu os conheço há muito tempo.


Quando Philipe desapareceu no mato Jane sentou-se novamente sobre a pedra, a lua havia se afastado um pouco, as sombras entre a floresta formavam figuras assustadoras. No instante seguinte ela ouviu um tambor fraco, entre as folhagens, na direção oposta aos dois acampamentos havia um fraco clarão. Caminhou lentamente até nas proximidades da fraca luz e ficou observando entre as árvores, em volta da fogueira algumas pessoas vestidas de negro, com máscaras diabólicas dançavam em uma espécie de ritual, amarrado á uma árvore um carneiro de lã alva como a lua. O animalzinho atraiu a atenção de Jane, porém num repente alguns dos de negro se aproximaram dele e rasgaram seu peito, o coração foi arrancado com o animal ainda vivo e devorado pelos tais, depois beberam o sangue. Jane sentiu um calafrio percorrer seu corpo, havia descoberto algo que preferia nunca ter visto. Voltou pela mata e não dormiu durante toda a noite. Na manhã seguinte disse as que preferia que elas fossem embora, como não quis dizer o porquê elas não obedeceram.
Assim que conseguiu se livrar das amigas e deixá-las com a equipe de Romualdo voltou ao local onde havia visto o rito na noite anterior.
Parada no exato local onde estava o carneiro fechou os olhos, pode sentir a dor do animal e o pavor que rondou o pobre inocente antes da morte, algo dentro dela a fez cambalear, algo muito forte estava naquele lugar e não era do bem.
_ Meu Senhor, perdoe-me se estiver errada, mas estes malditos estão matando pessoas em oferenda ao mal...
_ Jane, te procurei por todos os cantos, temos que mandar esse pessoal embora daqui e rápido...
_ Philipe, não me assuste dessa forma! Não vê que lugar é esse?
_ Por isso mesmo, eles vão atacar, vão matar um deles antes que a lua mude de fase.
_ Tu estás com eles, eu sei, me diz então o que querem de mim.
_ Não sei o que estás falando.
_ Ontem a noite estive aqui, vi o ritual, mas sei que não querem me sacrificar como aos outros. Por que isso?
_ Quando se nasce com esses poderes se nasce fadado ao mal Jane, não adianta fugir, não adianta tentar.


_ Eu não sou do mal Filipe, não tente me convencer a mudar. Se tu és um deles por favor, não sacrifique nenhum dos membros das equipes, mesmo da minha rival, não quero ver mortes aqui...
_ Mesmo diante da rivalidade tu ainda insiste em defender eles? Tu és mesmo alguém muito diferente na nossa classe minha bruxinha querida. Mas não te assusta comigo, eu não quero mortes também, quero somente me livrar deles.
_ E o que fazer?
_ Eles sabem que teus poderes estão muito fortes ainda, sabem o motivo que te leva a continuar com eles ainda completos, enfim sabem tudo...
_ E que motivo é este?
_ Não sou eu quem deve te dizer, tu deves saber perfeitamente...
_ Não mesmo! Não faço idéia do que estás falando!
_ Esquece, ao menos por enquanto... não quero falar sobre isso contigo, não agora...
_ Eu não estou mais te entendendo, quer dizer, nunca entendi. Tu surgiu aqui nesta cidade como que do nada e agora eu descubro que faz parte de uma maldita seita de magia negra. Não sei o que estou fazendo aqui contigo, não sei mesmo... deveria estar voltando para a cidade e te denunciando para a polícia.
_ Sabe por que tu não faz isso minha doce bruxinha?
_ Não...
_ Porque tu estás envolvida nisso, como tu vai provar que não és do mal?
_ Não podem provar que sou uma bruxa!
 _ Quer apostar? Eles sabem tudo sobre tua vida, tudo...
_ E o que tu significa nessa história?
 _ Queres mesmo saber?


- Por isso perguntei...
_ Eles precisam de alguém para te atrair até eles, eu deveria estar te envolvendo e te arrastando aos poucos para eles... por isso parei aquela noite, mas tu és danada por demais, teu sangue é tão mal quanto o meu e o deles e tu foi logo me chutando.
_ Tu não passa de um maldito...
_ Bem, o que importa é que não estou obedecendo eles, como vês, te contei tudo...
_ E o que tu vai fazer com a tua equipe?
_ Nada !
Jane voltou para o acampamento junto com Philipe, as amigas ao vê-la chegar com o bruxo rival assustaram-se, porém logo voltaram para perto da barraca delas:
_ O que aquele estranho queria contigo, estava perguntando para nós onde tu estavas e foi te procurar pelo mato? Cris estava perguntando por ela e por Ana.
_ Ele queria perguntar o que íamos fazer quando começassem a matar nossos colegas.
_ E o que tu respondeu?
_ Que nós não íamos morrer...
_ Ele queria algo mais contigo Jane... Ana havia notado algo no ar.
_ Ele quer algo mais sim, quer que eu vá para o lado dele, mas isso é impossível...
_ A equipe do Romualdo vai fazer um churrasco hoje a noite e nos convidou... vamos? Cris convidou as amigas.
_ Vamos, será bom que fiquemos próximos, mas não falem nada sobre nossas suspeitas... eles não podem nos vencer, podemos nos unir para sobreviver durante a noite, mas nunca perder... Jane estava obstinada.


_ Poderemos ajudar eles em algumas coisas hoje... Ana parecia querer vencer a rivalidade.
_ Claro... Desta vez Jane respondeu longe, muito longe.
Logo que a noite caiu todos estavam juntos, perto de uma grande fogueira, não pareciam estar com medo, Cris e Ana eram jovens e talvez isso afastasse o medo, Romualdo e sua equipe eram pessoas mais velhas, todos tinham família, esposas e maridos, e a seriedade era alheia ao medo em certas horas.
_ Vem comigo Jane... Philipe passou por ela e cochichou.
Como se estivesse sendo atraída por uma cobra ela o seguiu disfarçadamente, acabaram por encontrar-se no acampamento delas...
_ A noite é a pior hora, nela os perigos saem das cavernas.
_ E os monstros mostram suas garras, é nela que tudo pode acontecer, nela que a maioria das vidas inicia e talvez a maioria finde...
_ A gente tem muito em comum Jane, muito...
_ O que quer de mim?
_ Nada! Só queria ficar um pouco longe daqueles idiotas e um pouco perto de ti.
_ O que é? Vai tentar me enrolar para que?
_ Se tu soubesse o que eles não querem que eu faça contigo... tu saberia que eu não estou fazendo o que eles querem...
_ E o que eles não querem?
_ Nada!
_ Então eu vou voltar para o acampamento, temos que ficar por perto deles...
_ Jane...
_ O que?


Philipe apenas a puxou para perto dele e a beijou, por alguns instantes ela resistiu, depois deixou-se beijar. Quando ele a soltou Jane afastou-se:
_ Por que fez isso?
_ Queria saber como é beijar uma bruxa de verdade.
_ Tu não presta mesmo Philipe...
_ Presto tanto quanto tu minha bruxinha!
_ Quero voltar para o acampamento.
_ Está bem, não estou te obrigando a ficar aqui... mas se tu quiser a gente pode.
_ Philipe, não tente brincar comigo, não sabes do que sou capaz e posso fazer com que te arrependas destas brincadeirinhas de mau gosto que vens fazendo comigo.
_ Sente cheiro de sangue no ar princesa?
_ O que?!!! Jane havia se assustado com a mudança brusca no comportamento de Philipe, naquele momento ele havia se tornado sóbrio.
_ Sangue, sente o cheiro dele no ar...
_ Philipe, eu não estou sentindo nada...
_ Vem comigo, rápido...
Em uma disparada louca ele a puxou correndo entre as árvores para o mesmo lugar onde na noite anterior ela havia visto o sacrifício da ovelha.
_ Philipe, me explica o que está acontecendo aqui...
_ Cale-se Jane, cale-se... Philipe topou a boca da garota com umas das mãos e a obrigou a ajoelhar-se juntou com ele, com a outra mão afastou as folhas dos arbustos para deixar a visão livre à ambos.
_ Veja minha doce princesa, eles estão matando um pobre bezerro, o cheiro de sangue deste animal me atraiu até aqui, minha rainha, tens que te voltar para o mal ou tudo estará acabado para nós dois... Ele cochichou em seu ouvido.


Um arrepio percorreu seu corpo, Jane não sabia o que fazer, se tentasse afastar-se dele certamente os que estavam na cerimônia iriam descobri-la.
_ Não pense que falo isso para teu mal, não... mas amanhã ou depois um dos teus amigos poderá ser a próxima vítima. Philipe tirou a mãos dos lábios dela.
_ Philipe eu nunca vou ficar do lado de vocês, nunca! Posso até me tornar má, mas serei muito pior do que vocês e então vão se arrepender, e queres saber, vá para o inferno.
Jane soltou-se dele e começou a caminhar em direção ao alojamento, vendo que ela não voltaria ele a seguiu, antes porém de entrarem no alojamento ele tornou a segurá-la pelo braço e a puxou para perto de si:
_ Cuidado com o que vai fazer garotinha, eu não sou somente um feiticeiro iniciante como tu falou, posso te machucar e muito...princesinha.
_ Me deixa, ou começo a gritar e faço um escândalo, e faço disto uma história muito maior.
_ Grite, grite e todos vão saber quem sou e quem tu és... minha bruxa...
_ Não sou tua...
_ Ainda não... mas vai ser, vai ser todinha minha. Ao terminar ele tornou a beijá-la.
Quando entraram no alojamento um silêncio assustador cobria tudo, sentados em roda da fogueira todos estavam com os olhos fixos ao fogo, pensativos.
Ana levantou-se e aproximou-se de Jane, só então ela percebeu que a amiga estava tremendo e seus olhos marejados:
_ Ana, o que está acontecendo aqui?
_ Levaram a Ilda...
_ Quem levou?


_ Não sabemos, ela foi até a barraca pegar um caderno ou sei lá, de repente ouvimos um grito de terror e não encontramos mais ela, parece que foi arrastada até um ponto, depois os rastros sumiram e nada mais...
_ Eu sabia que não deveria ter saído daqui, Philipe, tu não és um bruxo maravilhoso, faça alguma coisa... Jane voltou-se para Philipe, ele era o culpado.
_ Eu não posso fazer nada, cansei de pedir para que ficassem próximos, mas do que adiantou?
Vendo que a discussão deles só estava piorando tudo Jane respirou fundo:
_ Calma, ela deve estar bem, vamos procurá-la assim que o dia clarear, por hoje apenas vamos ficar perto uns dos outros para que ninguém mais suma...
_ Até amanhã Ilda já estará morta! Romualdo falou num tom ríspido.
_ Não, ela não estará... Jane apenas completou sua idéia.
_ O que tu pensas que sabes para dizer isso? Ela foi levada e isso quer dizer que irão matá-la... Romualdo estava fora de si, gritava.
_ Cale-se Romualdo, Jane está certa, esta noite já houve um sacrifício, nós vimos, Ilda será sacrificada amanhã. Philipe defendeu Jane.
_ Se sabem onde estão esses monstros por que não nos levam até lá? Cris ergueu-se.
_ Não!!! Seria muito arriscado irem lá, eles são monstros como tu disse, eu já os vi matar animais e beberam seu sangue... Jane resumiu o que havia visto.
_ Devem ficar aqui... durmam, amanhã eu irei até lá e se Ilda estiver presa por lá eu a solto... Philipe ofereceu-se.
Durante a noite um pesado sono se apoderou de todos, sono vindo dos poderes das bruxas que ninam as noites mal dormidas.


Porém quando o dia amanheceu Ana havia sumido do acampamento, sobre as coisas dela um bilhete em letra vermelha:
“Venha a nós a que queremos e nada mais irá acontecer.”
Quando o bilhete foi mostrado o comentário misturou-se ao medo e as dúvidas:
Quem seria a que queriam?
Sentada ao lado dos restos da fogueira Jane meditava, sabia o que o bilhete queria dizer, mas não poderia falar, logo Philipe sentou-se ao lado dela:
_ Estás vendo o que eu havia te avisado? Eles querem somente uma coisa e tu sabes o que.
_ Não posso ir para junto deles Philipe, e nem sei o que querem de mim.
_ Tenho de encontrá-los, tente enrolar o pessoal para que não me procurem, vou convencê-los a não sacrificar Ana e Ilda, e vou encontrar as tuas respostas. Esta noite Jane, quando todos dormirem, me encontre no local dos sacrifícios, eles não estarão lá e eu te contarei todas as verdades que procuras.
_ Não voltarás até a noite?
_ Não, não voltarei, preciso ficar com eles...
_ Me matarás por acaso?
_ Não, eu não...
Algum tempo depois Cris veio até Jane, queria perguntar muitas coisas, Jane porém a convidou para voltarem ao acampamento delas, até a tarde, pois deveriam dormir junto aos outros, era mais seguro.
_ Agora que estamos aqui e que ninguém da outra equipe pode nos ouvir me fale logo o que está acontecendo contigo.
_ Nada está acontecendo comigo Cris...
_ Regianne, nunca me enganaste na vida, fale...


_ O que queres ouvir?
_ Philipe, o que tens para me falar sobre ele?
_ Philipe é um cretino, não sei... eu não sei o que ele é...
_ Onde tu estavas ontem a noite quando a Ilda sumiu?
_ Com ele, ele me levou até o local dos sacrifícios, mas o pior é que me fala coisas sem nexo, que me obriga a ser tão má...
_ Tu não estás gostando dele?
_ Ele me beijou, mas ao mesmo tempo fala coisas que não sei o que significam... Cris, se tu ainda és minha amiga me prometa não falar nada a ninguém.
_ Eu prometo, mas o que não devo falar?
_ Esta noite eu irei encontrá-lo e ele me dirá algo que diz ser a verdade que busco. Se amanhã pela manhã eu não aparecer tu deverás convencer todos a irem embora desta Serra porque eu estarei morta e Philipe é um deles. Ouviu bem Cris, não podem ficar aqui se eu não voltar até as nove da manhã de amanhã.
_ Mas o que tu vai fazer junto com este cara? Tu mesma diz que ele é um cretino...
_ Mas é minha única chance nesta história...
_ Não seria melhor deixar isso para lá e voltarmos todos juntos para casa e vivos?
_ Ilda e Ana estão com eles Cris, eu não vou deixar que fiquem aqui, e além disso eu não posso mais fugir deles, sou eu quem eles querem.
_ Mas o que tu tens?
_ Eu um dia disse para ti e a Ana que eu era uma bruxa, não menti Cris e isso é o que eles procuram em mim.
_ E o que tu podes fazer contra eles?


_ Nada... mas não posso deixar que outros morram.
A tarde as duas voltaram para o acampamento, alguém perguntou por Philipe, Jane respondeu que ele havia voltado até a cidade para buscar algo...
Assim que todos adormeceram Jane foi até onde estava Philipe, encontrou-o sentado sobre uma pedra plana de quase dois metros de comprimento e uma altura de uns oitenta centímetros:
_ Eu sabia que tu viria ao meu encontro minha bruxinha...
_ Onde estão Ilda e Ana?
_ Bem, mas não por muito tempo.
_ O que tu tens para me dizer Philipe?
_ Eu tenho que te contar uma coisa e te entregar outra.
_ O que tens que me entregar?
_ Isso. Ele estendeu outro bilhete escrito em vermelho.
_ O que há neste bilhete?
_ Foi escrito com sangue tirado de tua amiga Ana, mas leia...
_ “Tu tens o que queremos e nós o que tu queres, caso não venhas a nós elas morrem junto com os outros e tu serás sacrificada neste altar ao mal.”
_ Entendes o que eles querem agora?
_ Não...
_ Eles te querem e se tu não for para eles te matarão em grade estilo, aqui neste altar, como um sacrifício para quem eles adoram.
_ E tu? O que queres de mim?
_ Teus poderes estão fortes, posso sentir, vibram em teu corpo, eles sabem disso e te querem por ter esse poder ainda intacto.
_ Mas me matam se não tiverem...


_ Sim, te sacrificam, e sabes por quê?
_ Não...
_ Sempre sacrificaram virgens...
_ O que?!!!
_ Isso mesmo, e é justo por isso que teus poderes estão fortes.
_ Mentira Philipe! Eu não sou...
_ Não? Então podes me provar isso, porque se não fores eles estão errados e não poderão te matar.
_ Não sei o que tu pretendes comigo, mas seja lá o que for Philipe, seja lá o que for eu não vou aceitar.
_ Tu não passa de uma menina inocente, apesar de todo o poder que tens não passas de uma pequena menina pura e ingênua. Se tu soubesse o que significa essa seita... se soubesse quem eu sou não estaria aqui, perto de mim e me observando com essa calma.
_ E quem tu és Philipe? O que mais tu escondes de mim?
_ Tudo o que tu puder imaginar de pior minha bruxinha...
_ Não sou tua Philipe e nunca serei!
_ Um dia tu já me disse isso, mas me deixa te beijar, finge que me odeia mas me beija como quem me quer tanto quanto eu te quero.
_ Faça o favor Philipe, não tente jogar palavras onde não cabem, eu não te quero, se tu me beijou, e foram somente dois beijos que não significaram absolutamente nada, tu não significa nada para mim, essa é a verdade.
_ A verdade Jane é que tu já não podes mais te livrar de mim, que sentes algo que não podes mais negar, mas se queres que te prove isso venha aqui perto, não preciso fazer nada para que tu saibas o quanto eu estou te querendo, simplesmente porque tu também estás querendo.


_ Não brinca comigo Philipe, quero encontrar as minhas amigas! Jane estava começando a se irritar.
_ Não se irrite minha princesa, deixe que eles te levem e vamos viver os dois juntos, contra tudo e contra todos. Philipe havia se levantado da pedra e tocava o rosto dela levemente.
_ Me deixa!!! Jane afastou-se bruscamente e estendeu a mão direita contra ele, naquele segundo ele cambaleou e caiu sentado sobre a tal pedra.
_ Uau!!! Finalmente resolveu mostrar tuas garras bruxa, finalmente resolveu mostrar que és uma de nós.
_ Cretino, não tente me fazer mudar de lado nesta história, se vocês são maus eu posso ser muito pior, posso ser muito pior meu caro feiticeiro.
_ Estás começando a fazer ameaças, ameaças... agora resta saber o que tu vai fazer para libertar tuas amigas.
_ Pare com isso Philipe, eu não sei o que tu vai tentar fazer comigo, mas quero minhas amigas vivas.
_ Tua família será a próxima vítima deles, pense bem no que tu vai fazer.
_ Por favor, tudo o que tu tenta me dizer, tudo que tu tenta me fazer pensar, nada me faz mudar de idéia. Eu não posso aceitar isso, não posso me integrar à uma seita que mata por poder.
_ Eu também serei morto se não te levar para eles...
_ O que?!!!
_ Minha missão aqui é te seduzir e levar para eles, porém sem tirar de ti o que realmente interessa para eles, eu sei que isso é impossível, eu não sei o que fazer, estou tão confuso quanto tu estás, mas mesmo assim não quero que te matem.


_ Se o que interessa para eles são meus poderes e se pensam que eles são fortes porque sou virgem...bem, basta que eles não pensem mais isso, mesmo porque os poderes não têm relação com isso, eles não podem diminuir aconteça o que for.
_ Não posso mentir, eles sabem que tu nunca foi de ninguém...
_ Eu não vou continuar com isso... não podem me obrigar a nada. Nem mesmo que matem minhas amigas ou minha família.
_ O que tu quer dizer com isso?
_ É o que tu ouviu Philipe, se a minha escolha for entre minhas amigas e minha família ou entrar para essa maldita seita e ajudar em outros assassinatos eu prefiro que estas pessoas morram para que outras fiquem vivas e para que eu não tenha de sujar minhas mãos com sangue inocente!
_ Não pense que haverá volta se tua opção for esta Jane, pois para a morte não existe volta.
_ Eu sei, talvez a verdadeira solução fosse eu morrer, se agora eu pegasse um punhal que talvez esteja perdido por aí e aqui sobre este altar o enfiasse em meu peito. Lavaria este lugar com meu sangue e talvez conseguisse apagar tudo que aqui aconteceu, as mortes daqueles pobres coitados que por coincidência passaram por aqui nas noites em que esses malditos, dentre eles tu, estavam aqui...em oferenda ao mal. Mas o que vale oferecer a vida de um inocente ao mal? Quando no coração de quem é sacrificado existe somente medo...o que sua alma pode representar para o mal?
_ Não estou te entendendo agora Jane! Acaso queres morrer para não enfrentar o que teu próprio destino te impõe?
_ Meu destino faço eu, se for para viver sempre sob as garras desta maldita seita a morte será a solução... vamos lá Philipe, me mate!


_ Elas estão presas numa da cavernas, eu vou libertá-las, volte para o acampamento e não fale nada, tentarei convencê-las de não falar sobre o que viram.
_ E eu tentarei convencer todos a irem embora desta Serra, depois poderei voltar e então seja lá o que Deus quiser!
Ao chegar ao acampamento Jane encontrou todos dormindo, cansada adormeceu logo.
Assim que a manhã chegou Ilda e Ana voltaram para o acampamento, trazidas por Philipe estavam abatidas, Ana tinha cortes nos braços e Ilda sinais de que havia sido espancada.
_ O que aconteceu? Quem trouxe as duas de volta? Romualdo não podia conter a curiosidade.
_ Philipe nos trouxe. Ele nos resgatou. Ana mal podia falar.
_ E como Philipe as encontrou? Com quem estavam? Patrícia era uma das integrantes da equipe de Romualdo, porém não costumava falar muito, mas aquela hora havia ficado tão apavorada com o estado das duas colegas que a curiosidade foi maior.
_ Pessoal, talvez não seja hora de falar sobre isso, elas devem descansar, vamos Cris, vamos levar a Ana para nosso acampamento, ele tem de dormir um pouco. Jane queria sair dali o mais rápido possível, precisava escapar do olhar de Philipe antes que este a condenasse.
Quando finalmente havia acalmado Ana, Crise Jane puderam conversar com ela:
_ O que aconteceu foi estranho, durante todo o tempo estivemos presas numa caverna, cortaram meu braço e apararam o sangue, Ilda foi espancada para não gritar, vi várias vezes o Philipe com eles, comentavam coisas sobre a Jane, falavam que ela teria de voltar para eles... também vi o Philipe discutir algumas vezes com eles, dizer que não queria mais, porém não sei o que não queria.


_ Quer dizer que Philipe tentou realmente contrariar eles? Jane estava começando a acreditar em seu inimigo.
_ O que eu sei é que ele nos libertou e pediu para não contarmos nada, nem sobre ele, nem sobre o que ouvimos de ti Jane.
_ Será que Ilda vai guardar segredo? Cris estava preocupada.
_ Não sei... sinceramente não sei... Ana estava em dúvida, conheciam Ilda e sabia que não era de segredos.
_ Estou com medo, Philipe desafiou aqueles loucos libertando elas. Jane, o que poderá acontecer? Cris temia por ela e as amigas.
_ O pior é que não sei, se Ilda falar o Philipe vai acabar tendo que fugir de lá e ela pode falar algo sobre mim.
No acampamento vizinho a conversa não mudava muito...
_ O que aconteceu realmente Ilda? Romualdo era metido a líder.
_ Naquela noite alguém me arrastou para o mato, depois me prenderam numa caverna, cada vez que queria gritar me espancavam e ameaçavam de morte, depois veio a Ana, dela tiraram sangue...
_ E como o Philipe as encontrou? Tyssiane era outra das integrantes da equipe de Romualdo.
_ Philipe é um deles... As palavras de Ilda caíram sobre Philipe como um raio, porém ele continuou sentado ao lado dos outros calado.
_ Seu desgraçado! O que queria aqui? Matar a todos? Romualdo estava furioso, havia levantado e gesticulava a cada palavra.
_ Eu não pretendo nada Romualdo, se quisesse matá-los haveria deixado as duas lá, foi tu quem me chamou para este lugar, esqueceu? Philipe falou calmamente, teria de tentar reverter a situação antes de reagir.


_ Mas não sabíamos que tu eras um deles! Nunca imaginamos que pudesse ser um maldito assassino! Júlio havia se revoltado, e isso era raro.
_ Não sou um assassino eu só vim para cá porque me chamaram...
_ Mentira, Ilda acabou de dizer que és um deles! Petrolino havia tomado a defesa de Ilda.
_ Eu sou um deles? Ótimo, e quem mais? Quantos de vocês ela dirá que são um deles? Ilda está estressada com o que houve, não fala coisa com coisa! Philipe estava começando a perder o controle.
_ Eu não estou falando coisas não senhor! Eu vi quando tu ias lá e falava com eles, vi quando discutiam e mesmo quando combinavam coisas estranhas. Não sei exatamente o que porque não entendia tudo, estava nervosa, mas ouvi muitas coisas, principalmente sobre a outra da tua laia...
_ O que?!!! Philipe levantou-se bruscamente.
_ Conte para eles quem mais está envolvida nesta confusão toda. Tu ter me libertado não garante que vou deixar que os dois continuem livres dessa história. Ilda estava descontrolada.
_ Quem é a outra Ilda? Fale logo! Tyssiane não podia mais esperar.
_ Jane!!! Eles a conhecem e muito bem pelo que ouvi...
_ Tu não pode fazer isso Ilda, não podes acusar a Jane desta forma. Ela não é uma deles... Philipe não tinha mais argumentos.
_ E como vamos saber se isso não é outra mentira? Patrícia perguntou.
_ Eu já fui um deles, por isso estava lá, Ilda deve ter ouvido quando discuti com eles, não pode negar isso. Certo Ilda?
_ Isso é verdade, por duas vezes eu o ouvi discutindo e falando que não iria mais aceitar algo...


_ Pois bem, voltei lá para poder soltá-las. Quanto a Jane, isso não é um assunto para ser discutido aqui, diz respeito somente a ela e a mim...
_ Então ela tem algo a ver com isso? Ilda questionou.
_ Não... eu tenho... já disse que fui um deles, e não aceitam que deixemos de ser, querem que eu volte... ela é apenas algo a mais... algo a mais nesse jogo.
_ O que? O que ela significa? Por que falavam sobre ela? Ilda ainda não estava convencida.
_ Eu não queria falar nada para não prejudicar vocês nesta investigação, afinal eu fui contratado para concorrer com ela, mas a verdade é que eu e a Jane não somos só amigos...como podem ver não é nada demais.
As desculpas de Philipe acabaram por convencer a equipe de Romualdo, porém restava encontrar Jane e contar tudo.
_ Seu idiota! Como foi falar isso?
_ Calma Jane, o Philipe tem razão, antes eles pensarem que tu tens algo com ele do que saberem que és uma bruxa. Cris tentava acalmar a amiga, mas esta estava fumaçando de raiva.
_ Eu não quero nem saber, por que não disse outra coisa?
_ Porque não havia nada na hora, não tive tempo para pensar...
_ Além disse Jane, faria sentido, tu e o Philipe vivem sumindo na mesma hora. A equipe do Romualdo não é tão inteligente a ponto de desconfiar. Ana não acreditava muito nas capacidades da equipe de Romualdo.
_ Está bem, mas não pense Philipe, não pense que vou fingir nada perto daqueles idiotas!
_ Para que fingir? A gente sabe muito bem até onde isso é verdade. Aliás quero falar contigo mais tarde.


_ Não posso deixar as minhas amigas sozinhas.
_ Elas ficarão com a outra equipe, creio que devam ficar sempre por lá, chega dessa besteira de investigar!
_ Se quiserem podem ir, eu não vou me juntar com aqueles CDFs, não sou daquela equipe e não vou ficar lá... mas até acredito que Ana e Cris devam mesmo ir para lá.
_ E tu vai ficar aqui sozinha? Não mesmo, isso eu não vou deixar...
_ Tu não tens deixar ou não deixar Philipe, quem cuida da minha vida sou eu, tu não significa nada, absolutamente nada para mim, portanto não manda em mim.
_ Jane, eu acho que tu estás sendo muito injusta com ele! Afinal ele nos ajudou. Ana tomou a defesa de quem havia salvado ela.
_ Eu sei que ele te salvou e salvou a Ilda, fico agradecida por isso, mas a partir disso nada mais interessa.
_ Deixa Ana! Ela ainda vai acabar mudando de idéia... mas enquanto isso é melhor que voltem para o acampamento do Romualdo e da turma dela, melhor aturarem eles do que morrerem. Eu sei que vão tentar algo, não vão deixar em vão o que aconteceu...
_ Eu não vou para aquele acampamento, nem arrastada... Jane revoltou-se e simplesmente deixou as amigas e Philipe falando sozinhos.
_ O que vamos fazer? Cris temia pelas reações da amiga.
_ Não se preocupem, eu sei bem como cuidar da amiga de vocês, podem ir para o acampamento, vou logo depois e garanto que levo a cobra da amiga de vocês, ou se não conseguir ao menos fico por aqui com ela.
_ Ela não vai aceitar nem uma coisa nem outra... Ana sabia das manias da amiga.


_ Eu sei o que fazer, ela é teimosa mas eu sou também, podem nos esperar, antes da noite estaremos no acampamento e ela estará bem mansinha. Mas enquanto isso tente convencer aqueles loucos a irem embora daqui antes que a coisa fique pior.
Philipe sabia perfeitamente onde encontrar Jane, podia sentir a presença dela.
Encontrou-a sentada sobre uma pedra dentro do rio que cortava as redondezas, tinha o olhar perdido e logo pode observar que algumas lágrimas corriam de seus olhos, nem de longe lembrava a garota teimosa e dura que costumava ser. Vendo-a tão indefesa ele aproximou-se e sentou ao seu lado:
_ Por que insiste em fugir de mim?
_ Não estou fugindo de ti Philipe, estou fugindo de mim.
_ Não fuja! Me deixe te mostrar que as coisas podem mudar, que nós dois temos solução...
_ Philipe, entenda, eu sou uma bruxa, nunca vou ser normal, nunca vou poder ter uma vida normal, uma família.
_ Poderá sim! Não é o fato de tu ser diferente, de ter algo que não é comum aos outros que vai te fazer inferior... nem superior, tu podes ter tudo o que quiser, tudo... basta lutar e acreditar que pode.
_ Philipe, eu não sei quem tu és, talvez tu seja um assassino, um bruxo, não sei. Não sei... mas mesmo assim estou aqui e te ouço, queria te ouvir mais e acreditar no que me diz.
_ Acredite, se tu estiver disposta a mudar eu também estarei e tudo de ruim que fiz no passado eu deixarei para trás. Mas uma coisa é certa, não sou um assassino.
_ Jura?
_ Por tudo e pelo que sinto por ti agora...
_ E o que tu sente por mim?


_ Jane, quando eu te encontrei deixei tanta coisa para trás, mas principalmente esta seita... eu sei que agi errado, mas estou disposto a mudar. Me deixe tentar...
_ E quanto a mim? O que será de mim?
_ Eles te querem, querem tua inocência... eu te quero...
_ Não me confunda...
_ Não estou te confundindo... Puxando-a para perto de si ele a beijou.
_ O que pretende me tratando assim? Jane sabia que por trás da meiguice de Philipe havia algo.
_ Vamos para o acampamento comigo, lá todos imaginam que somos namorados, não vão nos incomodar...
_ Está bem... eu irei, mas somente hoje, amanhã quero que eles vão para casa e nos deixem aqui. Nós dois temos que encontrar a solução... 
Ao chegarem ao acampamento encontraram todos sentados junto a fogueira, ao vê-los porém os olhares se voltaram, tinham um ar de curiosidade e ironia, até que Ilda se manifestou:
_ Então o forasteiro na verdade já tinha encontrado algo aqui?
_ Deixe eles Ilda! Ele é um bruxo, combina com a Jane, afinal ela sempre foi estranha.. Patrícia completou o comentário maldoso.
_ Foram vocês que me contrataram para ser o bruxo oficial desta excursão maluca, a Jane não é parte deste contrato, portanto não tens nada a ver com a opinião de vocês. Certo?
_ Será que podemos confiar num bruxo? Petrolino lançou a pergunta com alguma intenção.
_ O fato de o Philipe ser um bruxo não muda o fato de ele ser uma pessoa... por que insistem em ofendê-lo? Jane havia sentido pelo que faziam com ele.


_ Incrível como uma garota do teu tipo pode confiar tão cegamente num homem destes! Um estranho que surge aqui com poderes sobrenaturais... não és tão santinha como pareces... é isso? Tyssiane jogou as questões no ar.
_ O sobrenatural não existe... o que existe é o natural não explicado. Muito me admira a equipe de vocês ter chamado o Philipe para vir neste lugar e agora estar tratando ele desta forma. Será que o que está incomodando vocês é o fato dele ser um bruxo, de ter participado desta seita ou simplesmente o que os incomoda não é ele, mas sim a minha presença? Jane havia mudado completamente de atitude, estava mostrando uma personalidade que insistia em esconder.
_ E por que tua presença iria nos incomodar Regianne? Tu não tens nada para nos esconder...ou tens? Romualdo destilou o veneno.
_ Se tenho ou não a vida é minha, de vocês eu só quero uma coisa: que saiam desta Serra amanhã pela manhã e levem minhas amigas com vocês, mais nada... Jane estava começando a agir sem pensar.
_ E tu? Pretende ficar aqui Regianne? Pretende ficar com teu namorado nesta Serra? Para que? Vão matar mais alguém? Tyssiane estava testando a paciência de Jane.
_ Não sei o que pretendes Tyssiane, mas eu não vou sair deste lugar enquanto não conseguir encontrar o verdadeiro responsável por estas mortes e quando eu o encontrar faço questão de uma coisa antes de vê-lo preso... de te colocar de frente com ele e ver se diante de um verdadeiro assassino tu continuas tão esnobe. Jane desta vez havia perdido completamente o controle.
_ Vejam só! A menina calma e inocente acaba de ter uma crise, o que mais ela esconde de nós além de sua personalidade? Tyssiane havia continuado.


_ Sabe de uma coisa Tyssiane, eu nunca fui com a tua cara e já que estamos aqui jogando limpo sobre o que uma pensa da outra é bom que saibas de uma vez por todas que gente da tua laia não me faz a menor falta, isso quer dizer que tuas opiniões pouco me interessam. Se pensas bem ou mal de mim eu não estou nem um pouco interessada. Eu não preciso da opinião de ninguém para viver... Jane estava cada vez mais descontrolada.
_ Calma Jane, vem comigo, não podemos nos deixar levar pelo momento. Philipe a puxou para perto dele e a induziu a segui-lo.
_ Espera um pouco! Os dois não podem fugir cada vez que se fala sobre eles... o que vão fazer quando formos embora desta Serra? Romualdo não quis deixar que Philipe saísse de perto deles sem que explicasse o que pretendia.
_ Vou tentar descobrir algo mais sobre esses assassinos, mas não quero que ninguém mais fique aqui, nem mesmo Jane, terei que ficar sozinho.
_ Isso não, estamos juntos nesta história e vamos até o fim, não vou sair daqui e deixar que outro leve o crédito pelas investigações! Romualdo não pensava em nada além da fama.
_ Não é um jogo, vidas estão em perigo... Philipe já não tinha mais como explicar o risco que corriam.
_ Se não forem embora logo outro será levado e desta vez morto... Jane estava mais calma.
_ E como tu sabes disto Jane? Patrícia novamente estava curiosa.
_ Eles precisam sacrificar alguém, eu sei disto como todos devem imaginar, são uma seita de magia negra, precisamos impedir que novas mortes aconteçam sem ser preciso... por favor, vão embora amanhã... Jane já estava cansada de pedir.
_ E tu? Jane, não podes ficar aqui... eu sei que o Philipe ficará, mas ele foi um deles e não poderá te defender caso tentem te matar... Ana havia pensado na amiga.
_ Eu sei me defender, não se preocupem, com ou sem o Philipe eu vou ficar...


Assim que a noite chegou ouviu-se um grito cortar a mata, ninguém teve coragem de procurar de onde vinha, na manhã seguinte encontraram Petrolino morto, seu corpo estava pendurado em uma árvore, não tinha os olhos nas órbitas e seu peito rasgado expunha a falta do coração... o pavor foi geral, tão geral que só tempo depois perceberam que Cris havia sumido também.
_ Temos que fazer alguma coisa! Não podemos ficar aqui! Romualdo estava desesperado, afinal Petrolino era seu irmão.
_ Temos que voltar para a cidade e avisar a polícia, mas antes disso precisamos nos acalmar e combinar alguns detalhes... Desta vez Philipe foi frio.
_ E que detalhes podemos combinar com um cadáver sobre nós e uma desaparecida? Júlio não podia lembrar do amigo morto.
_ Se a polícia souber que duas pessoas haviam desaparecido e foram resgatadas vão nos acusar por ter ficado aqui e de certa forma colaborado para que esta morte acontecesse, temos que falar somente o que aconteceu...o que aconteceu aqui... Philipe terminou.
_ Deveremos contar que durante as noite ouvimos barulho na mata, sinal de fogueiras, mas não podemos revelar o lugar exato porque certamente as pistas estarão apagadas, temos de falar sobre os raptos e os resgates sim, mas cuidar para não nos envolvermos nos crimes. Caso contrário seremos presos também. Jane concluiu o que Philipe havia começado.
Três dias depois na casa de Ana:
_ Ainda não tivemos notícias de Cris, espero que não esteja morta...
_ Não Ana, ela não pode estar morta, eu queria voltar lá para a Serra, mas Philipe não me deixa, está lá, sozinho e o pior é que me preocupo com ele.
_ O que tu quer dizer com isso?
_ Eu não consigo parar de pensar nele... Ana, nos envolvemos numa confusão federal, acabamos por causar a morte de um colega, uma amiga está desaparecida e eu não consigo parar de pensar no que está acontecendo com um maldito bruxo...


_ A vida nos prega muitas peças minha amiga, mas eu penso que a Cris não está morta... e se assim for o Philipe vai voltar e trazer a nossa amiga.
_ Espero que seja assim, caso contrário nunca irei me perdoar por isso. nunca irei me perdoar por ter calado quando poderia ter denunciado ele...
_ Vamos tentar confiar ao menos uma vez nas pessoas Jane, principalmente porque não nos restam outras opções de recuperar nossa amiga com vida. Na verdade o que não deveríamos ter feito era ter ido naquela maldita Serra e provocado os fanáticos desta tal seita, agora é tarde demais para que fiquemos aqui nos lamuriando.
_ Foi por competição que nos envolvemos nisso, quer dizer, eu envolvi todo mundo nisso, mas felizmente nossa equipe sobreviveu... ao menos espero que sim.
_ Jane, a culpa não é minha ou tua, é de todos e principalmente do Romualdo, ele levou tudo para o lado do lucro, nós competimos pela honra da vitória, ele pelo lucro...
_ Vendo por este lado... mas deixe, vou para casa. Boa noite.
 Jane sofria de algo terrível chamado peso de consciência, mas nada poderia anular o que já havia acontecido com eles, o destino já havia se encarregado de marcar as estradas de todo um grupo distinto de pessoas e somente muitos anos mais tarde eles se dariam conta do quanto haviam cavado para tornar seus túmulos mais profundos, tão profundos a ponto de ocultar toda uma história.
Naquela noite Ana recebeu uma estranha visita, ao menos estranha para ela, eram quase meia noite quando alguém bateu de leve na janela de seu quarto, pensando ser seu namorado que havia adquirido este costume ela abriu a janela sem vacilar muito. Porém não era quem ela esperava e sim Philipe:
_ Preciso falar contigo...
_ Sobre o que? Ana não imaginava o que aquele estranho poderia querer.
_ Sobre a tua amiga...


_ Cris?
_ Não, Jane, preciso que tu a convença de algo e com urgência.
_ Espere, vou até aí fora...
Quando pode falar livremente com Philipe Ana quis saber o que ele poderia querer que ela convencesse Jane a fazer.
_ A história é complexa Ana, Jane está correndo risco de vida, e Cris mais ainda, somente uma coisa poderá livrar Jane da morte e assim deixá-la viva para libertar Cris.
_ Explique melhor essa história toda.
_ Eles queriam que Jane se unisse à eles e dividisse os poderes que ela tem como bruxa com a seita, para o mal, é claro. Mas ela não quis e eles sabem disso, agora ela deverá ser sacrificada num dos altares como oferenda, logo depois da Cris.
_ Mas o que poderá livrar ela disso?
_ Duas coisas, uma delas é ela aceitar a seita e se unir com eles na maldade...
_ E a outra?
_ Para mim é muito mais simples, mas ela não parece querer...
_ Fale logo o que tu quer que ela faça, se for para salvar ela e a Cris eu a convenço ainda hoje...
_ Como eles acreditam que os poderes dela são mais fortes porque ela é virgem se ela deixar de ser não haverá mais um motivo para que a sacrifiquem, pois os poderes dela não serão mais tão fortes e nem ela será a oferenda perfeita no altar...
_ Queres me dizer que nos dias de hoje ainda existem seitas que sacrificam virgens?
_ Por isso tantas crianças mortas, eles sacrificam a inocência, mas não só isso, muitas pessoas que não são mais inocentes são sacrificadas, esse tipo de sacrifício é especial.
_ Acho que entendi...


_ Por isso a tua amiga tem de deixar de ser virgem até depois de amanhã a meia noite...
_ Mas o que eu posso fazer?
_ Ela insiste em me dizer que não é... eu muitas vezes toquei no assunto e ela me deixou falando sozinho e negou...
_ Mas o que tu pretende? Se ela não quiser tu não vai poder fazer nada.
_ Se ela não quiser por bem...para que não morra vai ser por mal! O que eu quero de ti é que a convenças a me encontrar aqui amanhã a noite, tente falar com ela sobre isso, mas se ela não quiser a convença mesmo assim de vir aqui.
_ Tentarei...
Ana conhecia a amiga melhor do que ninguém e sabia que seria uma missão impossível convencê-la do que Philipe queria, mas mesmo assim ligou para a amiga na noite do dia seguinte, ao ver a amiga chegar a sua casa ficou um tanto meditativa em como falar o que Philipe havia pedido, porém começou...
_ Jane, o Philipe vai passar aqui daqui a pouco para te pegar.
_ Eu não quero falar com ele hoje!
_ Ele me falou sobre o que a seita quer, que vai te matar logo depois da Cris, mas que se tu for para o lado deles nada acontecerá.
_ Eu nunca farei isso!
_ Mas ele me disse que existe outra coisa, se tu não for virgem não haverá sacrifício e tu terás mais tempo para salvar a Cris.
_ Eu não vou para cama com ele se é isso que ele quis dizer, pois diga à ele que não precisa ser com ele.
_ Desculpe Jane, mas tu mesma vai ter de falar, eu só estou passando o recado, tu tens de responder.


Não levou muito tempo para que Philipe viesse buscar Jane, contrariada ela acabou embarcando no furgão negro e ele a levou para uma estrada deserta, parando o carro ele perguntou:
_ A tua amiga falou sobre meu recado?
_ Falou... e eu tenho uma resposta para ti: eu não preciso ir para cama exatamente contigo para evitar que me sacrifiquem...
_ É verdade, eu nunca disse que teria de ser comigo...
_ Então por que estamos aqui?
_ Simplesmente porque eu quero que seja comigo.
_ Escuta aqui Philipe ! Quem tu pensa que é?
_ Escuta aqui tu, desta vez tu vai me ouvir antes de sair me apedrejando. Eu nunca ia fazer o que estou fazendo por uma mulher se não amasse ela.
_ O que?!!!
_ Calada, eu ainda não terminei! Eu poderia simplesmente te levar para eles e entregar de bandeja, mas não, eu te quero para mim e viva...
_ Philipe...
_ Não terminei... tu podes ser de outro, não nego isso, mas eu te quero, essa é a questão. Não seria justo que tu fosse de outro enquanto eu te amo! Eu fui o pior dos bandidos, o pior dos homens até ontem, até quando te encontrei e descobri que se pode teimar com a vida e tomar outro rumo, não ser o mal feiticeiro... não vais me deixar agora, por favor...
_ Não é verdade, tu só estás mentindo para mim...
_ Nunca menti para ti, a verdade dói, mas nunca te disse que eu era bom,. Nunca te neguei nada. Eu te amo! Será que é tão difícil aceitar?
_ Mas eu sou uma bruxa...
_ E eu um bruxo! Dane-se o mundo se não nos entende!


Jane permaneceu em silêncio, não tinha respostas prontas como era seu costume, pela primeira vez estava sem reação.
_ Jane, se não queres te entregar para mim eu não vou te forçar a nada, mas não posso te deixar morrer, irei até eles e mentirei, eu serei morto nas duas hipóteses, na verdade e na mentira, mas não te quero morta.
_ Mas ...
_ Não me diga mais nem meio mas, sei que não me queres. Vamos, te levo para casa.
_ Philipe... eu não sei o que vai acontecer, mas eu te quero muito, mas espere... vamos tentar libertar a Cris, eu sei que meus poderes não vão diminuir, mas não quero correr riscos. Vamos, me leve até eles e me entregue.
_ Mas terei de mentir, direi que já fostes minha...
_ E eu serei aprisionada... Cris será levada ao sacrifício primeiro...
_ Talvez juntos possamos destruí-los, eles não têm poder nenhum, mas vivem praticando o mal para tentar obtê-los.
_ Mas tu tens poderes e eu também...
_ Eu sei, vamos tentar destruí-los!
_ Temos que nos arriscar, libertar Cris.
_ Mas depois teremos que sumir...
_ Para onde?
_ Não sei, não sei ainda.
Por alguns instantes Jane permaneceu fitando a expressão preocupada de Philipe.


Pela primeira vez ela conseguiu ver nele a imagem de um homem sem a escuridão do mal rondando seu ser, ele porém ao perceber que ela havia fixado o olhar nele apenas sorriu e a puxou para si beijando-a.
Entre beijos e carícias eles acabaram por amar-se.
Na manhã seguinte Jane ligou para Ana, precisava acertar alguns detalhes do que estaria por vir:
_ Hoje a noite eu irei com Philipe até a seita, isso será pelas dez da noite, dê um jeito para que a polícia chegue lá até a zero horas e trinta depois disso será tarde.
_ E o que farão até as zero?
_ A meia noite a Cris deverá estar no altar amarrada, será a hora exata...
_ E dentro da meia hora que resta?
_ Philipe me entregará para eles e dirá que aceitei ir para junto deles, isso até as dez, dez e meia, pretendo então participar do ritual de sacrifício da Cris.
_ Mas a polícia vai pegar vocês junto com eles.
_ Não, quando chegarem nós dois vamos simplesmente sumir.
_ Não sei como, mas já que tu diz eu farei...
Jane estava nervosa, mas precisava disfarçar. A noite estava chegando, ela precisaria mostrar o que nunca havia mostrado ao mundo e nem ao menos sabia se era capaz...
Dez e meia da noite, vinte e duas horas e trinta minutos... Philipe entra com Jane no local do sacrifícios:
_ Se querem ela, ela é de vocês...
_ Eu vim para fazer parte da seita, e como prova disto faço questão de participar do sacrifício desta noite...


Durante algum tempo os membros da tal seita se entreolharam, mas quando o relógio soou as zero horas Cris estava amarrada ao altar, o pavor saltava de seus olhos junto com as lágrimas, aos gritos suplicava a amiga que a deixasse viver, mas Jane não tinha qualquer reação de piedade.
Ao comando de um dos membros da seita, todos de negro em volta do altar, Jane iniciou um cerimonial que nenhum deles conhecia, fechando os olhos e erguendo as mãos entrou em uma espécie de transe, naquele momento o fogo surgiu do chão cercando todos de forma a não poderem afastar-se do altar dos sacrifícios, no mesmo instante Philipe repetiu o gesto de Jane e outra esfera de fogo desenhou-se no chão impedindo desta forma que pudessem ir ou vir de encontro ao altar.
_ O que está havendo aqui? Gritou um deles ao ver-se cercado pelo fogo.
_ Calem-se, esta cerimônia pertence à ela! Philipe corrigiu.
_ Quem tentar cruzar este fogo morrerá sem a mínima piedade! Ao falar esta frase Jane representou o círculo de fogo com as mãos e no mesmo momento uma dor torturante começou a tomar cada um deles.
Cris amarrada ao altar dos sacrifícios não podia entender o que era aquilo, cada vez mais se apavorava, até que Jane começou a falar:
_ Muitas vidas se perderam nas mãos sujas de cada um de vocês! Muitas! Mas agora chegou a vez de vocês pagarem, pagarem por tudo o que fizeram para os inocentes que sacrificaram. Sentem dor? Pois deverão sentir mais... Jane parecia sentir prazer em ver os integrantes da seita sofrerem.
Por algum tempo Jane e Philipe continuaram torturando os assassinos, porém ao ouvirem ao longe os motores das viaturas desamarraram Cris e sumiram entre o mato.
Quando os policiais aproximaram-se encontraram Cris sentada sobre o altar dos sacrifícios e os integrantes da seita, cinco homens e duas mulheres, paralisados como se estivessem possuídos por um horror supremo.


Interrogados falaram coisas sem nexo sobre bruxaria e poder, Cris negou tudo afirmando que eles haviam ateado fogo em volta dela.
Presos os integrantes da tal seita as mortes foram esclarecidas...
A equipe de Romualdo acabou por preparar um ensaio sobre crimes hediondos enquanto a equipe adversária simplesmente escrever sobre poderes paranormais e bruxaria... como foram gêneros diferentes não houve comparação e disputa.
Quanto aos membros da seita acabaram assassinados misteriosamente na cadeia antes mesmo do julgamento.
Jane e Philipe sumiram no mundo naquela mesma noite das prisões e nunca mais voltaram ao pequeno município.
Hoje que muitos anos se passaram encontrei Jane, idosa, sentada em sua cadeira de balanço, olhos perdidos no espaço, vive isolada numa cidade qualquer do interior brasileiro, possui filhos e netos, mas a saudade está lhe consumindo.
Quando conversei com ela me contou esta história, uma história de muitas mortes e disputas sem sentido, porém me contou também uma história de amor, e de eternas saudades.
Quando fugiu com Philipe foi para viver com ele e por longos anos estiveram sempre um do lado do outro, como um casal normal, criaram os filhos e conheceram os netos, porém um dia ele faleceu e ela continuou viva. Daí sua saudade, saudade do amor que um dia conheceu.
Hoje Jane vive rodeada por seus netos, mas guarda consigo os segredos que jamais o mundo pode conhecer, ao menos até hoje.
Mas um dia talvez o mundo saiba que nem tudo é como contam as histórias e que o coração de uma bruxa também pode amolecer, afinal das contas as bruxas também amam.


E nas noites em que o silêncio cobre a terra, no escuro das florestas, ao som do vento, quando o perfume das árvores em flor invade o ar e a lua insiste em quebrar as trevas tenebrosas, nestes momentos mágicos em que entre o bem e o mal não há uma explicação lógica, nestes momentos lá no mais perdido espaço e tempo pode haver uma chama de amor nascendo no mais frio coração. Porque não há quem nunca tenha amado e não há quem nunca sofreu por amor.
As bruxas também amam, mas o mundo não sabe disso...
Se puderes provar-me o contrário eu espero por tua prova...                                                      
Palavra de bruxa...

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