segunda-feira, 25 de abril de 2011

Edward naquele momento deve ter perdido o raciocínio, a segurou contra a parede e falou:
_ Não tente me julgar, eu não preciso das tuas críticas!
_ E o que vai fazer? Vai me matar?
_ Vai embora daqui! Vai pra casa, não quero perder a cabeça e cometer uma loucura.
_ Como me matar?
_ Não... Ele apenas a segurou mais forte e a beijou.
_ Não devia ter feito isso...
_ Mas fiz, e farei quantas vezes eu quiser. Não tente fugir de mim, as tuas provocações só fizeram me despertar o desejo de te possuir.
_ Nunca! Eu não serei tua nem aqui, nem em lugar nenhum.
Talvez Charlotte não houvesse percebido que Edward estava cada dia mais próximo dela, suas brigas eram tão constantes que poderiam significar apenas o desejo de estarem juntos, mas ela não iria admitir jamais.
_ Rosalia, o Edward esteve na escola novamente...
_ E o que houve desta vez?
_ Além de discutirmos mais do que antes?
_ Além...
_ Me beijou e disse que me desejava...
_ Ah, eu não acredito, ele havia prometido para o Alexandre que não faria nada contigo!
- O que?


_ Bem, o Edward é um mulherengo, ao menos essa é sua fama, costuma ter as mulheres que quer. Alexandre havia pedido que ele não brincasse contigo...
Charlotte não gostava que a fizessem de boba e muito menos que brincassem com ela, estava furiosa, tão furiosa que rumou direto para a casa da fazenda onde encontrou Edward sozinho, deitado na rede:
_ Escuta uma coisa Edward! Eu vim aqui para te dizer que não sou um brinquedo. Pensas o que? Que por ter as mulheres que sempre quis eu serei igual?
_ Eu não penso, eu tenho certeza. Edward levantou-se da rede e caminhou até ela.
_ Não tente bancar o engraçadinho comigo...
_ Não sei o que tu chamas de engraçadinho, mas eu vou te mostrar que nenhuma mulher me desafia. Ele a puxou para si e a beijou longamente.
_ O que tu estás pensando? Que podes me beijar quando bem entendes?
_ Que posso te possuir quando eu bem entender. Queres mesmo mudar a vida dos meus empregados Charlotte? Vamos ver se tu és tão boazinha quanto queres parecer.
_ O que queres dizer?
_ Que eu tenho uma proposta para te fazer.
_ Que proposta?
_ Trato meus empregados com toda dignidade que eles têm direito e até mais, mas tu tens que me dar algo em troca, algo que todos eles vão saber.
_ O que?
_ Tu vai ser a minha mulher...
_ Isso nunca!


_ Então não reclame, vou demitir meia dúzia deles amanhã mesmo, meia dúzia dos mais idosos, que não possam encontrar emprego em lugar algum e definhem aos poucos pelas ruas.
_ Isso seria cruel demais até para ti...
_ Depende só de ti...
_ Mas como vou ser tua mulher se nem ao menos eu te amo?
_ E quem disse que quero amor? Eu quero uma mulher que possa me dar o filho que perdi quando fui para a cadeia.
_ É muito baixo... Eu não posso deixar que tu me tomes a minha vida dessa forma.
_ Escolhe, se aceitar nos casamos antes mesmo de Rosalia, nos casamos e tu passa a ser a minha mulher...
Charlotte tinha consciência da responsabilidade que era jogada sobre suas costas, não podia deixar que aqueles trabalhadores perdessem seus empregos, não podia deixar que as crianças da fazenda fossem crescendo como escravas e sem uma educação digna. Ela não teria muito a perder, poderia casar-se com Edward e logo pedir o divórcio, mas haveria outra condição de sua parte, uma condição que fizesse com que ele nunca pudesse demitir aqueles empregados.
Dois dias depois Edward voltou à escola, era meio dia, tudo estava deserto:
_ Pensou no que te propus?
_ Pensei... E tenho uma coisa para te responder.
_ Diga...
_ Eu me caso contigo e faço o sacrifício de viver sob o mesmo teto, mas tenho que te pedir algo.


_ O que?
_ Quero um documento, um documento onde tu te comprometa a me dar a escola e a não demitir nenhum dos empregados acima de quarenta e cinco anos.
_ Está bem, a maldita escola não me interessa e os empregados serão tratados como te prometi.
_ Está bem, eu casarei contigo...
Charlotte não era mulher de deixar que a vencessem com facilidade, mas casou-se, casou-se dentro de duas semanas do pedido.
Começaria então a sua vingança contra Edward...
Uma semana depois do casamento:
_ Tu não passa de uma trapaceira! O combinado seria que nos casássemos e que eu mudasse quanto aos empregados.
_ Casamos e tu mudou, o rendimento deles aumentou tudo está bem.
_ Não, não está, tudo anda mal, eu sei que eles estão bem, não pretendo mais voltar a tratá-los como antes, mesmo porque pensei melhor e vi que nada tem a ver eu humilhar meus empregados com o que me aconteceu no passado, que ninguém tem culpa de nada. Mas tu não estás cumprindo com a tua parte no trato.
_ Claro que estou! Eu casei contigo sem sentir nada, não é o suficiente?
_ Não! Edward perdeu a calma que vinha aparentando depois do casamento e a empurrou contra a parede do quarto.
_ O que significa isso? Estás voltando a ser o mesmo?
_ Não - disse ele enquanto a segurava - eu só estou querendo o que é meu por direito.
_ Não tens direito nenhum...


_ Tu és minha mulher, eu te falei que queria um filho e tu nem ao menos me deixa consumar esse casamento.
_ Para que tu queres ter um filho comigo? Não me amas só me obrigastes a casar contigo para realizar um capricho: me obrigar a algo.
_ Se eu não te amasse eu não teria chegado a este ponto, não entendes que eu só fiz isso porque sabia que por bem tu não casarias comigo e eu te perderia assim que tua prima se casasse?
 _ O que?!!!
_ Estás feliz agora? Conseguistes o que jamais alguém conseguiu: me fazer confessar meus sentimentos. Edward a soltou.
_ Tu só podes estar jogando comigo...
_ Não! Pela primeira vez em minha infeliz vida eu não estou mentindo, fingindo ou jogando: eu estou perdidamente apaixonado por ti, tão apaixonado que não consigo viver sem tua presença, que não quis te ver partir.
_ Edward, eu não sei até onde posso confiar em ti, tu és muito violento, muito mau caráter...
_ Eu me apaixonei por ti somente por um motivo Charlotte: tu não teve medo de mim.
_ Edward, eu casei contigo somente para que não demitisse aqueles homens e pela escola, não sentia nada por ti.
_ Eu sei... Mas se tu fostes capaz de tudo por uma escola velha caindo aos pedaços e uma meia dúzia de velhos peões por que não podes me amar um pouquinho que seja e me dar um filho?


_ Tu queres um filho? É somente isso não é? Estás me dizendo que me amas e não podes viver sem mim, mas só queres um filho!
_ Se fosse somente isso eu teria engravidado uma destas mulheres aqui do povoado e não casado contigo!
_ Está bem Edward, eu vou ter um filho teu, mas não pense que isso vai me fazer ser tua, uma coisa será ser a mãe de teu filho e tua mulher perante a sociedade, outra será te amar algum dia...
Edward não pensou duas vezes e a beijou novamente. Um mês depois ela estava grávida.
Charlotte não estava com sua vingança terminada, ainda restava muito para que tivesse a certeza de que Edward havia mudado e nunca mais voltasse a ser o homem mal que havia conhecido, mesmo diante de um marido que lhe fazia todos os desejos e de um patrão que não tinha uma palavra ofensiva para os empregados ela ainda temia uma reviravolta assim que o bebê nascesse e ele visse realizado seu desejo.
Edward não percebia os planos de Charlotte, estava se comportando bem, tinha percebido a mudança dos empregados e até mesmo as crianças que antes fugiam dele estavam se aproximando. Mas foi do amigo Alexandre que ouviu o comentário no dia do casamento de Rosalia:
_ É Edward, estamos os dois casados com mulheres de gênio forte, Rosalia parece uma doce menina, mas tem pulso firme, será uma ótima dona de casa e com certeza me ajudará muito na fazenda. E tua mulher, tua Charlotte parece ter te mudado muito e para melhor.
_ Parabéns por teu casamento amigo, de certa forma somos quase parentes agora e espero que tenhamos sorte com nossas mulheres.


_ Rosalia certamente me dará toda sorte do mundo e a tua esposa te dará um filho brevemente não é? Então... O meu amigo Edward vai mudar para sempre...
Depois que descobriu que ia ter o filho Charlotte passou a evitar novamente Edward, a impedir mesmo que ele tocasse sua barriga.
Um belo dia, já aos oito meses de gravidez ela estava no quarto quando ele entrou:
_ Tudo bem com o meu filho?
_ Tudo bem...
_ Deixe-me tocar a tua barriga.
_ Não, eu te darei um filho, foi o que te disse.
_ Por favor.
_ Não... Tenho muito que pensar sobre nós Edward, não insista, espere que o bebê nasça para que possamos discutir isso.
Edward retirou-se cabisbaixo, por anos havia sido um homem vil, mas havia mudado, na verdade não havia sido mal, apenas amargurado com o destino que tomara tudo de sua vida.
A vida é um grande jogo, cheio de jogadas estranhas, o que dá a vida pode dar a morte.
Naquele dia nascia João Pedro, uma criança frágil, mas cheia de vida. Mas naquele mesmo instante a vida de Charlotte começava a desprender-se, o médico havia chamado Edward e desenganado a garota, desesperado ele invadiu o quarto do hospital. Um farrapo humano, no lençol branco suas mãos pareciam azuladas, seus olhos não tinham mais o brilho que os faziam cintilar, ofegante ela ergueu os trêmulos dedos fazendo com que ele se aproximasse:


_ Charlotte, não me deixe... Segurando as mãos gélidas dela ele implorou.
_ Não posso ficar, não é minha vontade que voga Edward, não queria morrer e deixar meu filho... Mas tenho de ir...
_ Não é por meu filho apenas que te peço para ficar, mas por mim, não me deixe... não agora que encontrei meu amor verdadeiro...
_ Edward... Eu te menti... por tanto tempo... Na verdade, na verdade eu te amo muito. A voz era oscilante.
_ Mas por que mentiu?
_ Eu te deixei uma carta, está no meu quarto. Quero somente te dizer uma vez: eu... eu te amo... Edward... eu te amo... A voz fraca cessou, o rosto pendeu para o lado, desesperado Edward a beijou e foi assim que Alexandre e Rosalia os encontraram: ele beijando os lábios mortos da mulher que amou.
Passado o velório Edward ficou com o menino, iria cuidar dele. A carta foi encontrada e nela estava tudo o que Charlotte quis dizer, mas a morte impediu:
Edward, eu sei que não vou sobreviver ao parto, mas quero me lembrar de ti para minha eternidade.
Eu te menti Edward, menti quando neguei que te amava, mas não foi por mal, eu queria ter certeza de que tu mudarias e não voltarias a ser o homem mal que eu conheci.
Não me conhecias realmente, porque se conhecesse irias saber que não me casaria se não fosse por amor.


Tolinho, não fique triste, eu estarei sempre contigo, porque te amo e quando se ama nem a morte pode separar. Ah, te deixo meu filho, nosso filho, um pedaço de nós, uma prova de meu amor, sei que queres muito ser pai e serás, assim como eu, mesmo que por um remoto segundo serei mãe... Só lamento não ver nosso filho crescer e não poder agora Edward, nesse instante em que tu lês esta carta te beijar esses lábios que furtivamente os meus lábios assaltaram por tantas vezes enquanto eu fingia dormir.
Edward, de homem rude e mal tu só tinhas mesmo essa falsa fachada, que bom! Eu morro feliz por saber que amei um bom homem e tenho certeza que serás um bom pai.
Pela última vez: eu te amo... Tu nunca me fez infeliz, pelo contrário: eu fui imensamente feliz contigo...
Tua para todo o sempre:
Charlotte.
Foi assim que Edward criou sozinho seu filho João Pedro, Alexandre e Rosalia tiveram uma filha e um filho: Karyn e Bruno.
João Pedro formou-se em veterinária, Karyn é médica, Bruno tornou-se agrônomo.
O tempo passa e leva os mais velhos, Edward faleceu antes mesmo de ver o filho formado, Rosalia e Alexandre morreram em um acidente de carro no ano de 1990.
Os três tornaram-se amigos inseparáveis e juntaram ao estreito círculo de amizades Frank, um administrador de empresas recém formado.








CAPÍTULO: DOIS O RECOMEÇO

_E essa é a história minha e de meus amigos Lizzie.
_ E qual destes seus amigos herdou a tal fazenda?
_ João Pedro...
_ Bem, posso compreender perfeitamente a função de um agrônomo, de uma médica, um veterinário e mesmo um administrador numa fazenda, mas o que eu faria lá?
_ Uma pedagoga cuidaria da escola da fazenda.
_ Não sei Frank, não tenho certeza se deveria ir.
_ Tens até amanhã para pensar...
_ Sabe o que é? Eu não conheço ninguém, são todos estranhos...
_ Precisamos de uma babá para o filho do Bruno.
_ Chamarei uma amiga, com certeza ela irá, ao menos nas férias...
Era uma cidadezinha cheia de lendas e superstições, coisas que o interior ainda insiste em guardar.
Frank havia combinado de encontrar com João Pedro já na cidade, mas algum imprevisto havia feito com que apenas Lizzie, Frank e Dorothy, a amiga de Lizzie chegassem à data combinada.
_ É uma pena que os outros ainda não tenham chego, mas tudo está resolvido, não se preocupem. Ficarão aqui nesta casa, é uma casa velha, cheia de lendas, mas nada real, não se preocupem.
_ Que lendas são estas Frank?


_ Lendas Lizzie, somente lendas, dizem que quando esta casa foi construída trouxe com ela a morte... O homem que a construiu morreu esmagado por uma das vigas do teto, depois o dono foi picado por uma cobra aqui dentro e também faleceu, mas parece que ele teria gritado uma maldição na hora da morte e isso originou a lenda.
_ Mas ainda não entendi qual lenda? Dorothy estava cada vez mais curiosa, afinal não era todo dia que ganhava uma casa nova.
_ Ele gritou aos quatro ventos que quem morasse nesta casa morreria como ele e o construtor, nunca ninguém haveria de viver debaixo deste teto... Coisas de povo antigo... Superstições e só... Frank tentou ser breve, mas já havia despertado a curiosidade em sua prima.
_ Mas só isso basta para que o povo crie uma lenda?
_ Bem, na verdade não... Depois disso outras mortes vieram, sabe aquele cemitério lá embaixo?
_ Sei... Responderam as duas em coro.
_ Pois todos os túmulos que estão lá pertencem à gente que morreu aqui nesta casa...
_ É assustador... Dorothy estava começando a sentir medo.
_ E como aconteceram tantas mortes? Lizzie estava cada vez mais tomada pela curiosidade mórbida das mortes.
_ Bem, esta casa já tem seus duzentos anos, foi reformada, mas conserva sua arquitetura. O primeiro e o segundo morto vocês já sabem quem foram depois a casa foi comprada por um casal, este casal era rico e tinha uma filha muito bela, mas ele se apaixonou por um dos empregados, perdidamente... Um dia os pais dela descobriram a paixão e mataram o rapaz... Triste sina a deles, a garota definhou até que um mês depois morreu de saudade levando consigo o fruto daquele amor. Os pais dela acabaram morrendo de algum mal que hoje chamaríamos depressão em menos de um ano.


_ Quatro mortos, ou cinco... Talvez, já foram sete... Dorothy calculou.

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