segunda-feira, 25 de abril de 2011

até aqui te esperar... A cada palavra ele se aproximava mais dela.
_ Para que?
_ Para continuar o que havíamos começado...
Lizzie não pensou duas vezes antes de correr, ele, porém a alcançou e a derrubou no chão:
_ Não adianta fugir de mim... Outra vez ele a havia prendido com o próprio corpo e segurava seus pulsos com força.
_ Não adianta fugir de ti, mas também não adianta ficares me segurando desta forma...
_ Tu não vai escapar, vai ser minha...
_ Me deixa em paz seu idiota!
_ Ontem tu me falou que mulher nenhuma ia querer ter um filho meu... Mas eu faço questão de uma coisa na minha vida...


_ Me larga!!! Ou eu começo a gritar.
_ Grite, o lugar é deserto e ninguém vai te socorrer, além do que tu és só uma professora e eu sou dono das terras de meia cidade.
_ Cretino! Tu não vai fazer comigo o que costuma fazer com as mulheres que conhece por aí...
_ Eu só quero uma coisa na minha vida: te engravidar.
_ Me solta!!! Tu está ficando maluco!!!
_ Estou... Maluco por ti! João a segurou ainda mais forte e a beijou.
_ Não faz isso comigo!!! Lizzie empurrou-o com mais força e aproveitou o momento para soltar-se.
_ Nunca mais tente me tocar! Ouviu bem? Eu não sou um objeto que tu brinca quando bem entende! Lizzie saiu caminhando rapidamente.
_ Tu ainda vai ser minha e vai me dar um filho! Ele gritou e ficou sentado, vendo-a afastar-se, no seu rosto havia um sorriso sarcástico.
Quando não pode mais vê-la deitou-se e ficou fitando o céu, havia levado tempo para descobrir o quanto desejava aquela mulher, mas as palavras dele o haviam levado às raias da loucura e agora ele a desejava não só em um momento, mas a desejava para gerar um filho. 


Nas raias da loucura também estava Lizzie, não sabia mais como reagir aos assédios de João Pedro, mas temia pela amiga, temia que a gravidez desta resultasse em abandono. Talvez por isso quando Dorothy chegou em casa naquela noite não encontrou a amiga, somente quando eram dez e meia da noite ouviu os passos dela rumando para o quarto e assim foram por três dias consecutivos, até que numa noite Dorothy perdeu a paciência e foi até o quarto da amiga, entrou sem bater e encontrou Lizzie sentada na cama, olhos perdidos no nada:
_ O que está acontecendo contigo?
_ Nada...
_ Por nada tu não ficarias circulando por aí até dez da noite todo santo dia!
_ Dorothy, eu não quero falar sobre isso...
_ É o João Pedro não é?
_ É... Como sempre é o João Pedro!
_ O que foi desta vez?
_ O mesmo de sempre, anteontem dispensou meus alunos e ficou me esperando na estrada, o resto tu já pode imaginar...
_ O que aconteceu?
_ Outra vez me segurou me beijou a força... me disse que queria me engravidar , que me queria... Enfim, essa baboseira e meia de sempre.
_ E o que tu fez?
_ Nada... Só tratei de me soltar e deixá-lo lá sozinho...
_ Tu não viu mais ele depois disso?
_ Não, mas todos os dias me manda um bilhete por um dos meus alunos.
_ E o que dizem os bilhetes?
_ Estão aí sobre o criado mudo, leia se quiser... Lizzie indicou alguns papéis.
_ Deixe-me ver:
“Não pense que eu desisti das coisas que te falei, estou apenas esperando um momento próprio para que possamos fazer tudo o que queremos.”


“Sonhei contigo esta noite, estavas simplesmente em minha cama, não fugias como nas vezes em que quase consegui o que desejo de ti, mas me imploravas para que eu te possuísse.”
“Se tu não for minha não vai ser de mais ninguém... nunca.”
_ Está entendendo o que eu quero dizer quando digo que ele está me enlouquecendo aos poucos?
_ Não pensei que ele fosse tão louco!
_ É pior, esses bilhetes só provam que ele não está mais agindo como uma pessoa normal, mas não me garantem que ele está só me fazendo ameaças. A loucura dele está tão grande que cismou que vai ter um filho comigo.
_ Eu acredito que ele realmente esteja louco.
_ E eu faço o que?
_ Não sei... Mas não podes deixar que ele te manipule.
_ Não... Isso nunca!!!
Sem perceber Lizzie já estava sendo manipulada por João Pedro, cada atitude sua era medida pensando nele, cada passo era dado pensando nele, mas na manhã seguinte ela receberia uma carta dele.
Um menino veio entregá-la e saiu correndo, como Dorothy ainda estava em casa logo foi até a amiga:
_ Dorothy, leia para mim, eu nem quero tentar, imagino de quem seja.
_ Está bem, mesmo porque tu estás tremendo mais do que vara verde...
_ Leia logo...


“Não precisas mais vir até a escola professorinha, eu acabei de mandar demolir aquele rancho velho e cheio de velharias, mas tu tens um contrato comigo e tens que cumprir”.
Eu não iria ter demolido aquele lugar se tu não tivesse me provocado até que eu perdesse a minha paciência.
Tem mais uma coisinha professorinha: tu e a tua amiguinha vão ter que sair da minha casa até amanhã e eu ofereço um trato para as duas.
Ela pode ir para a casa do Bruno, afinal eu sei que os dois estão aproveitando melhor do que nós... e tu, bem, eu sei de um lugar que tu podes ficar aqui na fazenda, na casa de uma empregada.
“Me procure se tiveres algo para reclamar.”
_ Liz, ele não pode estar falando sério.
_ Espero que não, mas eu vou agora mesmo naquela fazenda para falar com ele.
_ Sozinha? Não mesmo! Eu vou contigo.
_ Não... ele pode falar algo que te ofenda, não quero que te preocupes...
_ Mas não pode ser perigoso?
_ Não... Não precisa te preocupar, vou procurar Frank.
_ Ele não está, foi para a capital resolver uns assuntos para o Bruno.
_ Por falar no Bruno, tu contou para ele?
_ Contei...
_ E?
_ Nada, me disse que estava tudo bem e só.


Lizzie esperava sinceramente que estivesse tudo bem e só, mas não tinha tanta certeza. Ao chegar na casa de João Pedro Lizzie encontrou-o tranqüilamente deitado na rede que ficava na varanda:
_ Se o caso for o fato de eu ter de ir embora não se preocupe, eu estarei indo amanhã mesmo.
_ Nem cumprimenta quando chega?
_ Não...
_ Lizzie, como sempre indignada com tudo! Eu só fiz isso para te ver.
_ O que?
_ Claro que não demoli escola nenhuma, é uma lembrança da minha mãe e muito menos vou expulsar as duas de lá, tua amiga é namorada de um dos meus melhores amigos. Ao falar isso ele sentou-se e ficou olhando para ela.
_ O que mais tu vai fazer comigo?
_ Eu pensei sinceramente em te obrigar a morar aqui na fazenda, na casa de uma das empregadas, mas não iria ser tão bom, eu quero mesmo é que tu venha morar na minha casa... No meu quarto.
_ Será que tu só pensa em sexo?
_ Olha só! Tu falou finalmente o que eu quero contigo.
_ Desculpe-me João Pedro, mas tu tens de entender que nunca vai ser possível, eu nunca iria para cama com um homem que tivesse o teu comportamento.
_ Mas eu iria para cama com uma mulher que tivesse o teu comportamento! Lizzie, eu já te avisei por mais de uma vez, não adianta fugir de mim, eu vou acabar conseguindo e daí tu vai te arrepender de não ter concordado.


_ Escuta uma coisa: a força tu não vai poder me fazer te aceitar e eu não quero, em resumo: não vai ser possível nunca!
Ele levantou-se e caminhou até perto dela, parando nas suas costas e sussurrando em seu ouvido:
_ O que eu quero eu tenho...
Lizzie não lecionou naquele dia, estava exausta demais e não poderia concentrar-se em nada. Não havia percebido o quando a proximidade daquele homem a desconcertava, o hálito dele, o calor daquele corpo queimado, os lábios quentes, tudo a deixava completamente dominada. Por alguns instantes parou e pensou: estava completamente envolvida, dependente dele. Mas não o amava, ao menos não amava no conceito de amor que havia formado para si. Mas quando fechava os olhos o que via era ele, seu corpo parecia viciado no toque daquelas mãos fortes. Nem ao menos havia percebido o quanto o tempo estava passando rápido, seu primo, o objetivo principal daquela loucura já não era tão lembrado, sentiu que estava se afastando de Frank e sentiu além de tudo a culpa, a culpa por estar deixando que alguém semeasse nela um sentimento que não havia planejado. Não era a mesma Lizzie que havia ido de encontro ao primo desaparecido, que havia desafiado toda família para aventurar-se nas estradas com ele, era uma Lizzie indefesa, uma Lizzie que deixava-se amedrontar por um homem estudado, mas rude, um cowboy estúpido que não sabia nem ao menos com tratar uma mulher. Mas um homem que a desejava e queria mais do que simplesmente tê-la, queria ter um filho. Somente aí percebeu a que ponto estava chegando à loucura de ambos: um filho não é um brinquedo.


Explicada a brincadeira de mal gosto de João Pedro a semana transcorreu dentro da normalidade, naquele fim de semana haveria um baile na fazenda de Bruno, um destes bailes de galpão onde o povo dança livremente pelo centro do galpão e o cheiro de churrasco perfuma o ar.
Para descrever-se estes bailes seria preciso antes de qualquer coisa saber a diferença entre as festas que normalmente ocorrem nas cidades e as festas que ocorrem no interior, as primeiras têm seu encanto, mas o movimento intenso e o acúmulo de desconhecidos faz com que percam a intimidade, nas festa de interior sempre há um alguém conhecido, sempre há um lugar perto de alguém e alguém perto de quem deveria estar... são festas tranqüilas, cheias de uma graça especial que trás entre tantas outras coisas o toque de intimidade que ainda resta, o toque de ser sempre um conhecido, um alguém que não vai causar estranheza ou impacto por falta de identidade, mas por outros motivos talvez, pois nestas festa ainda resta o poder de escandalizar perdido pelas festas de cidade grande.
Pois foi um baile destes que chamou nossos conhecidos naquele sábado tranqüilo...
Lizzie chegou acompanhada de Dorothy e Bruno, estava sentindo-se sozinha, pois não contava com a presença do primo que chegaria mais tarde, logo sentaram-se num canto do galpão e com eles Karyn.
_ Quer dizer que vão mesmo casar maninho?
_ É Karyn, decidimos ontem... A resposta foi curta.
_ Em um mês eu terei uma cunhada para chatear? A pergunta de Karyn soou como uma brincadeira.
_ Eu que o diga! Dorothy respondeu um tanto tímida.
_ E tu Lizzie, o que vai fazer quando a Dorothy sair daquela casa? Bruno queria ouvir uma resposta para as suas suspeitas depois da cena que havia presenciado na escola.


_ Vou voltar para a minha cidade e continuar a minha vida na mesma rotina de antes.
_ E a escolinha Lizzie? Vai deixar o João Pedro fechar a escolinha? Karyn parecia estar querendo fazer com que Lizzie ficasse.
_ Não posso continuar lá, o João Pedro é muito teimoso e nunca vai se convencer de que aquela escola precisa de reformas, de melhoras. Mas espero que tudo corra muito bem para quem ficar.
_ O João sempre foi teimoso, mas tu podes fazer ele mudar de idéia, afinal das contas estás teimando com ele há quase dois meses. Bruno resolveu argumentar.
_ Vamos convir que ele é muito pior do que eu, e, além disso, Bruno, eu não sei ser pisada como ele tem feito comigo.
_ A Liz sempre foi do tipo que não gosta muito de ordens, acostumou-se com o comando e não em ser comandada, sempre foi assim. Dorothy descreveu uma das personalidades das amiga.
_ Boa noite, posso sentar com vocês? João Pedro chegou e foi logo sentando ao lado de Lizzie.
_ Boa noite João, estávamos conversando sobre o meu casamento... Bruno revelou os planos.
_ Vai se amarrar meu amigo?
_ Vou e acho que deverias pensar em fazer o mesmo...
_ Quem sabe, mas eu antes de pensar em casamento quero pensar em arrumar a noiva.
_ Isso a gente pode resolver facilmente, é só tu querer e concordar... Karyn falou com um sorriso estampado.


_ E quem seria a noiva que vocês me arranjariam?
_ A Lizzie serviria. Vai dizer que não? Bruno completou a idéia da irmã.
_ Ela serve sim, mas está sendo difícil convencer ela disso! João Pedro fixou o olhar em Lizzie.
_ Eu não estou querendo arranjar marido... Lizzie respondeu sem desviar os olhos.
_ Boa noite! Frank havia chego em silêncio e parado atrás da cadeira de Karyn.
_ Oi Frank, eu estava aqui tentando convencer o João e a tua prima de que os dois seriam o casal perfeito, mas está difícil. Bruno sorriu.
_ Isso é uma missão quase impossível. Vamos dançar Karyn. Frank convidou.
Logo que Frank saiu com Karyn, Dorothy e Bruno saíram também.
_ Eu espero que tu não tenhas ficado com raiva de mim por causa desta brincadeira.
_ Não João Pedro, eu não fiquei...
_ Vamos dançar?
_ Já que só sobrou tu mesmo... Vamos.
Uma coisa estranha sempre acontecia no meio dos bailes nas fazendas daquela cidadezinha: alguém desligava a chave da energia e escurecia por completo o galpão, tradição que vinha do tempo em que se apagava os lampiões e foi isso que aconteceu naquela noite.
_ O que foi isso?


_ Nada, segura em mim e eu vou te levar para fora da pista. João Pedro abraçou Lizzie e caminhou com ela por um instante. Ao pararem:
_ O que está havendo aqui?
_ Lizzie, é costume, apagasse a luz para que comece o festival de beijos e amassos, por isso vamos ficar aqui, pertinho da chave e esperar um tempo para religar.
_ E que tempo?
_ Até que alguém comece a gritar ou a brigar...
_ Costume estranho!
_ É... João simplesmente puxou-a para perto e começou a beijá-la.
_ João Pedro! Pare com isso! Lizzie falou ao ver-se livre dos lábios dele.
_ Eu não ia ficar sem beijar ninguém nesse apagão...
_ É melhor ligar a chave!
_ Antes me dê mais um beijo...
_ Tu não cansa disso?
_ De te beijar? Não...
Como não haveria outro jeito ela deixou-se beijar mais uma vez. Logo que a chave foi ligada todos voltaram para a mesa, era preciso uma pausa no baile depois do apagão.
_ Liz, eu vou dormir aqui hoje.
_ Está bem Dorothy...
_ Quer que o Bruno te leve em casa?
_ Não... Eu a levo... João Pedro respondeu por Lizzie.
_ O que acharam do apagão? Bruno tinha curiosidade.
_ Divertido... Dorothy respondeu de pronto.


_ E tu Lizzie, o que tu achou? Karyn havia percebido algo.
_ Nada...
_ Eu acho que nunca na história deste apagão alguém ficou sem beijar ou ser beijado... Bruno comentou.
_ Nunca!!! João Pedro confirmou.
_ Já é um pouco tarde, eu acho que vou embora... Lizzie parecia estar nervosa.
_ Vamos então, estou com meu carro aí fora. João Pedro levantou-se.
_ Eu poderia voltar sozinha...
_ De jeito nenhum... Vamos.
Meio a contra gosto ela aceitou a carona.
Durante todo o caminho ele ficou calado, olhos atentos somente na estrada, parecia não ser o mesmo João que ela conhecia, porém logo que chegaram na casa ele parou o carro e sorrindo começou a falar:
_ Eu só vim te trazer até aqui por uma coisa: eu quero entrar.
_ Não mesmo... Se fosse para isso podia ter me deixado vir de pé.
_ Poderia mesmo, mas teria te seguido e então te obrigado a embarcar e depois... bem, depois a gente ia saber, mas só quero entrar e conversar um pouco contigo.
_ E como vou confiar em ti?
_ Tente...
_ Está bem, vamos, mas não tente nada, além disso...
Ele aceitou a condição e acabou indo para a sala da casa, sentou-se no sofá e ficou por instantes observando ela andar de um lado para o outro da casa até que sentou-se no batente da janela.


_ Desculpe pelas coisas que eu tenho feito contigo...
_ Vou pensar...
_ Eu soube que tu falas sério em ir embora...
_ É...
_ Não vá, por favor!
_ E o que vou ficar fazendo aqui?
_ Eu reformo a escola, contrato a tua amiga como professora e te deixo só cuidando da administração dela e dos problemas que possam vir a acontecer com as crianças da fazenda, mas não vai...
_ Eu não posso ficar, a Dorothy vai casar, eu já convivi com meu primo o suficiente para que nos conheçamos, agora preciso ir.
_ E o que eu quero não te importa? Não te importa o que eu sinto?
_ João... Eu sou só um dos teus caprichos, quando me for tu vai me esquecer.
_ Não vou... Eu te quero

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