Na manhã seguinte Lizzie foi novamente para a escola, lá, porém teve a pior surpresa que poderia ter naquela manhã ensolarada: sentado na última carteira estava João Pedro. Assim que todos os alunos ficaram acomodados ela deu-lhes uma tarefa de leitura e foi até ele, falando baixo o convidou para ir até fora da sala.
Ele a seguiu até a cozinha da escola, estava com o mesmo ar de superioridade de sempre:
_ O que tu faz aqui na escola?
_ Eu vim assistir a tua aula, Professorinha!
_ Não preciso de platéia....
_ Mas eu sou o dono desta escola e sou eu que te pago o salário pelo qual estás aqui... Tenho meus direitos.
_ Pois bem, vá lá para a sala então... Mas teus direitos terminam exatamente aí...
João Pedro voltou aos fundos da sala, após a leitura silenciosa dos alunos Lizzie pediu que alguns lessem em voz alta, eram alunos repetentes da quarta série, todos entre doze e quatorze anos, o texto era algo sobre sexualidade.
O silêncio tomava conta de João Pedro, parecia estar atento a cada movimento de Lizzie, a cada palavra que ela pronunciasse naquela sala. Porém assim que a aula terminou e os alunos foram embora ele se aproximou de Lizzie que estava na mesa guardando as cópias do texto trabalhado:
_ Sem vergonhisse agora se ensina na sala de aula?
_ Não sei...
_ O que significa essa aula sobre sexo?
_ Sexualidade não quer dizer sem vergonhisse, o que eles estavam trabalhando era um texto sobre sexualidade sim, afinal eles são adolescentes e devem ser orientados sobre sexo e na escola....
_ Eu não acredito... Para que tu quer ensinar sexo para eles? Para depois andarem por aí praticando?
_ Deixa de ser tolo João Pedro... Ensinar e debater ajuda exatamente a não haver uma prática do sexo pelo sexo e simples curiosidade...
_ Olha para mim quando estiver falando comigo - Lizzie não havia voltado o olhar para ele, remexia os papéis como se estivesse falando com estes, isso o irritou e ele a puxou pelos ombros e a fez virar de frente para ele - ou tu pensa que és alguém por acaso?
_ Não encosta em mim! Grosso!
_ Quer ensinar sexo? Ótimo, então vamos fazer o seguinte, diga para teus alunos que tu não quer que eles virem vagabundos e vadias como tu és!
Diante da ofensa ela não pensou por duas vezes, ergueu a mão e acertou uma bofetada na face direita dele.
_ Vadias são o teu tipo de mulher, tanto que uma delas matou um filho teu... Ou será que tu és o vagabundo e ela só o fez por não suportar ter um filho com um tipo imundo como tu és?
_ Cala a boca sua vadia! Cala a boca antes que eu perca o controle de verdade!
_ E vai fazer o que? Me espancar ou me matar como o teu pai fez com aquele homem?
_ Olha garota, tu estás falando coisas que não deveria falar...
_ Me deixa em paz então... Some da minha frente!
_ Tu não vai me dizer tudo isso e me dar à mão na cara e sair assim daqui... Não vai mesmo...
_ E o que tu vai fazer?
_ Meu pai matou sim, mas foi para se defender e aquela mulher matou meu filho, mas eu não sabia que era meu... Ela era uma vadia da mesma espécie que tu.
_ Eu não sou vadia João Pedro! E ela talvez tenha razão... Qual mulher que ia querer ter um filho de um homem tão repugnante quanto tu?
_ Ah Lizzie... Eu bem que quis evitar, mas as coisas tem tomado um rumo que eu não posso mais controlar...
Falando isso ele a empurrou sobre a mesa e a segurou com o próprio corpo:
_ Eu não sou mais um guri para ficar aturando as idiotices de uma mulherzinha mimada, vou te ensinar o que tu queria ensinar para teus alunos... Na prática.
_ Me solta! Lizzie estava presa sob ele, por mais que se debatesse não conseguia libertar-se.
_ O que foi? Agora está com medo de mim?
_ Não tenho medo... Tenho nojo, e nem pense em fazer nada...
_ Não... Não vou pensar, vou fazer sem pensar muito para não perder tempo. João a beijou, tinha naquele instante a sensação de estar dominando ela, presa por ele, sob seu corpo era tão dele quanto um animalzinho que ele prendesse com as mãos.
_ João! A voz forte quebrou a cena.
Ao ouvir aquela voz João Pedro soltou Lizzie, esta saiu de perto dele como um raio.
_ Bruno... O que tu quer?
_ Desculpe se estou atrapalhando, mas eu vim ver o que estava acontecendo nas roças da fazenda.
_ Não Bruno, não atrapalha nada, eu só estava fazendo uma brincadeira com a Professorinha.
_ Brincadeira o teu nariz! Grosso, estúpido! Lizzie falou e saiu.
_ Ela não parecia estar gostando muito...
_ Ela está pedindo...
_ Não foi o que pareceu...
_ Eu sei o que estou falando, ela me provoca a cada segundo.
Em casa Lizzie perdeu a pose de forte, sentada na escadaria que levava até a porta de entrada ela chorava em silêncio:
_ Liz, o que foi?
_ João Pedro... Ele está me deixando louca!
_ O que foi desta vez?
_ Foi que eu cheguei à conclusão de que se ele quiser me obrigar a qualquer coisa ele me obriga.
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Aconteceu... Ele outra vez me beijou a força....
_ Outra vez?
_ Por três vezes ele fez isso, por três vezes... Mas o pior é que eu não consigo fugir.
_ Tem certeza que tu não gosta dele?
_ Tenho...
_ O que será que vai acontecer com vocês dois?
_ Eu não sei, mas tenho medo...
_ Medo de que?
_ Eu não sei, ele é muito estranho, fica sempre me falando coisas que não fazem sentido, falando sobre sexo, sempre me dando indiretas.
_ Mas nunca falou direto?
_ Falou... Já me disse que não vai me deixar fugir dele.
_ Ele não vai poder te obrigar a nada.
_ Espero que não...
Alguma coisa estava dizendo para ela que tudo poderia acontecer.
Na manhã seguinte Lizzie foi até a escola, ao chegar lá não encontrou nenhum dos alunos, tudo estava deserto, esperou algum tempo e como ninguém apareceu resolveu ir embora.
No meio do caminho ouviu passos vindos do meio do mato que ladeava a estrada, seu corpo gelou, em sua mente imaginou quem seria e suas suspeitas foram confirmadas:
_ Não encontrou teus alunos?
_ João Pedro, o que tu fez?
_ Dispensei a aula...
_ Seu idiota!
_ Mas vim
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