sábado, 30 de abril de 2011

A Traição

A TRAIÇÃO

Trair... quem nunca traiu?
Traição não é apenas aquela velha e conhecida traição conjugal, o famoso chifre, mas pode ser a traição de muitas maneiras.
Trair amigos, ideais, crenças... trair como todo ser humano traí.
A traição sempre foi constante no decorrer da história humana, foi o motor de muitas guerras e o tempero de outras tantas.
Mas nem sempre o traído e o traidor são o réus, muitas vezes as coisas que os rodeiam podem ser a grande causa da traição....
A monotonia havia tomado conta das férias das duas inseparáveis amigas, amigas de uma amizade recente, um ano apenas, mas uma amizade que não envolvia segredos e as tornava quase irmãs, uma delas estudante de direito, a outra mestranda em história da educação, ambas cansadas do igual de todo dia.
Illeanna estava exatamente a um ano na cidade, fazia mestrado em história da educação tendo como principal objetivo estudar o passado para conseguir compreender o futuro, vinda do interior havia alugado um apartamento para manter-se próxima à universidade.
Amanda era filha de um jornalista, por idéia do pai havia iniciado a faculdade de Direito, mas para contrariá-lo havia saído de casa, conheceu Illeanna na própria universidade e acabaram tornando-se amigas, logo foi dividir o apartamento com a amiga deixando o pai completamente possuído com a situação, mas era exatamente isso que ela queria: contrariar o pai para fazê-lo desistir da tal faculdade de Direito.


Depois de meio ano morando com a amiga havia finalmente convencido o pai que era o melhor a fazer, pois ele nunca estava em casa e ela vivia sozinha, ao menos morando com uma amiga estaria mais segura e teria com quem conversar.
E assim seguiam as duas numa vida extremamente comum, cada uma preocupada com sua área de estudo e sem preocupar-se com as loucuras que ocorriam ao seu redor.
Porém quando chegaram as férias as duas se defrontaram com uma realidade nova: o marasmo, um dia porém Amanda chegou no apartamento com uma nova idéia:
— Illeanna, eu estive com meu pai e tenho uma ótima idéia...
— Que idéia?
— Ele está indo para uma cidade fazer uma reportagem sobre umas escavações arqueológicas, vai ficar num hotel fazenda para descansar um pouco mesmo enquanto trabalha.
— E o que tem isso?
— Eu sugeri para ele que fossemos juntos.
— Seu pai me detesta Amanda, para ele eu sou a culpada de tu deixar a casa dele.
— Eu disse para ele que somos como irmãs, que já que ele nunca me deu uma irmã eu escolhi uma e acabei convencendo ele de que ia ser bem melhor nós duas irmos com ele para esse hotel.


— Teu pai nunca vai me aceitar como tua amiga, ele deve mesmo ter as razões dele, vocês são de família rica, ele quer que tu estude e construa uma carreira brilhante. Não convém para ele que tu seja amiga de uma garota que veio do interior estudar história, ainda mais da educação, uma carreira que nem dá status!!! Para ele a culpa de tu ter saído de casa e ter começado a trabalhar fora é minha, da minha má influência como ele mesmo me disse quando ligou aqui para casa.
— Meu pai é meio estranho Illeanna, mas não é de todo mal, afinal me criou sozinho, minha mãe não quis saber de mim, ele tem uns costumes meio fora da linha, mas isso não o estraga, além disso ele não vai te perturbar, já se convenceu que tu és uma boa companhia para mim já que ele não pára em casa.
— Está bem, então vamos para esse tal hotel, mas já vou avisando: se ele me perturbar eu volto para casa!
— Está bem!!!
Amanda queria fazer com que a amiga e o pai se entendessem, mas sabia que isso era uma tarefa quase impossível pois a amiga não suportava ofensas e o pai não suportava a idéia de uma garota o desafiar, haviam discutido pelo telefone algumas vezes mas nunca haviam se enfrentado pessoalmente e era esse o único medo de Amanda.
Mas o dia da viagem chegou, no horário combinado o pai de Amanda chegou ao apartamento para apanhar as duas, mas exatamente naquele instante Illeanna havia descido até uma farmácia próxima para comprar um analgésico.
— Eu não acredito Amanda! Tu me cobra por não ficar perto de ti e agora que tenho tempo inventa de levar essa garota junto.
— Pai, por favor, ao menos uma vez não implica com a Illeanna, ela ia ficar sozinha aqui no apartamento e eu não acho certo.
— Devias ter mandado ela ficar com a família dela!
— Parece que a família dela está brigada com ela, pelo mesmo motivo que o senhor implica comigo: por ela ter saído da cidade dela.
— E ainda para ajudar está atrasada!


— Pai!! Eu pedi para que ela buscasse um analgésico para mim, pare com isso! Não quero ouvir uma implicância com ela nesta viagem, o senhor vai ver, vai acabar considerando ela como sua filha, minha irmã...
Naquele momento a porta do apartamento se abriu:
— Illeanna, esse é meu pai...
Pela primeira vez Illeanna encontrava o seu maior crítico, levantou o olhar e o encarou com ar de superioridade:
— Eu o imaginei um pouco mais velho!
— Pai, essa é a minha melhor amiga, Illeanna...
— É, parece ser uma garotinha bastante petulante!
— Pai! Por favor, não comece com suas críticas!
— Eu quero que o senhor saiba de uma coisa, eu só estou indo com vocês porque a sua filha me pediu, não gostei nem um pouco do modo como o senhor me tratou pelo telefone.
— Gente, por favor, vamos logo, não vamos estragar esse passeio.
O caminho inteiro Illeanna passou calada, no banco traseiro do carro ouvia a amiga e o pai falando sobre família, sobre coisas que ela já nem queria falar.
O hotel ficava num belo recanto, parecia isolado, mas a cidade mais próxima ficava a apenas quarenta minutos.
Mal haviam se instalado quando Illeanna ouviu alguém bater na porta da cabana onde ela e a amiga estavam instaladas, Amanda havia ido até a recepção e ela estava sozinha, porém resolveu abrir a porta:                      
— Illeanna, eu preciso falar contigo.
— Entre...


— Eu vou direto ao assunto menina... mal entrou no quarto o homem começou a falar.
— Mas é o melhor que pode fazer, detesto rodeios.
— Não gosto de sua companhia para a minha filha, não sei quem tu és ou porque está aqui, isso não me agrada.
— Eu não sou ninguém!
— Tem razão, mas está influenciando a minha filha e eu não gosto disso.
— O senhor não pode escolher eternamente as amizades de sua filha senhor Elton.
— Não, mas não quero que tu continues semeando idéias na cabeça dela. Até ontem Amanda era a melhor filha que alguém poderia querer, sempre obediente, sempre pronta a fazer o que fosse melhor para ela, mas desde que te conheceu naquele Campus que começou a ter idéias, a agir sem pensar.
— Desculpe-me, mas creio que ela começou a ter idéias realmente, porque antes o senhor as tinha por ela. Escute uma coisa eu não gosto nem um pouco de ti, só vim para cá porque a Amanda me pediu!
— Tu não passa de uma menina petulante, não quero mais ouvir uma palavra tua que seja, quero que tu te afaste de minha filha logo que acabarem as férias...
— Estou no meu apartamento Elton, não vou deixar a minha carreira porque tu estás pedindo. Quem tu pensa que és?
— Eu sei perfeitamente quem eu sou, mas não faço a mínima idéia de quem tu és!
— Eu já te disse: não sou ninguém.


Elton saiu do quarto ciente de que não havia convencido Illeanna e a deixou mais ciente ainda de que ele não gostava dela.
Logo que Amanda voltou ao quarto desconfiou que a amiga tinha tido algum encontro com o pai.
— Meu pai voltou a te importunar?
— Esteve aqui, mas não ligue, eu não me importo muito com as idéias dele.
— Ele te ofendeu?
— Não consegue me ofender tão fácil amiga!
— Meu pai sempre foi um pai coruja, quando minha mãe nos deixou eu tinha só cinco anos e ele me criou.
— E nunca mais ele casou?
— Ele está com o casamento marcado para daqui a meio ano com uma mulherzinha, não a suporto...
— E isso te fez sair de casa?
— Não! Eu só não aguentava mais meu pai tomando as decisões por mim, mas não gosto dessa mulher.
— Teu pai sabe que tu não gosta dela?
— Sabe, mas não liga. Diz que já não sou criança para ficar implicando com as namoradas dele.
— E com os teus namorados ele implica?
— Se implica, cada vez que me envolvo com alguém ele faz de tudo para dar errado!
— Coisas de pai...
— E tu, nunca me falou de nenhum namorado...


— O último namorado que eu tive me enganou por dois anos...
— Tinha outra?
— A outra era eu!
— O que?
— Eu não sabia, mas ele tinha uma noiva, um belo dia terminamos por um acaso e algum tempo depois eu soube que ele estava com o casamento marcado.
— Mas onde ele te enganou?
— Ele me disse que era sozinho, papo furado, na verdade desde o dia em que nos conhecemos ele já tinha uma noiva, resultado: eu fui enganada e a pobre coitada também, tomora que nunca saiba.
— Nunca mais viu ele?
— Vi, mas não sinto mais nada, simplesmente ele se apagou da minha memória.
— Complicado esse teu caso!
— É, mas nada que o tempo não possa apagar.
— Eu fui na recepção, soube que amanhã vai ter uma festa lá na piscina.
— Que maravilha, para quem gosta.
— Nisso nós duas não nos parecemos, adoro festa...
— Eu sei...
— Encontrei um garoto lindo lá na recepção e ele me convidou para ir com ele.
— Então não reclama da vida minha amiga, aproveita.
— E tu?
— O que tu quer?


— Com quem tu vai?
— Não sei, acho  que não vou.
— Ah não, não vai querer ficar aqui no quarto trancada!
— Tenho que preparar um artigo para a revista universitária.
— Tu vai e eu vou arrumar o teu par, aguarda...
Illeanna tinha medo da amiga quando tinha essas idéias, sempre acabava sentada em algum lugar acompanhada por um tipo estranho que falava umas gírias estranhas ou palavras executivas.
Porém foi no café da manhã do dia seguinte que ela teve a surpresa mais esquisita de sua vida. Estavam sentados juntos ela, Amanda e Elton quando Amanda desandou a falar sobre a tal festa:
— Parece que vai ser divertida, já começaram a decoração e está linda.
— Minha filha, se tem uma coisa que tu puxou de mim foi o gosto por festas.
— Pois é pai, mas eu já tenho par...
— E quem é?
— Ah, um garoto...
— Amanda, vou caminhar um pouco, até logo! Illeanna levantou-se da mesa e saiu.
— Pai, ainda bem que a Illeanna saiu, quero te pedir uma coisa.
— O que?
— Ela disse que não vai à festa, mas quero que vá.
— Se ela não quer ir que não vá.
— E deixar que ela fique trancada no quarto escrevendo como é o costume dela?


— Ela é de maior, faz o que quer.
— Pai, o senhor podia ir com ela.
— Amanda! Isso já é demais!
— Pai, o senhor nunca me faz nenhum favor.
— Está bem, eu vou falar com a tua amiguinha logo, mas é só esta vez.
— Obrigada!!!
Illeanna só apareceu no quarto meia tarde, havia caminhado até uma cascata e ficado lá por horas.
No quarto encontrou Amanda falando com o pai.
— Illeanna, onde andou até agora?
— Estava no rio...
— Bom, agora que tu apareceu eu vou até a piscina.
Amanda saiu do quarto deixando o pai e a amiga outra vez frente a frente:
— Amanda me pediu que te levasse à festa hoje a noite.
— Não vou!
— Olha, se fosse por ti eu não estaria nem aí, mas se a minha filha me pediu eu vou fazer, te arruma, eu vou te levar.
— Programa de índio, ir à uma festa de piscina com um coroa problemático que me odeia...
Illeanna ignorou a presença de Elton, começou a remexer na gaveta do criado mudo com se procurasse algo.
— Eu tenho vontade de fazer uma coisa contigo...
— Ah, tem? A resposta foi tão fria que nem pareceu ter sido dada.


— Tenho, te dar umas boas palmadas que talvez teus pais não tenham dado quando tu eras pequena.
— Não fale na minha família, tu não sabe quem eu sou...
— Eu vou te levar nessa festa e depois nós dois vamos acertar as contas minha cara.
Quando Amanda voltou para o quarto encontrou a amiga soltando faíscas pelos olhos:
— Amanda, nunca mais me faça outra dessas!
— O que eu fiz?
— Tu sabes bem...
— Não custa nada ir na festa com meu pai, tu não tinha companhia e eu sei que ele também não...
Não havia como convencer a amiga do contrário, então Illeanna resolveu aceitar a tortura e ir à tal festa.
Existem pessoas que se divertem em velórios, mas Illeanna não conseguia se divertir na companhia de Elton e ele podia perceber isso claramente.
— Se não quer sequer se mover me diga logo e eu te levo de volta para o quarto...
— Não precisa, eu sei o caminho...
— Illeanna, vamos tentar nos comportar como pessoas civilizadas ao menos hoje. Vem vamos dançar...
— Está bem, eu faço esse sacrifício!


Aquela foi a pior noite da vida de Illeanna, não gostava de agir a contra gosto mas a amiga a fazia agir assim e para agradar a colega ela aceitava certas situações que não eram as melhores, não para ela.
Na manhã seguinte Illeanna não encontrou Amanda no quarto quando acordou, imaginou que a amiga deveria ter acordado muito cedo e saído com Elton já que este deveria visitar as escavações que viera pesquisar, porém quando meio dia ela encontrou Elton no restaurante e não encontrou a amiga suspeitou que algo estivesse acontecendo, mas não tocou no assunto, sequer sentou-se perto dele, mas quando ia para o quarto ele veio procurar por ela:
— Viu minha filha?
— Não, pensei que estivesse contigo.
— Quem é aquele vagabundo que estava com ela ontem a noite?
— Não sei, não o conheço, mas não sei se o senhor sabe, mas vagabundo é uma palavra um tanto forte.
— Não me venha com as tuas maluquices agora...
— Eu sou maluca? Que bom!
— Tu já desencaminhou a minha filha, quer o que agora, me enlouquecer?
— Escuta aqui, eu não tenho nada a ver com as atitudes da Amanda, mesmo porque nós duas somos muito diferentes, eu sou uma pessoa que se quiser algo na vida tem que ir atrás, a Amanda foi acostumada a ter o que queria. Se ela está revoltada contigo não é por minha causa e sim por causa do teu casamento.
— E quem tu pensa que é para falar da minha vida?
— Olha, vai procurar a Amanda, me deixa em paz, tenho mais o que fazer.


Pobre Amanda, quando voltou para o hotel encontrou o pai virado numa fera esperando na porta da cabana dele:
— Onde esteve o dia todo?
— Passeando.
— Com quem?
— Com um amigo. O que é pai, vai me controlar agora?
— Esse teu amigo tem fama de ser um ladrão de antiguidades.
— Vai roubar o que aqui, a tua futura mulher nem está por aqui!
— Amanda, não seja mal educada!
— Amanda não seja isso! Amanda não faça aquilo! Chega!!!
— Amanda, o que está acontecendo contigo?
— Pai, eu não quero mais saber das tuas ordens.
— Amanda, eu só quero o teu bem minha filha, a quanto tempo tu andas mudada! Não parece mais a minha filha!
— Eu só não quero que o senhor mande na minha vida, quero ter minha liberdade. Será que não me entende?
— Está bem, eu vou tentar!
Amanda estava cansada do pai controlando cada um de seus movimentos, era adulta e não queria mais a supervisão do pai em tudo o que fazia ou queria fazer.
Illeanna estava tão cansada do pai da amiga quanto ela própria, além de controlar os movimentos da filha Elton insistia em perturbar a vida de Illeanna, mas as coisas ainda poderiam mudar, poderiam piorar ou melhorar, mas só o tempo seria capaz de dizer isso, só o tempo é capaz de resolver os piores impaces.
— Illeanna, eu não suporto mais o meu pai!


— Eu sei, mas tens que respeitar ele, afinal ele é teu pai e como tu mesma me disse: ele te assumiu quando a tua mãe te deixou. Quanto à tal noiva dele, faça um esforço para engolir a megera.
— Não sei, ela é insuportável, parece uma bruxa. Implica comigo, me faz sentir como se fosse uma intrusa em minha própria casa.
— Creio que isso seja ciúme do teu pai...
— Não, não é ciúme, é apenas preocupação, eu sei que ela não vai fazer ele feliz.
— E quem vai?
— Uma mulher que seja mais cabeça do que ele, que consiga aturar as crises de rabugice dele e me aturar também, mas que não critique tudo o que ele faz.
— Enfim, nenhuma mulher será capaz de fazer teu pai feliz...
— Não foi isso que eu disse!
— Mas foi o que pensou...
A relação de Amanda com a mãe sempre havia sido perturbada, quando tinha cinco anos viu a mãe sair de casa e deixá-la sob a guarda do pai, cresceu vendo a mãe uma vez por mês quando não estava no exterior, nos últimos anos os contatos eram ainda mais raros, tão raros que a faziam esquecer da mãe, talvez isso tenha criado no pai a única presença firme em sua vida e fosse ainda a causa da relutância em aceitar a separação da filha.
Naquela manhã o telefone tocou cedo no quarto das amigas, eram sete horas, Amanda atendeu, ficou muda repentinamente e ao desligar tinha um olhar estranho, perplexo:
— Amanda, o que foi?
— Minha mãe morreu, sofreu um assalto e foi baleada...


Amanda não quis que a amiga ou o pai lhe acompanhacem ao velório, preferia enfrentar sozinha a morte da mãe, sem consolos, sem perguntas ou respostas.
Durante todo o dia Illeanna ficou nas trilhas do hotel fazenda, adorava o contato com a natureza, o cheiro do mato, o barulho das águas, quando voltou para o hotel não encontrou Elton.
Eram dez da noite quando o telefone do quarto voltou a tocar, era da recepção pedindo que ela fosse buscar Elton no bar.
Ao chegar no balcão ela o encontrou completamente bêbado:
— Está na hora de voltar para o quarto...
— Não preciso de babá!
— Não vim aqui para te buscar por pena, ligaram para mim para te buscar, só vim porque sou amiga da Amanda e não queria ver ela sendo alvo de uma situação ridícula como esta.
— Não preciso de ajuda!
Elton levantou-se, estava disposto a provar que não havia bebido demais, mas cambaleou. O resultado foi Illeanna tendo que auxiliá-lo para que conseguisse andar até o quarto.
Elton ficou em silêncio até que chegassem ao quarto dele, mas então por um acidente, ele acabou derrubando ela e ao mesmo tempo caindo de forma que ficasse presa sob ele, foi uma questão de segundos, segundos que ele levou para beijá-la e ela para empurrá-lo e levantar-se:
— Seu porco!
Num repente ele levantou-se, não estava mais tonto, parecia estar sóbrio novamente:


— Não te arrisca a falar nada disso para a Amanda!
Illeanna não pensou por duas vezes, acertou um tapa no rosto dele e saiu do quarto.
Elton foi para o chuveiro, a água e a reação de Illeanna o curaram do porre, sentou-se na cama e ficou pensando.
Como podia ter feito aquilo? A garota não só era a melhor amiga de sua filha como era jovem. Não conseguia entender o que havia acontecido, nunca havia agido daquela forma.
No dia seguinte Amanda voltou para o hotel, encontrou Illeanna na piscina:
— E então Amanda, como foi?
— Bem, o pior é que não posso sentir a falta dela, ela nunca esteve presente.
— Eu entendo!
— Viu meu pai?
— Não, e nem quero vê-lo!
— O que houve?
— Nada... Amanda, o teu novo namorado não se hospeda aqui?
— Não... mas por que desviou o assunto?
— Porque não tem assunto, ai, quer saber Amanda, me deixa em paz! Illeanna saiu quase correndo da piscina.
— O que será que deu nela?
— Falando sozinha filha?
— Pai, não tinha visto o senhor chegar.
— Está tudo bem?
— Está...


— Tu amiga maluca quase passou por cima de mim, o que deu nela?
— Não sei, está estranha.
— Sempre foi estranha!
Assim que Amanda voltou para o quarto encontrou Illeanna intertida com algum livro.
— Não vai me contar o que há de errado contigo?
— Não há nada!
Antes porém que pudessem continuar a discussão o telefone voltou a tocar, Illeanna atendeu:
— Pronto...
— Finalmente te encontrei.
— Quem está falando?
— Não lembra de mim? Estou te procurando a anos, aguardando por algo que não terminamos.
— Não sei do que está falando!
— Raul... eu sou o Raul, lembra agora Illeanna?
— O que quer?
— Te encontrar...
O telefone ficou mudo, a voz do outro lado silenciou.
— Quem era Illeanna?
— Algum idiota... não disse o nome.
Illeanna sabia perfeitamente quem era, mas não convinha dizer nada à amiga, era um assunto seu e de mais ninguém.


No almoço teve novamente que encarar Elton, isso lhe preocupava, sabia que a amiga apesar de tudo gostava muito do pai, mas já não podia suportar as afrontas daquele homem.
— Illeanna, o que há contigo hoje? Estás tão calada! Foi alguma coisa naquele telefonema?
— Não Amanda, não foi nada naquele telefonema, é que ontem a noite eu tive um pesadelo tão terrível que não consegui dormir a noite toda.
— E que pesadelo pode ter tirado o teu sono garota? Elton intrometeu-se na conversa.
— Eu andei assistindo um filme, creio que foi por isso, era um filme de terror e eu sonhei com o personagem principal.
— Que diabos de filme foi esse Illeanna? Amanda não tinha como compreender o que a amiga estava pensando.
— Um filme sobre um monstro que atacava uma garota indefesa, tinha uma cena nojenta em que ele beijava a guria...
— Eu acho que é o mesmo filme que eu vi, mas se tu tivesse prestado atenção no final ia ter visto que a guria tinha gostado do que o monstro havia feito... Elton sabia bem do que estava falando.
Logo depois do almoço Amanda e o pai sairam, iam visitar a cidade.
Sozinha no hotel Illeanna aproveitou para voltar à piscina depois de um descanso, estava deitada no sol, cabeça em algum outro mundo quando ouviu alguém se aproximar, sentou-se rapidamente e ao levantar os olhos pode ver ao seu lado um homem jovem:
— Finalmente te encontrei Illeanna!


— O que quer de mim?
— Quero conversar contigo, creio que tenho esse direito.
— Está bem Raul, não tenho nada para falar contigo, mas sente-se, fale o que tem para me falar e vá embora.
— Está bem, estou te procurando faz algum tempo, mas foi difícil te encontrar, tu sumiu da cidade.
— Tinha que sumir.
— Não sei, mas eu ainda não tinha te dito o que queria, não sei porque tu tens tanta raiva de mim.
— Não sabe? Raul, tu infernizou a minha vida, eu não sei nem o que te dizer...
— Mas eu mudei, por isso vim te procurar.
— Como tu quer que eu acredite em ti Raul?
— Não sei Illeanna! Mas tens de acreditar em mim, eu não teria vindo até aqui para te dizer isso se fosse mentira minha.
— Raul, eu não estou interessada em saber nada disso, por favor, vai embora daqui!
— Me ouve pelo menos, desde que sumi daquela cidade eu não pensei em outra coisa que não fosse mudar, não por mim, mas para que não me vissem mais como um bandido que eu era.
— Raul, se tu mudou eu te desejo sorte, mas não posso fazer nada além disso. O que tu queres de mim? Eu quero viver em paz, esquecer de tantas coisas que já se passaram, por favor! Não me obriga a recordar dos porquês de eu te odiar.


Illeanna ergueu-se, estava disposta a voltar para o quarto e esquecer a estranha visita, ele porém a segurou pelo braço e a fez voltar:
— Não posso deixar que tu ignore tudo o que eu fiz, será que não entende?
— Não Raul, eu não entendo, por favor, me deixa viver a minha vida em paz!
— O que é? Estás com a vida boa, cansou de ser a minha Illeanna?
— Eu nunca fui a tua Illeanna! Solta o meu braço!
Raul soltou-a.
— O que está acontecendo contigo?
— Eu só não quero confusão, será que tu não entende, será que mesmo tantos anos depois tu ainda não entendeu que eu não gosto de ti, não quero saber de ti? Raul, me deixa em paz, por favor!
— Tu vai te arrepender de fazer isso comigo Illeanna!
— Não Raul, não vou! Eu não tenho mais medo de ti!
— Então está bem, até breve.
Enquanto isso na janela do quarto de Elton...
— Quem é aquele rapaz que está lá na piscina com a tua amiguinha?
— Sei lá pai! Eu nunca vi ele.
— Mas parece que se conhecem muito bem, ele está segurando ela pelo braço.
— Pois para mim parece que estão discutindo! Quer saber pai? A Illeanna é adulta, não tenho que ficar vigiando os passos dela! Vou para o quarto tomar um banho, estou cansada de andar no meio daquela terra toda.
— Está bem...


Elton ficou observando a conversa de Illeanna e de Raul, não sabia quem era aquele estranho, mas parecia realmente que discutiam. Ao perceber que Illeanna estava vindo para o quarto ele resolveu cercá-la no corredor.
— Tenho que falar contigo!
— Agora não! Quero ir para o meu quarto.
— Me encontre no bar logo, depois do jantar...
— Vou pensar no caso...
Illeanna não tinha cabeça nem ao menos para discutir com Elton, estava completamente envolta na discussão com Raul e certamente ainda teria muito mais coisas para se preocupar naquele dia.
Ao chegar no quarto encontrou Amanda, esta estava curiosa com a visita que Illeanna havia recebido:
— Quem era aquele cara lá na piscina?
— Anda me vigiando?
— Eu não, mas meu pai sim, ele que me mostrou.
— Era um conhecido, faziam anos que não nos viamos e ele veio até aqui me visitar.
— E que tipo de conhecido ele era?
— Do tipo inoportuno, preferia não tê-lo visto.
— Algum ex?
— Não, mas bem que ele queria ser...
Ainda restava para Illeanna uma prova de fogo, o encontro com Elton.
Logo que acabou o jantar Amanda sumiu, provavélmente havia ido encontrar com seu namorado, Illeanna aproveitou a ausência da amiga e foi até o bar:


— Estava te esperando. Bebe alguma coisa?
— Não, não bebo...
— Não bebe, não fuma... perfeita ao ponto de vista de um crítico!
— Não quero saber das tuas ironias Elton, fale logo o que quer!
— Sente-se...
Ele afastou a cadeira para que ela sentasse, era uma das mesas mais isoladas do bar cuja vista dava no lago.
— Eu queria te pedir desculpas por ontem a noite.
— Está bem! Já posso ir?
— Não, vamos beber alguma coisa.
— Já te disse que não bebo e nem estou para te levar bêbado daqui outra vez.
— Eu estive observando teu comportamento, creio que cometi um equívoco quando achei que eras uma má companhia para a Amanda.
— Meus parabéns! Posso ir?
— Não! Illeanna, eu sei que fui um grosso contigo por todos esses dias, mas tens que compreender que a Amanda é minha única filha, eu tenho de me preocupar com ela.
— Amanda tem vinte e quatro anos Elton, já pode muito bem se virar sozinha.
— A mãe dela tinha vinte quando ela nasceu e nem por isso foi uma mulher responsável!
— São dois casos, a Amanda quer ser independente.
— Qual a tua idade?
— Vinte e seis...


— Tu és adulta o suficiente, mas ela não, é uma criança grande, sempre foi acostumada a ter tudo o que queria, tu caminhas na rua, ela faz esteira numa academia, tu tomas banho de chuva, ela se resfria com o vento...
— Mas tu fez ela ser assim, deixe ela ser livre ao menos para tentar conquistar algo por ela mesma.
— Illeanna, a Amanda não conseguiu nem ao menos o emprego dela sozinha, fui eu quem falei com o patrão dela.
— Elton, eu não sou ninguém para dar palpite na vida de vocês, mas deixe ela sozinha por um mês que seja! Deixe ela se virar! Tu não entende que isso faz bem?
— Fez para ti, tu não és igual à Amanda...
— Não, eu tive que lutar para conseguir o que queria, mas ela tem de aprender. Ela não gosta da tua noiva, deixou isso bem claro, não irás poder prender ela perto de ti e dessa mulher.
— Minha noiva... esse é outro problema que vou ter de resolver.
— Tua noiva é um problema para ti?
— Ela virá passar o fim de semana aqui no hotel, imagine o comportamento da Amanda, mas é bom. Quem sabe então tu não vê o quanto a minha filha é infantil?
— Elton, a Amanda é o que tu ensinou ela a ser!
— Tu és uma mulher, a tua idade te dá maturidade, mas ela não amadureceu com a idade...
— Tu não és velho, mas ficas falando como se fosse!
— Quarenta e cinco anos...
— Vou para meu quarto...
— Espera, quem era aquele que estava contigo hoje a tarde na piscina?


— Um velho conhecido...
— Namorado?
— Tal pai tal filha, Amanda me fez a mesma pergunta, não, ele é um chato que eu preferia que tivesse sumido.
— Amanda me contou do teu último namorado...
— Amanda não devia contar tudo sobre a minha vida!
— Ele era noivo não era?
— Era... mas eu não quero falar sobre isso! Illeanna levantou-se.
— Um homem tem de ser muito burro para te enganar, tu és uma mulher que qualquer um poderia querer.
— Boa noite Elton!
— O que foi Illeanna?
— Desculpe, mas eu não entendi para que tu me chamou aqui, se para falar sobre o que aconteceu ontem, se para falar da tua filha ou...
— Ou o que?
— Ou para me dar uma cantada barata!
— Para falar sobre a minha filha, te pedir desculpas por ontem, saber quem era aquele cara da piscina e para te falar o que eu penso de ti.
— Que jogo baixo Elton! Até mesmo para ti, queres me afastar da tua filha, tudo bem, mas tentar me afastar com esse assédio ridículo! Illeanna saiu, não era possível que além de tudo ainda tivesse que aturar as cantadas baratas do pai de sua amiga.
Raul era um problema que ela teria de resolver, não poderia deixar que ele se aproximasse dela, precisava fazer algo e rapidamente para desviá-lo.


Quando Amanda voltou para o quarto encontrou a amiga ainda acordada, era perfeito, principalmente porque ela não havia engolido o que Illeanna havia dito sobre ao homem da piscina.
— Illeanna, nós duas somos amigas a um ano, e nesse ano não tivemos segredos uma para a outra.
— Eu sei...
— É, mas o que tu disse do tal lá da piscina não colou. Quem era aquele homem Illeanna e por que discutiam?
— Será que não posso esconder nada de ti Amanda? Eu te conto, mas tem uma condição, não vá contar tudo para teu pai como tu fez com a história do meu namorado.
— Está bem, eu só contei isso para ele porque ele insistiu em saber se tu tinha namorado ou não.
— Teu pai é muito curioso pro meu gosto!
— Quem era aquele homem lá da piscina?
— Pronta para mais uma bomba? Aquele homem chamasse Raul Fontes, é um antigo conhecido meu, mas isso realmente não é tudo.
— Então o que houve?
— Raul era um bandido, um bandido perigoso, um destes criminosos capaz de tudo, capaz de matar para ter o que queria.
— E qual a ligação dele contigo?
— Não sei te responder com clareza Amanda, mas o que eu sei é que um belo dia eu me deparei com uma guerra com ele. Felizmente ele acabou indo embora da cidade e eu nunca mais o havia visto.
— Mas o que ele quer contigo?


— Na época ele afirmava que gostava de mim, mas eu nunca ia querer me relacionar com um criminoso do porte dele, agora ele veio me procurar para dizer que mudou... mas eu não acredito.
— E faz bem, se é como tu disse não dá para acreditar nele...
— Mas eu tenho mesmo é que me livrar dele Amanda, esse tipo não é de brincadeira.
Talvez falar sobre Raul para a amiga fosse a melhor coisa à fazer, mas não era tudo, Illeanna sabia muito bem que Raul não iria parar por ali.
Na manhã seguinte ainda no café da manhã...
— Amanda, a Dara vem passar o fim de semana comigo.
  Pai... eu pensei que esse ia ser um tempo para nós...
— Amanda, é só um fim de semana!
— Um fim de semana como tantos, a Dara sempre no nosso caminho. Chega pai! Fica com ela e faça um bom proveito, mas esquece que eu sou tua filha! Illeanna, vamos voltar para o apartamento.   
— Illeanna, vê se acalma a tua amiga antes que eu acabe dando nela as palmadas que não dei quando era criança.
Illeanna havia ficado calada até então, a amiga estava de pé ao lado de sua cadeira e Elton a fuzilava com um olhar nada amigável:
— Amanda, nós não vamos voltar para o apartamento.
— Agora vai ficar do lado dele?


— Não - Illeanna levantou-se e ficou do lado da amiga - Elton, tu acabou de ameaçar tua filha, enquanto eu estiver aqui tu não vai levantar um dedo para bater nela por causa dessa tua noiva, até agora eu estive fora das brigas de vocês, mas não posso aceitar que tu prefira bater na tua filha que é adulta e não precisa dessas tuas ameaças ignóbeis para defender uma noiva que pelo que pude notar nem sei se vale isso.
— Como tu podes falar alguma coisa da Dara? Nem ao menos conheces ela!
— Não Elton, eu não a conheço, mas tem certas atitudes num homem que deixam claro o tipo de mulher com que se relaciona. Vamos Amanda, vamos caminhar um pouco.
Elton estava furioso com Amanda e com Illeanna mas não deixaria de receber Dara, afinal era sua noiva.
Cansado de pensar na discussão sentou-se na biblioteca do hotel, queria relaxar lendo um bom livro, mas uma idéia o atormentava, estava acontecendo alguma coisa com Illeanna, mas não sabia o que, a garota o deixava tão desconcertado que era capaz de cometer atitudes fora do seu domínio.
— Eu achei essa cascata muito linda Amanda, creio que uns minutos aqui e tu vai relaxar.
— Relaxar como Illeanna? Com meu pai trazendo aquela megera para cá? Eu não consigo nem imaginar, ela interferindo em tudo, até no meu namoro com o Josué.
— Então o nome do bendito é Josué?
— Ele está aqui na cidade pelo mesmo motivo que meu pai: a tal escavação.
— Teu pai diz que ele é um ladrão...
— Meu pai diz que tu não presta...
— Me fale sobre a noiva do teu pai.
— A Dara trabalha pro mesmo jornal que ele, é colunista de fofocas dos sociáveis, um nojo! Parece que tem o rei na barriga.
— Qual a idade dela?


— Uns quarenta...
— Teu pai é meio estranho Amanda.
— Meu pai é a estranhesa em vida, mas por que tu diz isso?
— Ontem quando tu saiu ele me chamou lá no bar, queria falar sobre um porre que ele tomou antes de ontem a noite, eu acabei tendo de buscá-lo no bar, um vexame, mas acabou falando sobre eu e sobre nossa amizade.
— E o que falou?
— Coisas do tipo trivial para ele, mas o mais estranho é que ele te acha criança ainda, dá para acreditar: vinte e quatro anos e ele pensa que tu tens dez.
— É... o pior é isso.
— Mas não sei, ele parece gostar muito de ti, parece que não quer te ver mal, por isso te prende.
— Ele quer somente o que a bruxa da Dara quer.
— Estou curiosa para conhecer essa tal de Dara, por isso não quis que a gente fosse embora antes do fim de semana, entende agora?
— E o que tu pretende com ela?
— Nada, mas quero ver a baranga de perto.
Sábado logo cedo Elton pôs-se na recepção, queria receber Dara antes que ela encontrasse com Amanda ou com Illeanna, tinha medo da filha reagir mal diante da futura madrasta e tinha mais medo ainda de Illeanna resolver falar algo para Dara sobre as conversas dos dois.
Mas o encontro só pode ser evitado até na hora do almoço, quando Amanda e Illeanna viram Elton sentar-se junto com elas acompanhado por uma mulher muito recatada:
— Illeanna, essa é a noiva do meu pai. Amanda falou num tom irônico.


— Amanda, sem provocações por hoje... Elton tentou evitar o confronto.
— Não se preocupe Elton, sei que o gênio da tua filha é forte.
— Dara, essa é a amiga da Amanda, Illeanna.
— Prazer, Elton já havia me falado sobre você.
— Imagino, Amanda também me falou sobre a senhora, garanto que tão adoravélmente quanto Elton pode ter falado de mim... Illeanna não perdeu a oportunidade de destilar seu veneno.
O almoço seguiu no mais absoluto silêncio, logo que terminaram Amanda saiu dizendo que ia encontrar um amigo, Illeanna foi para o quarto.
— Dara, eu vou até o quarto buscar meu celular, me espere aqui e eu volto para te levar na cidade.
Elton sabia muito bem que seu celular estava no bolso, mas precisava falar com Illeanna, tanto que foi direto para o quarto dela e bateu na porta, sem pensar a garota abriu e viu o quarto sendo invadido:
— O que veio fazer aqui?
— Vamos embora na semana que vem e então as coisas voltam ao seu rumo normal, tu no teu apartamento fazendo a cabeça da minha filha e eu com a minha vida, por isso não faça nenhuma besteira, não vá falar nada para a Dara sobre o que aconteceu.
— Tens medo então? Eu deveria falar sim, porque tu não passa de um vagabundo descarado. Como tu quer dar lição de moral na tua filha se nem podes cobrar nada? Mas não te preocupa, não vou falar nada...
— Mesmo porque se tu falar alguma coisa vai estar traindo a confiança da minha filha.


— Isso eu já me sinto traindo Elton, desde o dia em que tu cruzou meu caminho.
— Pois é... mas não te preocupa, vamos ter muito tempo para falar sobre isso.
Illeanna estava cansada das atitudes de Elton, sentia-se traindo a amiga cada vez que ele a assediava, via Dara como alguém que também estava sendo traida... era um grande jogo de traição.
Aquele dia voou, na hora do jantar Amanda e Illeanna resolveram que seria melhor sentarem em uma mesa separada de Elton e da noiva, além disso Amanda havia trazido Josué para apresentar á amiga, estavam alguns minutos na mesa quando um garoto entrou trazendo um grande buque de rosas vermelhas e entregou à Illeanna saindo em silêncio.
— De quem é amiga?
— Deixa eu ver o cartão... Amanda, é do Raul...
— Nossa! Ele pode não prestar, mas tem bom gosto e sabe surpreender...
— Quem é Raul?
— É um amigo da Illeanna...
— Não Josué, é um chato, não é meu amigo...
As duas não podiam ver, mas na mesa de Elton os olhos dele não desviavam um segundo da conversa delas.
— Elton, pelo jeito a amiga da tua filha tem algum admirador.
— É, parece que sim...
— Será algum namorado?
— Não sei, vamos falar sobre outra coisa.


Depois do jantar Amanda saiu com Josué, iriam na cidade e voltariam, tarde, Dara resolveu fazer uma secção de massagem, era a oportunidade que Elton esperava.
Escondido nas sombras da noite esperou que Illeanna abrisse a porta do quarto para surgir como que do nada e entrar sem convite trancando a porta nas suas costas:
— Está louco Elton?
— Não...
— Saí do meu quarto antes que eu chame a segurança!
— De quem eram as flores?
— Não te interessa!
— Não... ou será que sim?
— Onde está a tua noiva, vai atrás dela e não me enche!
Illeanna ignorou a presença dele, foi até o criado mudo e depositou as flores sobre ele, Elton porém não estava contente com aquele mistério, pelo contrário, estava furioso.
— Não vai me dizer?
— Não - caminhando até a porta ela abriu-a - agora saí daqui de uma vez por todas.
— Não brinca comigo!
— Vai me bater?
— Não! - No mesmo instante ele a segurou contra a porta que acabara de trancar novamente - mas vou te ensinar a não me provocar. Falando isso a beijou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário