quinta-feira, 28 de abril de 2011

— Mesmo que tu não queiras ouvir eu vim te falar a verdade do que houve naquela noite.
— Podes falar, mas nada do que tu argumentar vai me fazer te perdoar.
— Que não me perdoe então! Mas eu só fui para cama com aquela mulher por um motivo Layla: ela ia nos chantagear por muito tempo, ia nos obrigar a pagar muito e infernizar a tua vida.
 — E o que isso tem a ver comigo?
— Não queria que ela tivesse chance de te atormentar, queria mantê-la longe da minha mãe, do menino e de ti e a única forma que encontrei foi indo para cama com ela, mas não consegui mais me livrar dela, as chantagens cresceram.
— Leonardo, tu és um homem formado, como pode ter acreditado numa mulher como a Nicole? Ela é uma vadia!
— Ela era tua amiga, deverias ter escolhido melhor as tuas amizades!
— Queres saber de uma coisa Leonardo? Fique aqui na sala com as tuas desculpas, vou para o meu quarto e não quero voltar a te ver, ou eu sumo no mundo e tu nunca mais me encontras!
Layla saiu da sala faiscando, havia um misto de sentimentos crescendo dentro dela.


— Tu não vai fugir assim de mim Layla, não vai mesmo... eu vou te ensinar a ficar comigo sem querer parecer superior... A raiva fazia com que Leonardo monologasse sem pensar.
Algumas horas depois Layla resolveu ir até a sala, queria ver se ele ainda estava lá, se estivesse ela voltaria sem que ele a visse, se não estivesse teria a certeza de que era um covarde.
Assim que abriu a porta do quarto sentiu alguém lhe empurrar contra a parede:
— O que está fazendo?
— Estive aqui te esperando, ia esperar até que tu saisse, nem que isso levasse toda a vida.
— Deves estar maluco!
— Vamos entrar nesse quarto, agora!
— Não! Me solta Leonardo, será que tu não entendes que não quero mais?
Mas ele não a ouvia, empurrou-a para dentro do quarto fazendo com que caísse ao lado da cama, trancou a porta e a arrastou jogando-a sobre a cama:
— O que vai fazer comigo?
— Ainda estamos casados, tenho direitos...
— Me obrigar a transar contigo não vai resolver a nossa situação... Layla não queria entregar os pontos.
— Eu sei perfeitamente disto, não sou burro! Mas também não vai resolver nada se eu não o fizer. Vai?
— Não... nada mais poderá resolver a nossa situação.


Leonardo a segurou com o próprio corpo e a beijou, talvez esperasse uma reação dela, mas não obteve, Layla simplesmente deixou que a possuísse sem reagir, porém logo que ele fez menção de sair do quarto ela o chamou de volta:
— Encare isso como uma despedida do nosso casamento! Nunca mais serei tua!
— Eu não sei Layla, não posso ter certeza de nada, mas ao menos sei que ainda és minha, e se te conheço bem o suficiente sei que não me trairas até que o divórcio saia e eu vou atrapalhar este processo ao máximo.
— Faça isso! Eu não vou ficar esperando por um papel...
Tonha faleceu algumas semanas depois e Layla aproveitou a confusão para sumir.
— Eu quero que encontrem ela, estou pagando para isso!
— Já fizemos o possível e o impossível para encontrá-la, mas parece que sumiu no ar.
— Contratem outra agência de detetives, quero essa mulher de volta na minha casa ou alguém vai ter de pagar pelo desaparecimento dela.
Leonardo havia recorrido a inúmeros detetives, mas ninguém conseguia localizar Layla, havia sumido e deixado Nicolay para trás.
Sabia que Tonha queria um bom futuro para o menino, não poderia tirá-lo do lar, ali ele teria tudo o que precisava para crescer, ela teria uma outra vida, precisaria buscar algo para fazer, lutar contra o tempo que havia perdido no casamento, tinha de trabalhar para se manter.


Porém não conseguiu esconder-se de Leonardo por mais de cinco meses, uma noite ouviu alguém tocando a campanhia de sua humilde casa num bairro pobre da cidade, indecisa acabou por abrir a porta e encontrar atrás dela quem menos desejava:
— Vá embora daqui!
— Deixe-me entrar, tenho que conversar contigo.
Layla permanecia na porta, corpo oculto pela mesma.
— Não temos nada o que conversar!
— Deixe-me entrar, ao menos para negociarmos os papeis do divórcio.
— Está bem Leonardo, entre.
Ao abrir a porta ela voltou as costas, caminhou até afastar-se dele e voltou-se:
— Mande um advogado me procurar, te darei o divórcio o mais rápido possível, irei voltar para casa dos meus pais em breve.
— O que significa isso?
— Isso o que Leonardo?
— Estás grávida? Oculta pela porta ela tentava não deixar notar sua barriga.
— Bem, eu tentei esconder ao máximo, mas já que estás aqui... estou grávida sim Leonardo, mas não te preocupa...
— Como não? De quanto tempo é esta gravidez?
— Quase seis meses...
— O que tu fez? Poderias ter me dito...


— Tu nunca quis ter um filho Leonardo, e eu não quero terminar como a tua mãe: com um homem só para criar um filho... não vou esconder que tu és o pai desta criança, mas não vou te deixar chegar perto de mim ou dela.
— Tu abandonou o Nicolay, o que me garante que não vai deixar este aí também?
— Nicolay não é meu filho, foi duro para mim ter de deixar o menino lá, mas eu sabia perfeitamente que não poderia trazer uma criança que não é minha para a miséria, mas este bebê é meu Leonardo, e aconteça o que acontecer com ele é minha responsabilidade: é meu filho.
— Mas é meu também e não vou deixar que nasça aqui neste lugar.
— Este lugar é pobre Leonardo, não tenho luxo por aqui, mas não estou passando fome, tenho um emprego, e principalmente: estou sozinha e sem alguém para me trair.
— Não podes fazer isso...
— Estou fazendo... agora vá embora, não te quero por perto do meu filho.
— Não posso deixar que tu destrua a vida dessa criança e a tua. Volta, por favor...
— Mande o teu advogado me procurar, não quero mais te ver.
— Eu tenho direitos sobre esse filho e vou reclamar por eles e por ti, vou alegar que tu não estás em bom estado mental e pedir que me deixem tomar conta de ti, tu és minha mulher e não vou te perder.
— Vai embora ou chamo a polícia!
Leonardo não podia entender o que estava acontecendo com Layla, não poderia deixar que ela fizesse uma besteira com sua vida, mas não era hora de insistir.


A visita de Leonardo fez com que Layla relembrasse toda sua vida: o que mais poderia acontecer com ela? O que de pior ainda estaria por vir em sua vida?
Alguns dias depois recebeu uma visita que talvez fosse ainda pior do que Leonardo, numa tarde viu adentrar em sua casa nada mais ou nada menos do que Nicole:
— Layla, eu precisei ver com meus olhos no que tu te transformou.
— Escuta uma coisa Nicole, eu não estou afim de me incomodar, não quero prejudicar meu filho, por isso saí da minha casa antes que eu tenha de chamar alguém para te arrancar daqui a tapas, e certamente não vão faltar pessoas na vizinhança para fazer isso.
— Eu vim até aqui Layla para ver se era verdade o que me disseram, eu soube que tu estavas grávida e sem o teu querido marido. Uma vez eu te disse que um dia poderias viver o mesmo que eu vivi, o tempo passa, olha bem para ti agora: como vai sustentar esse bebê?
— Tu me fez deixar o Leonardo! Mas não te preocupa, isso não me fere mais, eu tenho um filho para criar e vou fazer isso. Sabe por que Nicole? Porque eu sou mulher o suficiente para arcar com meus erros, não sou um animal que costuma abandonar suas crias ou matá-las, ou melhor, nem animal tem uma atitude destas.
— Teu filho ainda não nasceu, quando estiver com ele nos braços vai saber o que é passar por dificuldades: a Tonha está morta, não vai mais poder ajudar um bastardo como fez com o Nicolay.


— Não quero ajuda daquela família, o Leonardo não está contigo? Faça um bom proveito dele e me deixe em paz sua cobra! Se um dia eu fui tua amiga Nicole, se algum dia eu confiei em ti, foi um erro, um grave erro pelo qual vou pagar para o resto da minha vida, mas tu não vai sofrer menos que isso, um dia tu vai sofrer pelo que fez ao teu filho, e pelo que me fez, porque eu quis ajudar, de uma forma ou outra eu quis concertar o teu erro. Mas não foi assim como eu pensei, infelizmente a tua maldade foi maior, tuas chantagens me tiraram o único homem que um dia eu quis, pois bem, nem tu e muito menos ele tem o direito de me procurar e me falar nada. Saí da minha casa, agora!
— Um dia tu vai ter de voltar atrás em tudo que me disse, sabe Layla: eu gostava muito de ti, mas tu não mediu limites para cruzar meu caminho.
— Vá embora! Layla gritou ao mesmo tempo em que gesticulou indicando a saída.
— Eu vou, mas um dia tu ainda vai ouvir falar de mim...
Alguns minutos depois alguém entrou na casa de Layla, encontrou-a chorando com o rosto escondido entre as mãos, no sofá da sala:
— Ouvi alguns gritos, o que houve?
— Nina, se tu soubesse o que eu já vivi não te assustaria com meus gritos...
— Não vai me contar que mistério é este que te cerca, fazem alguns dias eu vi um homem saindo daqui, pelo tipo era gente fina.
— Sabe Nina, talvez seja bom eu te falar a verdade, tu ainda és muito novinha e quem sabe por minha história tu não cometas o mesmo erro que eu.
Nina era filha de uma vizinha de Layla, uma garota de quinze anos que em algumas coisas a fazia recordar dela quando tinha a sua idade, e assim resolveu narrar toda a sua história para a garota.
— Quer dizer que o filho que tu esperas é daquele figurão?
— E aquele figurão é meu marido, essa mulher que tu viu saindo agora daqui de casa é Nicole.


— E o que tu vai fazer?
— Me divorciar, eu não deveria ter me envolvido com ele, nunca! Mas eu acabei fazendo um monte de besteiras na minha vida, por isso estou aqui, imaginei que ele não fosse me encontrar num bairro como este: pobre e de gente honesta, o oposto do mundo ao qual ele pertence.
— É um lado tão oposto ao nosso o dos ricos?
— Nem sempre, existem pessoas honestas ou ao menos de bom coração, Tonha era assim, se fosse por ela as coisas não seriam como são.
— E o teu filho, o que vai acontecer com ele?
— Não sei, mas eu quero que nunca viva o tipo de vida que eu vivi ou que o pai dele viveu, terá de ser diferente, ao menos honesto.
No tempo restante de sua gravidez Layla foi procurada por Leonardo mais algumas vezes, ele negava-se a dar o divórcio, ela queria mantê-lo longe do filho que iria nascer e assim passaram-se os meses restantes.
Quando Layla foi levada para a maternidade para dar a luz não tinha mais do que a companhia de Nina.
Durante toda gravidez ela havia pedido ao médico que não lhe revelasse o sexo da criança, mas sua surpresa seria maior do que isso: Layla deu a luz a gêmeos, dois lindos meninos.
No dia seguinte Leonardo apareceu no hospital, estava estranhamente eufórico e nem ao menos se importou com os protestos de Nina para que não importunasse Layla:
— Eu vi os meninos, são dois belos garotos!
— Não deveria ter vindo...


— Layla, não podes me negar a paternidade desses garotos, afinal antes de mais nada eu sou o pai deles e tu sabes bem disso. E tem mais um detalhe, mesmo que nos divorciemos depois, mas tu vai direto para a minha casa quando receber alta.
— Não mesmo! Eu tenho casa...
— Por favor, não insista.
— Está na hora da enfermeira me trazer os meninos para amamentar, mas parece que está demorando tanto. Num repente a discussão com Leonardo sessou, alguma coisa parecia estar despertando dentro de Layla e apertando seu peito.
— Quer que eu vá verificar o que houve?
— Por favor Leonardo, eu estou sentindo alguma coisa no ar, vá ver se os meninos estão bem...
Ao chegar no berçário Leonardo estranhou a movimentação das enfermeiras e de dois médicos, além disso a recepcionista gesticulava muito junto à eles:
— O que está acontecendo aqui?
— O senhor tem alguma parente na maternidade? Questionou um dos médicos.
— Minha esposa...
— Qual o nome dela?
— Layla, ela teve gêmeos ontem pela manhã...
— O senhor pode me acompanhar até meu consultório por favor.
Naquele momento Leonardo seguiu o médico, mas parecia estar dormente, tinha certeza de que algo estava acontecendo com seus filhos...
— Não soubemos explicar como foi, alguém simplesmente entrou no berçário e levou um dos garotos.


— Mas como pode ter acontecido isso? Como podem roubar um bebê desta forma? Eu quero que paguem por isso... quero meu filho de volta... por favor, meu filho... pela primeira vez Leonardo mostrou-se fraco, deixou que as lágrimas cobrissem seu rosto.
— O senhor tem de ter paciência e sobretudo ser forte, vamos localizar o bebê, já alertamos a polícia e temos o retrato falado de quem levou o menino, mas precisa ser forte para ajudar a sua esposa, ela tem que cuidar do outro bebê...
— Posso ver o retrato da pessoa que levou meu filho?
— Sim, esta mulher foi vista entrando no hospital e perguntou por sua esposa ontem, voltou hoje cedo e ninguém a viu sair.
Não era possível, a mulher era Nicole, Nicole havia roubado seu filho.
— O que aconteceu com os meus filhos Leonardo? Layla estava atônita ao ver Leonardo entrar no quarto com o rosto transpassado por uma expressão que ela nunca havia visto.
— Temos de ser fortes minha princesa... muito fortes e sobretudo unidos.
— O que aconteceu?
— Roubaram um dos nosso filhos...
— O que?!!!
— Nicole, ela é a principal suspeita, levou um dos nosso meninos... Layla, me perdoa... Leonardo abraçou-a, não haveria outra forma de consertar os erros.
Um mês depois...
— Layla, eu estou começando a suspeitar que Nicole tenha saído do país.
— E levado o meu filho?


— Eu não entendo o que a fez agir dessa forma, ela havia sumido da minha vida fazem uns oito meses ou mais e desde então nunca mais havia visto ela.
— Ela me procurou a menos de três meses, eu deveria ter imaginado, ela tem ódio de mim por ter ficado com o filho dela, imaginava que poderia ganhar dinheiro com o Nicolay, vendendo o menino como se fosse uma mercadoria... tenho medo Leonardo, medo que ela venda o meu filho como quis fazer com o dela.
— Não, isso não vai acontecer, eu te juro Layla, não vai...
— Talvez seja hora de voltar para a minha casa...
— Não, não podes voltar para lá, não é seguro e eu não quero te perder de novo. Layla, eu fiz o que fiz para afastar essa mulher de ti, mas não adiantou... acabei te perdendo e ela roubando uma coisa que me é muito cara.
— Não acredito, tu nunca quis ser pai...
— Não... é verdade, mas os filhos nasceram da mulher que mais eu amo e isso me faz amar essas crianças também, infelizmente só temos o João Pedro conosco, mas te juro que vamos recuperar o João Paulo... juro...
— Eu não deveria te perdoar pela traição que tu cometeu, mas não posso enganar meu coração... eu te amo Leonardo... mais do que deveria.
Nicolay e João Pedro eram cuidados por Nina e vigiados por um segurança, Leonardo temia que Nicole voltasse para roubar algum dos dois.
Assim os dias passavam sem que nada de novo acontecesse na casa, havia uma paz reinando sobre eles, o casal vivia bem, porém havia uma tristeza corroendo cada um deles: a falta do pequeno João Paulo.


Anos se foram, o casal viveu na mais perfeita união, havia amor entre eles e entre os seus filhos: Nicolay já com vinte anos estava na universidade, nunca havia tido um nada a menos do que fora dado à João Pedro, este com seus dezoito anos era tão parecido com o pai... preparava-se para prestar vestibular, queria estudar economia, ia administrar a empresa logo que se formasse.
Seria um orgulho para Tonha ver os netos tão fortes e esbeltos, mas talvez a deixasse triste ver como Pedro havia herdado do pai também as características que a faziam sofrer: era orgulhoso, não parecia saber relacionar-se com as pessoas pondo sempre as responsabilidades antes da vida, tornavasse cada vez mais frio.
— Layla, preciso contratar um novo oficce boy para meu escritório, gostaria de ver isso para mim?
— Claro, vou por um anúncio no jornal e verificar os meninos... quem sabe a sorte não me sorri e encontro meu filho...
— Não te ilude com isso minha linda, sei que é triste, mas tu tens de entender: são dezoito anos, Paulo deve estar longe daqui e muito diferente... como vamos reconhecê-lo?
— Eu o reconhecerei...
Algumas vezes Leonardo sentia uma tristeza muito grande de ver Layla procurar pelo filho dia após dia sem sucesso, eram muitos anos, ele já havia perdido a esperança, mas ela não, insistia em encontrar o menino perdido, tinha dentro dela uma certeza que chegava a assustar.
Nicolay havia entrado para a faculdade para estudar direito, queria ajudar a mãe da qual sabia toda a história, mas tinha quase a mesma certeza de Leonardo: Paulo estava perdido para sempre.


Pedro nunca havia se preocupado com o irmão, não tinha nada a perder ou a ganhar com a volta do menino, mas não comentava, preferia ficar calado, longe da história.
Dos rapazes que apareceram para a vaga na empresa nenhum chamou a atenção de Layla, não eram o que ela queria para trabalhar junto ao marido.
Era seu costume caminhar pelas ruas a tarde, vivia procurando por alguém, querendo encontrar seu filho em algum canto e receber o menino de braços abertos, naquela tarde não era diferente, mas numa das esquinas encontrou alguém, era um garoto de uns dezoito anos, sentado na escadaria de um catedral, cabeça baixa, alguma coisa dentro dela a levou até ele e sentou-se ao seu lado:
— O que faz aqui?
— Nada... Respondeu o garoto com voz débil, via-se que estivera chorando.
— Pude perceber que estava chorando, posso te ajudar em algo?
— Não senhora...
— Qual seu nome?
— Paolo...
— Paolo... eu sei que alguma coisa está errada, por que não me conta?
— Eu não tenho pai, não tenho mãe... a senhora que me criou, bem, ela só me criou, nunca gostou de mim, mas agora me expulsou da casa dela.
— E onde está sua mãe?
— Minha mãe me abandonou, Nicole contava que ela não me queria porque eu nasci de um caso dela com um homem casado.


— Paolo, eu tenho uma grande idéia, vamos para a minha casa, lá tu vai poder dormir esta noite e amanhã cedo vou te arrumar um emprego.
Layla havia encontrado alguém que poderia ser seu filho, mas não poderia dizer ao garoto que era sua mãe: Nicole havia envenenado a mente do seu filho com mentiras, havia jogado sua história para ela, uma vingança fria.
Felizmente Pedro havia viajado com Nicolay para a fazenda e não encontraria o garoto que Layla imaginava ser seu filho Paulo e portanto não notariam a estranha semelhança entre os dois.
Assim que a casa se aquietou Layla pode conversar tranquilamente com Leonardo no quarto do casal:
— Leonardo, eu tenho quase que certeza de que Paolo é nosso filho Paulo, a história que me contou é muito parecida com a história do seu desaparecimento.
— Temos que encontrar Nicole, só ela poderá nos confirmar se Paolo é ou não nosso filho.
— Mas onde ela poderá estar?
— Esse garoto deve saber, não te preocupa, amanhã darei um jeito de descobrir, agora durma, se Paolo for mesmo quem estamos pensando que seja nosso martírio chegou ao fim.
No dia seguinte Leonardo conseguiu descobrir onde morava a tal mãe adotiva de Paolo, não demorou que seguisse até o local indicado pelo rapaz, mas lá chegando nada encontrou além de um barraco bagunçado. Uma vizinha informou que ela havia ido embora e contou sobre a forma que tratava o filho.


Assim que voltou ao escritório Leonardo chamou Layla, teriam de descobrir quem era Paolo de alguma outra forma, mas para que o garoto não se apavorasse com tudo aquilo e nem tivesse um esperança falsa resolveram que não era hora de contar toda a verdade para ele, mandaram Pedro para um viagem pela Europa enquanto providenciavam um exame que comprovaria suas suspeitas.
Dois meses se passaram, Paolo era um garoto exemplar, comportava-se de forma discreta, parecia amar o trabalho e tudo era motivo de agradecimento para ele.
Com o resultado do exame nas mãos Leonardo tinha agora a missão de reunir sua família, e naquela noite seria a tão esperada data, Pedro havia voltado da viagem, Nicolay estava presente, mas não haviam ainda encontrado Paolo.
Na sala da grande casa a surpresa de Pedro e Paolo ao perceberem a estranha semelhança física foi inevitável, porém Pedro havia sido preparado para o momento e permeneceu mudo quanto ao que estaria acontecendo ali naquela sala.
— Agora que todos estão aqui eu creio que deva uma explicação para Paolo... Paolo, a muitos anos eu e Layla tivemos dois filhos, gêmeos, João Pedro e João Paulo, porém Paulo nos foi roubado por uma mulher chamada Nicole... creio que tu sejas Paulo.
— Não, minha mãe não tinha marido, e por isso me deixou nas mãos de uma mulher chamada Nicole, mas não sou Paulo...  Paolo não parecia querer ouvir o resto da história.
— Na verdade Paolo, quem foi adotado nesta história fui eu, eu sou o filho de Nicole e de um homem casado, Nicole roubou o filho de Layla e Leonardo para vingar-se deles por não poder me vender. Nicolay narrou curtamente sua história.
— Tenho aqui nas minhas mãos um exame de DNA que comprova tudo isso Paolo, tu na verdade és nosso filho Paulo que por longos dezoito anos procuramos e que Nicole por pura maldade nos tirou... Leonardo completou sua fala.


— Eu nunca te abandonei Paolo, durante esses dezoito anos eu te procurei por cada canto desta cidade e de tantas outras, recebi tantas pistas falsas, imaginava te encontrar a cada santo dia, mas era em vão, Nicole havia te ocultado. Cheguei a pensar que havia te vendido como quis fazer com Nicolay ou te matado como fez com o filho que esperava antes de Nicolay.
— Então eu vivi sempre uma grande mentira?
— Infelizmente sim meu filho, nós te amamos, mesmo longe de ti imaginavamos como tu estarias... quem serias... Leonardo já não parecia o mesmo homem de antes.
Houve uma adaptação, aos poucos Paolo foi se convencendo de que aquela era sua casa e de que aqueles eram seus pais e irmãos.
— É bom estar aqui nesta fazenda outra vez Leonardo, eu tenho muitas recordações deste lugar.
— Temos três filhos e ainda assim estamos sozinhos... começo a pensar que deveriamos ter tido mais um filho...
— E teriamos tido se não fosse por tudo o que passamos procurando por Paulo, quer dizer Paolo... mas não podíamos deixar de procurar por ele.
— Agora estão grandes, não precisam mais de nós...
— Para um homem que dizia que nunca queria ser pai tu estás me saindo muito bem...
— O que vamos fazer?
— Tu achas que serias capaz de amar um outro filho como amas os três?
— Certamente que sim...mas creio que não mais irei ser pai...


— Eu não queria te contar isso antes de ter certeza das coisas que estavam acontecendo ao nosso redor, mesmo porque não sabia nem qual seria a tua reação, mas creio que ainda vais ter a chance de ser pai mais uma vez.
— O que estás me dizendo? Vai adotar uma criança outra vez?
— Não, estou esperando um filho teu...
— Isso seria maravilhoso...
— Sabe Leonardo, eu amo meus filhos, mas cada um de uma forma especial, Nicolay é para mim o motivo de tudo isso, por causa dele eu te conheci e me casei contigo, se não fosse ele existir eu não teria tido o marido que amo e nem meus dois filhos... Pedro, ele foi tão esperado, mesmo eu estando longe de ti era como se fosse um elo que nos uniria mesmo que eu jamais voltasse a te ver... foi por anos meu filho de sangue, nosso filho e representou a nossa volta, nos unimos outra vez para protegê-lo. E Paolo, nosso João Paulo, esse foi como um sonho por dezoito anos, não se pode deixar de amar um filho por estar longe dele e eu tinha certeza de que um dia voltaria a tê-lo em meus braços.
— Cada um deles é especial... mas o que vai ser deste que virá?
— Quando nascer eu direi o tipo de amor e graça que representa este novo ser... mas vai nascer desta vez numa fase nova: fase de união e de completa felicidade, que só não é maior porque não posso voltar no tempo e consertar alguns erros do passado.
— Que erros Layla?


— Nicole... apesar de tudo eu sinto dó, ela desgraçou toda sua vida. Lembro da fase em que vivíamos no interior, éramos amigas e nada parecia nos separar... nossos sonhos Leonardo, nossos sonhos eram tão iguais, mas ela não pode realizar nenhum deles. As vezes me sinto culpada por isso, eu fui feliz as custas de um erro dela.
— Tu merecia a felicidade, ela não quis tê-la... talvez se tivesse ficado com o filho... se não tivesse deixado o filho no meu portão... mas agradeço ela por isso... se não fosse assim não teria te conhecido.
Layla deu a luz a duas meninas: Katherine Marie e Marie Kamille.
— Alguns meses atrás tu me disse que quando a criança nascesse me dirias o tipo de amor e graça que representaria...
— Leonardo, elas são a luz de nossas vidas, agora que os garotos nos deixaram para seguir sua vida, seus estudos e carreiras elas serão nossa companhia até que envelheçamos...e os primeiros netos venham preencher nossa vida.
Os anos se foram, as meninas já estavam com cinco anos, os rapazes formados e com uma carreira por cumprir quando numa bela tarde de inverno Layla recebeu um telefonema de Leonardo. Algum tempo depois estavam num quarto de UTI, na cama jazia uma criatura quase transparente, debilitada ao extremo que ao ver Layla se aproximar ergueu de leve uma das mãos, Layla titubeou mas caminhou até a cama e sentando-se ao seu lado segurou a gélida mão:
— Nicole... onde esteve estes anos todos?
— Layla... me ouça, eu tenho que te pedir desculpas.
— Não precisa Nicole, eu não tenho do que te desculpar...
— Por tantos anos eu te fiz mal e nem sei porque... fiz teu marido te trair, te roubei um filho e envenenei a mente dele contra ti e mesmo assim me diz que não há o que perdoar?


— A vida faz com que a gente passe, perdão é simplesmente uma etapa... as coisas passaram Nicole, não tenho raiva ou ódio de ti.
— Eu não sabia o quanto estava errada até que vi no que me transformei... perdoe-me Layla, quero ouvir isso antes de morrer.
— Eu te perdôo Nicole... eu te perdôo...
— Queria ter continuado na nossa cidadezinha, ter continuado com os nossos sonhos bobos: lembra Layla, queríamos casar com homens perfeitos e viver perto uma da outra para que nossos filhos fossem amigos?
— Nossos filhos são mais do que amigos Nicole, eles são irmãos, nosso sonho bobo se realizou nesta parte, e eu me casei com um homem maravilhoso... tu teve um filho maravilhoso e criou meu filho...
— Eu roubei teu filho e tu criou o meu, tu sacrificou teus sonhos para criar meu filho e eu te agradeci te fazendo sofrer... me perdoa...
— Te perdoei, te acalma por favor...
— Adeus minha única amiga... O rosto pendeu para o lado oposto, havia um sorriso nos lábios, o mesmo sorriso de quando eram jovens e sonhavam com um mundo melhor para elas.
Levantando-se Layla correu até os braços de Leonardo, abraçada ao marido deixou que as lágrimas lavassem seu sofrimento.
Alguns dias depois recebe uma carta com a assinatura da amiga, lendo-a teve os olhos marejados por grossas lágrimas:


— Leonardo, eu sei que no fundo a Nicole que eu conheci sempre esteve lá, presa na desgraça que viveu aquela mulher que nos odiou... agora que ela se foi eu sinto tanta dor por isso. Talvez eu poderia ter ajudado mais, se não tivesse discutido com ela na noite em que a encontrei quando vim para cá.
— As coisas não são como sonhamos que sejam Layla, se fossem eu não estaria casado contigo, mas felizmente nem todos os nossos sonhos são reais... eu queria ser um empresário rico e sem compromissos, mas tu cruzou meu caminho naquela empresa para me contrariar, eu acabei casando com uma mulher que me fez tão feliz que nem sei se devo agradecer ou se devo aproveitar cada segundo de minha vida com ela.
— Eu te amo... amo nosso cinco filhos, os cinco netos que Tonha tanto queria... tua mãe de onde for que esteja deve estar orgulhosa desta família...


E por toda a minha vida eu feri esta amiga, esqueci dos bons dias que vivemos quando éramos colegas, das brincadeiras, das loucas aventuras em que acabavamos nos envolvendo só para provocar quem não nos era de grado.
Por longos anos vivi como seu tormento, mas agora que vejo o tempo tão distante de mim não posso mais desejar mal à esta mulher que além de tudo criou o filho que eu abandonei como um animal... ou coisa pior, meu filho... se um dia ele me perdoar.
Por anos guardei este segredo, escondi o filho dela, escondi que na verdade Nicolay era meu filho, escondi que fui eu que causei toda a desgraça de sua vida, mas hoje que a morte me bate na porta eu sinto tanto medo... medo de morrer sem que possa ao menos pedir desculpas.


E o pior segredo que guardei até hoje dela, de mim mesma é que nem ao menos sei quem é o pai de Nicolay, eu criei toda aquela história de homem casado e rico para não dizer que meu filho era de ... ai Deus!!! eu era uma prostituta e nem sei quem era o pai de meu filho.
Desculpe-me Layla, tua amiga virou uma prostituta desde o primeiro dia em que chegou na cidade e te enganou com toda a história de empregada e patrão. É um segredo terrível que me atormentou por anos, mas agora sinto que estou acabada e que não posso mais mentir.
Nicolay é mais teu filho do que meu...
Me perdoa! Queria voltar no tempo e começar tudo outra vez...
Mas não dá... infelizmente o que sonhamos na adolescência não é o que viveremos no futuro. A vida não passa de uma grande loteria onde alguns perdem para que outros possam ganhar, mas que no final cada um é responsável pelo jogo que fez.

Nicole.

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